O álbum cheio de convidados e a estratégia da diva para combater vazamentos na era digital
Caryn Ganz | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 10/02/2015, às 16h01 - Atualizado em 16/08/2015, às 16h07
No final de novembro, madonna estava na África, visitando escolas construídas pela fundação beneficente Raising Malawi, criada por ela, quando ocorreu o primeiro vazamento: 40 segundos de “Rebel Heart”, uma faixa desafiadora e dançante, caíram na internet. Três semanas depois, o que parecia ser apenas um episódio isolado se tornou um desastre. Madonna estava de volta a Nova York, em 17 de dezembro, quando fãs começaram a alertá-la via Instagram de que 13 demos gravadas para seu inacabado 13º álbum, também chamadoRebel Heart, haviam sido postadas ilegalmente online e estavam se alastrando como um incêndio florestal.
Foi um vazamento inédito: um álbum praticamente inteiro chegou quatro meses antes da data planejada para o lançamento, inicialmente marcado para abril. “Ela ficou arrasada”, diz o empresário de longa data da cantora, Guy Oseary.
A reação de Madonna foi rápida e dramática: ela decidiu que completaria seis faixas e as colocaria à venda no iTunes o quanto antes. As músicas vazaram em uma terça-feira e precisariam estar online até a sexta seguinte se os fãs quisessem comprar o trabalho antes de 2015. “O prazo para lançar essas canções foi uma corrida de 50 metros”, afirma Madonna. Algumas pessoas da equipe dela imploraram para que a pós- -produção não fosse apressada, mas a artista insistiu. “O que poderíamos fazer? Você tem de lutar contra a situação”, acrescenta Oseary (em janeiro, Adi Lederman, de 38 anos, hacker suspeito de invadir os computadores de Madonna, foi preso em Israel; dias depois, em 3 de fevereiro, a suposta versão deluxe de Rebel Heart, com 25 faixas, caiu na internet).
A cantora e sua equipe trabalharam quase 72 horas sem parar para conseguir colocar tudo a tempo no iTunes. Ela só ficou sabendo às 23h30 de sexta-feira, 16 de dezembro, que as faixas acabadas realmente chegariam aos fãs antes do ano novo, mas a recompensa foi imediata: as músicas, que Madonna chamou de “presente de Natal antecipado”, dispararam para o topo das paradas da loja online em 42 países. “Os fãs são extremamente leais e sou supergrata, de verdade, por isso”, ela diz. A edição standard do álbum deverá ter 19 composições.
Madonna começou a trabalhar no sucessor de MDNA (2012) no início do ano passado. Seu foco sempre esteve em uma coisa em particular: fazer as músicas se destacarem sozinhas, mesmo se não tivessem grandes efeitos. Durante as sessões, Madonna perguntava a si mesma se conseguiria cantar cada faixa de maneira básica, apenas com o acompanhamento de um violão. “Isso faz parte do meu raciocínio ‘Armageddon’ agora”, afirma. “O mundo está mudando e, no final das contas, do que se trata? Das músicas.”
O primeiro passo foi encontrar os colaboradores certos. Durante anos, ela trabalhou com um só produtor em seus álbuns, mas esse não tem sido o caso desde Confessions on a Dance Floor (2005). Em Rebel Heart, ela novamente cantou com várias estrelas, incluindo Nicki Minaj, Chance the Rapper e Nas, frequentemente postando fotos das sessões de gravação no Instagram. “Ao compor músicas, você tem de ficar vulnerável”, ela diz. “É quase como escrever no diário diante de alguém e ler em voz alta. Algumas pessoas me deixaram à vontade e me senti conectada com elas, e ou outras pareceram muito estranhas para mim.”
Depois de aparecer em MDNA, Nicki, que faz um rap feroz em “Bitch I’m Madonna”, foi novamente uma das parceiras com quem a estrela mais se sentiu em sincronia. “Sempre que trabalhamos juntas, ela se senta comigo, escuta a música e diz ‘Fala o que essa letra significa para você’”, conta Madonna. “Ela tem um raciocínio muito metódico. Ficamos fazendo uma troca até ela acertar em cheio.”
Madonna diz que se viu atraída por Diplo, que trabalhou em algumas faixas, graças ao amor dos dois por viajar e “absorver e ver a beleza em outras culturas”. Diversos produtores em ascensão também deram contribuições essenciais, como Blood Diamonds e DJ Dahi, que trabalharam na sombria “Devil Pray”.
O maior convidado foi um dos últimos a chegar à festa: Kanye West veio quase no final das sessões para dar uma produção suja a “Illuminati”, uma faixa que brinca com uma das teorias da conspiração preferidas da internet. “As pessoas frequentemente me acusam de ser membro dos Illuminati, mas o negócio é que sei quem são os verdadeiros Illuminati e sei de onde vem a palavra”, afirma Madonna (a definição dela: cientistas, artistas e filósofos que prosperaram durante o Iluminismo). Ela diz que West amou tanto a música que ficou pulando na mesa de mixagem: “Ficamos achando que ele bateria a cabeça no teto”, relembra.
Antes da chegada dos parceiros ilustres, as primeiras sessões foram feitas com dois grupos de compositores que trabalham com Avicii, que acabaram guiando-a para caminhos temáticos diferentes: músicas sobre deixar o coração mandar e sobre seu espírito teimosamente rebelde. “Nunca penso conscientemente: ‘Quero escrever algo sobre esse assunto’. A música me leva aonde quero ir emocionalmente”, afirma Madonna. “Uma equipe tinha uma abordagem mais animada à composição, do ponto
de vista da melodia, e a outra escolheu acordes mais sombrios.”
“Muita gente canta sobre estar apaixonada e feliz ou sobre ter o coração partido e estar inconsolável”, completa a cantora. “Só que ninguém escreve sobre ter o coração partido e ficar esperançoso e triunfante depois. Esse foi meu desafio. Não queria ser a vítima.”
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