Por dentro de Hot Sauce Committee Part Two, o álbum mais cru dos Beastie Boys em anos
Por Gavin Edwards Publicado em 20/07/2011, às 19h54
Adam Horovitz, mais conhecido como Ad-Rock, recosta-se na cadeira colocada na sacada do hotel Chateau Marmont, em Los Angeles, considerando as forças antagônicas que motivam os Beastie Boys. "Pensamos em música o tempo todo e queremos gravar discos", ele diz. "E também somos muito preguiçosos. Então quando desejo e preguiça se chocam, leva algum tempo." O resultado mais novo desse atrito é Hot Sauce Committee Part Two, o oitavo álbum de estúdio do trio. O disco ficou pronto há dois anos, mas, quando Adam "MCA" Yauch descobriu que sofria de um câncer na glândula salivar e de um nódulo linfático, o lançamento foi adiado. "Foi um golpe duro", relembra Michael Diamond (o Mike D). "Tanto em termos de saber que um grande amigo e companheiro de banda foi diagnosticado com câncer quanto pela constatação de que 'Oh, então nosso disco também não vai sair. Vamos segurá-lo e ver como ficamos em seis meses'. E isso vira 12 meses."
O objetivo da banda com Hot Sauce Committee: ter vocais (The Mix-Up, de 2007, era um álbum instrumental), uma ampla variedade de sons e faixas mais curtas. "Remete à teoria de que o hip-hop consiste dos quatro compassos mais excitantes de um disco, e a técnica é ficar alternando entre dois discos", diz Diamond. Algumas das melhores faixas são trechos de jams inicialmente mais longas, como a que fecha o álbum e tem 49 segundos, "The Lisa Lisa/Full Force Routine".
Horovitz aponta que muitos rappers só colocam suas rimas sobre uma base feita por um produtor, enquanto muitas bandas têm um compositor principal. Os Beasties, entretanto, debatem coletivamente cada um dos aspectos das faixas. "Não gostamos de abrir mão do controle, então temos que fazer tudo juntos em uma sala - senão é tipo: 'Então agora você é o líder da banda'. Mesmo quando se trata apenas de uma batida." E complementa: "Não temos tantas discussões assim. Mas, na hora de almoçar, decidir leva uma eternidade". Diamond suspira. "Analisamos exaustivamente toda essa coisa de comida."
Algumas faixas vieram facilmente: "OK" surgiu simplesmente da sugestão de Diamond de fazer um rap ao estilo new wave. O primeiro single, "Make Some Noise", foi criado em cima de uma levada com Horovitz no sintetizador e Diamond na bateria. Eles se sentiram frustrados por terem adiado o registro de outras jams em fita - e, quando o fizeram, as ideias mais legais haviam perdido a espontaneidade. Por esse motivo, quando eles surgiram com a base de "Make Some Noise", tentaram não pensar demais. "Por isso soa como soa", diz Diamond. "Esse som cru, aberto."
Originalmente o álbum havia sido intitulado Hot Sauce Committee Part 1, que possivelmente teria uma continuação. Mas, depois que a doença de Yauch adiou o disco, eles perceberam que não estavam satisfeitos com o som. Então remixaram o projeto inteiro com o produtor francês Phillipe Zdar. "No fim das contas, fizemos um álbum sonoramente muito melhor", diz Diamond. Eles mudaram o título para Part Two (Parte Dois) e ainda têm músicas inéditas que podem vir a sair como a "parte um" do trabalho. "Precisamos arrematá-las", diz Diamond, vagamente.
Yauch não está presente na entrevista porque continua seu tratamento contra o câncer. "Se ele tivesse escolha, não estaria no médico", diz Diamond. "Ele adoraria ficar completamente livre dessa porra." Por causa de sua condição, os Beastie Boys não sairão em turnê tão cedo - mas Yauch escreveu e dirigiu o filme Fight for Your Right Revisited, de meia hora, que conta com Elijah Wood, Danny McBride e Seth Rogen no papel do grupo, por volta de 1986, e Will Ferrell, John C. Reilly e Jack Black como o trio do futuro. A banda é muito fã de comédias bobas, de S.O.S. - Tem um Louco Solto no Espaço a Ricky Bobby - A Toda Velocidade. "Todo mundo ficou muito empolgado com Will Ferrell tocando cowbell no vídeo", conta Horovitz, referindo-se a um lendário quadro do Saturday Night Live.
Os Beastie Boys ainda são tiradores de sarro: durante a entrevista, Diamond analisa o fedor do lixo de Nova York no verão e Horovitz o alopra por ter assistido a Um Lugar Chamado Notting Hill em um voo. Questionado sobre sua posição no mundo, Horovitz diz: "Tenho amigos incontáveis que são melhores músicos do que eu". E Diamond completa: "Ainda sinto como se fôssemos os garotos que arrumaram confusão por fazer música".
Então há uma idade em que eles estarão velhos demais para fazer o que estão fazendo? Horovitz, 44 anos, só resmunga: "Passamos da idade já faz tempo."
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