SENHORES DE RESPEITO (Da esq. para a dir.) Kirk Hammett, James Hetfield, Lars Ulrich e Robert Trujillo: o Metallica de Death Magnetic - Max Vadukul

Mais Alto, Mais Rápido, Mais Pesado

Como o Metallica superou maus hábitos, a terapia em grupo e as guerras de egos para criar seu disco mais agressivo em 20 anos

Por David Fricke Publicado em 14/10/2008, às 12h20

"Taduning and attitude" (afinação e atitude) é o que diz o cartaz grudado na porta do camarim no SKK Hall, em São Petersburgo, Rússia. Do outro lado, a atitude é ensurdecedora. Os quatro membros do Metallica - o guitarrista/ vocalista James Hetfield, o guitarrista Kirk Hammett, o baixista Robert Trujillo e o baterista Lars Ulrich - estão tocando "Harvester of Sorrow", de And Justice for All (1988), no volume máximo, em uma sala sem janelas pouco maior que um closet para guardar material de faxina, mas cheio de amplificadores e uma bateria. Hammett e Trujillo têm espaço apenas para seus cotovelos e os braços das guitarras. O microfone de Hetfield fica na frente dos bumbos. Quando ele canta, está bem na cara de Ulrich, gritando como se fosse um juiz passando uma sentença.

Mas Ulrich olhava feliz e ninguém parecia querer parar. Depois que a banda termina "Whiplash", do álbum de estréia Kill 'Em All (de 1983), a porta se abre e o tour manager Rex King entra na sala. "A gente vai começar a tocar logo?", pergunta Ulrich, apontando uma baqueta para a multidão de russos cantando impaciente. "Sete minutos", responde King. "Ok", fala Ulrich, "dá para tocar mais uma". O Metallica toca a épica "Creeping Death", de Ride the Lightning (1984), antes de entrar no palco - Ulrich precisa trocar de roupa no caminho, no corredor -, onde eles tocam essas três músicas novamente e mais 15, a maioria da primeira década thrash metal da banda, durante duas horas.

"É realmente uma das melhores horas do dia", afirma Ulrich mais tarde, falando sobre o "momento" Tuning and Attitude, "principalmente agora. As coisas estão bem doidas com este novo álbum. Há muito estresse nas três horas antes do show". Estamos no meio de julho e o nono álbum de estúdio do Metallica, Death Magnetic - o primeiro com Trujillo, que entrou em 2003 e o primeiro em uma década com um novo produtor, Rick Rubin -, sairá em dois meses. Mas o álbum, que demorou mais de dois anos para ser feito, ainda não está pronto. Rubin está supervisionando as mixagens em Los Angeles enquanto a banda está na Europa, sendo a atração principal em shows com abertura do Down e uma das novas bandas favoritas de Ulrich, o Sword, entre entrevistas com a imprensa local, ligações com Rubin e reuniões sobre o design do palco para a turnê na América do Norte.

A sala de Tuning "pode, às vezes, ser a primeira vez durante o dia em que estamos um dentro da cabeça do outro", admite Ulrich. "É a meditação pré-show, o mais perto que chegamos disso." Há uma sala dessas - ou trailer, se for um show num estádio ao ar livre - em cada parada de cada turnê do Metallica desde o final dos anos 90. Em um dia bom, o Metallica pode passar uma hora ali dentro: aquecendo com velhas músicas raramente tocadas ou fazendo covers de Thin Lizzy ou Iron Maiden. Eles também fazem jams e gravam o resultado, improvisando ritmos e linhas de guitarra que são compiladas nas "fitas de riffs", o material bruto tradicional usado nas composições. A maioria das partes rápidas e com grandes variações nas dez longas faixas de Death Magnetic - um incrível quebra-cabeças de guitarras e bases gravadas ao vivo - vieram das sessões de Tuning and Attitude.

Não havia nada disso nas primeiras turnês com o baixista Cliff Burton. "Era só beber antes de começar", lembra Hetfield com um sorriso, sentado no sofá do camarim da banda em São Petersburgo, algumas horas antes do show. "Coragem na garrafa. 'Xi, merda, vamos entrar em dez minutos? Onde está a vodca?' Glub, glub, glub." No começo dos anos 90, a banda já tinha se recuperado da morte de Burton (em 1986, em um acidente no ônibus da turnê), com um novo baixista, Jason Newsted, e o sucesso multiplatina de Metallica (1991), que vendeu 14 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Mas havia um cansaço. "Estávamos cansados um do outro", conta Hetfield. Em vez de um brinde, "era um 'A gente se vê no palco'." Mesmo agora, Hetfield fala sobre a sala de Tuning: "Precisamos disso, com certeza". São Petersburgo acaba sendo um bom exemplo do que ele quer dizer. Vinte minutos antes de começar o show, uma discussão acontece no camarim entre Hetfield e Ulrich, sobre o tamanho do set list.

Você lê esta matéria na íntegra na RS Brasil 25, outubro de 2008

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