Veja abaixo mais respostas de Marina Silva, com exclusividade neste site. Para ler um trecho da entrevista publicada em nossa edição impressa, clique aqui
Por Ricardo Franca Cruz, Pablo Miyazawa, Rodrigo Barros e Fernando Vieira
Publicado em 14/09/2010, às 12h10Leia abaixo, em tópicos, mais trechos da entrevista exclusiva com a candidata à presidência pelo PV:
Sobre o convite para concorrer às eleições 2010:
"O PV me fez um convite, e já havia um movimento na sociedade falando isso, que eu poderia sair candidata. Teve um 'movimento Marina Silva' que começou bem antes de qualquer outro. E eu mesma pedi para que não fizessem, que parassem, que eu não ia ser candidata. Eles me disseram que fariam o movimento, independente de eu querer ou não, e eles teriam o direito de tentar me convencer do contrário. O PV fez o convite, decidiu ter candidatura própria e me chamou pra me filiar, colocar a questão da sustentabilidade como eixo de atuação do partido nessas eleições de 2010. Eu resisti a conversar durante um bom tempo. Chegou um momento em que achei que já estava numa situação quase de desrespeito, porque eles fizeram uma reunião da executiva nacional e decidiram unanimemente que iriam pedir uma conversa comigo. Eu conheço o [Fernando] Gabeira há mais de 20 anos, o [Alfredo] Sirkis, o Fábio Feldman e pessoas da minha relação da época do Chico Mendes. Se fazem uma coisa dessas, eu tinha que ouvi-los, e eu decidi ouvi-los. Pedi para que fosse uma coisa não publicizada, mas numa reunião com 12 pessoas, é difícil: alguém falou e daí ganhou uma repercussão grande e comecei a considerar. Obviamente que eu não podia ficar conversando ainda [sendo] filiada do PT. Tinha que tomar uma decisão eticamente correta. Primeiro: a decisão se eu iria sair do PT. Segundo: a decisão se eu iria me filiar ao PV. E terceiro: decisão se eu iria sair candidata a presidente da República."
Sobre os governos anteriores do PSDB e do PT:
"Toda vez que a gente consegue conquistas, a tendência é integrá-las. Ao integrar essas conquistas, o que você faz com essa base integrada? Você se firma nelas para dar novos passos. É assim a trajetória da humanidade. Sim, ainda que com desafios na política econômica, o mundo está em crise, o Brasil não está livre do sabor destas ondas. Nós estamos manejando até agora, graças a Deus, graças ao Plano Real. Essa crise teve danos incomparavelmente menores do que a gente vê pelo mundo afora, mas ainda somos um país que precisa se desenvolver. Um país desenvolvido é aquele que tem moradia digna, educação, ocupação para as pessoas, entretenimento, conhecimento, tecnologia, inovação, saneamento. Um país que é capaz de não produzir só capital fixo, mas também capital humano, investindo na formação das pessoas. O maior capital de um país são os seus homens e mulheres, suas crianças e seus idosos. Então, quando tivemos esses ganhos em política social, aí sim, o presidente Lula quebrou um paradigma. Antes, se dizia que só era possível distribuir o bolo depois de crescer, e ele mostrou que é possível crescer e distribuir o bolo ao mesmo tempo. Mas ainda estamos muito longe de que todos estejam recebendo a sua fatia de bolo. Ainda temos mais de 30 milhões de pessoas que estão em situação de exclusão social. Mas em cima dessas conquistas, já temos base para nos colocarmos na direção dos novos desafios que a realidade nos coloca. E essa realidade não é só nossa, é do mundo inteiro. E o Brasil pode dar esse passo. Agora, para isso, vai precisar ter uma visão estratégica."
Sobre alianças políticas:
"Eu sempre digo que em cima de princípios e valores morais duradouros, a gente pode fazer alianças pontuais. Então, estamos todos de acordo de que não se pode colocar em risco o controle da inflação? Temos esse princípio? Baseado no quê? De que se a inflação aumentar é ruim para todo mundo, principalmente para os mais pobres. Então, em cima desse princípio, vamos trabalhando para que isso seja viabilizado. Mas como é que as coisas funcionam à vezes? 'Ah, se a inflação começar a aumentar vai ser bom, porque daí vai destrambelhar tudo e será ruim porque eles não ganhariam as próximas eleições'. Esse é um pensamento pequeno. Mas existem pessoas que não pensam assim, e a gente tem que apostar nisso. Em cima de princípios éticos, de valores morais duradouros, a gente faz acordos pontuais. A gente pode até estar junto em algumas coisas, e em outras não. Por exemplo, metaforicamente falando, você pode defender a liberação da maconha, correto? Nisso, não estamos de acordo, mas nós temos um princípio. Mesmo você defendendo, é possível a gente conversar. E têm tantas outras coisas que a gente pode fazer junto. Quem foi que disse que para caminharmos juntos temos que ser todos iguais a saco de estopa? Isso é um pensamento hegemonista que está superado. Ninguém pode diluir o sujeito. Ninguém pode homogeneizar as ideias, o pensamento, a mentalidade. Esse lugar da diferença, da alteridade, é que precisa ser preservado. E a gente tem que cada vez mais trabalhar para esse exercício também na política."