(Da esq. para a dir.) Edinho Guerreiro, Sammliz, Ivan Vanzar e Ícaro Suzuki, o Madame Saatan: pesado e apimentado - Renato Reis

Madame Saatan

Metal com toques regionais

Alex Antunes Publicado em 02/08/2007, às 12h36 - Atualizado em 11/09/2007, às 11h38

Oheavy metal costuma ser considerado um gênero agressivo. Mas, pelo sectarismo de uma boa parte do público e pelo respeito cego a certas regras, parece mais um gênero defensivo. É por isso que dar de frente com essa máquina que é o Madame Saatan, surgida numa inesperada Belém do Pará, é um espanto. Se considerarmos o carisma e a potência da cantora Sammliz, mais do que espanto, é uma deliciosa porrada na cara (com o perdão do masoquismo).

O Madame Saatan não está preocupado em frustrar as tais regrinhas - certamente, no peso, na precisão, é uma perfeita banda heavy, daquelas que beberam na fonte do hard, do metal clássico, do thrash e do hardcore: "Temos os dois pés no metal", confirma o baixista Ícaro Suzuki. A origem é bem menos ortodoxa. Sammliz e Ícaro, ambos vindos de bandas punk/hardcore, foram recrutados para fazer a trilha de um espetáculo teatral baseado no Ubu Rei, de Alfred Jarry. A peça, de 1986, é um tratado do grotesco e do bizarro, "sujo e pesado". Segundo Sammliz, "esse universo influenciou no clima das primeiras letras".

Os outros músicos - Edinho Guerreiro na guitarra e Ivan Vanzar na bateria - trouxeram influências mais recentes, como o nu e o prog metal, filtradas com doses básicas de Zeppelin e Sabbath. Acontece que Belém é uma cena à parte, com presença tanto dos ritmos rurais e indígenas brasileiros quanto do som caribenho que vem das Guianas. E é aí que o chumbo de Madame ganha uma pimentinha - de leve.

Sammliz se identifica com um certo tipo de cantora visceral - e não estamos falando de metal. "Elis Regina era uma puta roqueira", goza ela, citando ainda Billie Holiday, Janis Joplin, Rita, Cássia. A missão agora é levar essa pegada toda para as gravações do primeiro álbum, gravado com Jera Cravo e Alcyr Meireles, músicos e produtores experientes.

Qual é a fórmula que o Madame quer seguir? "Não seguimos uma, pelo contrário. O metal tem esse problema dos rótulos que aprisionam", diz Ícaro. "Acho que está tudo lá [na gravação]: as bagaças, os climas mais elaborados, as porradas, os toquinhos regionais... Estou contente com a audácia", completa Sammliz.

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