Yoko Ono, de 83 anos, fala sobre livros, suas impressões a respeito do sucesso e por que não aceita conselhos
David Browne Publicado em 16/04/2016, às 10h36
Quem são seus heróis?
Essa é fácil – meu marido, John Lennon. Foi a única pessoa que me aguentou. É difícil um homem entender o que as mulheres estão pensando. A maioria deles nem escuta. Ele era muito vanguardista nesse sentido. Mergulhou de verdade no feminismo. Perguntava: “Você pode encontrar grupos feministas para mim?” Mesmo hoje, não acho que os homens se juntem e digam “Vamos ser feministas”.
Você tem uma cidade preferida?
Amo todas as cidades em que estive, mas Liverpool é ótima. John e eu íamos para lá visitar os parentes. As pessoas ali têm um espírito
muito forte, especialmente as mulheres. Eu não diria que são da classe trabalhadora – acho que não gostariam que eu as rotulasse dessa forma –, mas têm uma mentalidade de classe trabalhadora, uma força e uma sabedoria.
Que tipo de música ainda a move?
A música indiana é incrível. A música cigana é fantástica. Toda a música do Oriente Médio é muito forte. John e eu amávamos canções folk de diferentes países – o ritmo e as harmonias são muito, muito diferentes. Não poderia responder, sabe, “Be-Bop-a-Lula”.
O que você acha que John pensaria das redes sociais?
John sentia que algo como as redes sociais surgiria. Ele já estava fazendo algo do tipo, na verdade. Quando alguém dizia algo de que ele não gostava, mandava uma carta: “Não é verdade!” Ele nunca ignorava essas comunicações.
Você segue um programa de exercícios?
Caminho. Andar é uma maneira ótima de relaxar. Sei que pode ser perigoso, mas nem penso nisso. Talvez eu seja a única. Pouquíssimas pessoas famosas caminham. Elas desapareceram. É esse tipo de mundo. Triste, não?
Qual é o melhor conselho que recebeu?
Não aceito conselhos. Minha história de vida é muito diferente, então é muito difícil para as pessoas me aconselharem. Meus pais eram muito liberais e faziam questão que eu tivesse minhas próprias opiniões. O que as outras pessoas pensam é delas e o que penso é meu. Não há razão para escutar. E, até agora, tem funcionado.
Você recebeu conselhos sobre gravar discos de uma determinada maneira?
Gravo discos da minha determinada maneira.
Qual a lembrança preferida de seu amigo David Bowie?
Ele era uma das pouquíssimas pessoas que gostavam do meu trabalho. Acho que disse algo sobre minha música na [caixa de 1992] Onobox que foi muito bonito. Na época, ninguém se importava e ele foi corajoso em dizer algo.
Que livros está lendo agora?
Normalmente leio três livros ao mesmo tempo. Um deles é As Sete Leis Espirituais do Sucesso [de Deepak Chopra]. Ele finge ser sobre o sucesso para que as pessoas digam “quero ler isso!”, mas na verdade faz uma pensata muito boa sobre como você pode ser bem-sucedido espiritualmente. Amo livros em papel. Ainda não consigo sair disso.
Já pensou em escrever uma autobiografia?
Não. Seria algo muito complicado. Fico preocupada com o fato de poder escrever algo que faça algumas pessoas se sentirem mal, embora talvez elas tenham sido más. Penso nos filhos e nas esposas e não quero magoar ninguém. Então, o livro seria bem... chato [risos].
Qual é a melhor parte do sucesso?
Bom, não sei, porque ainda não sou bem-sucedida. Não temos a paz mundial.
Essa é sua medida para o sucesso?
É uma das coisas importantes para mim.
Em novembro fará 50 anos que você conheceu John, quando ele foi à sua exposição em uma galeria em Londres. Lá havia uma lupa pela qual ele olhou e enxergou a palavra “Sim”. O que essa obra significa para você agora?
Na época, minha vida era muito difícil. Falei: “Bom, quero mudar isso”. E esse foi um letreiro que dizia “sim” em vez de “não”. Aquilo me salvou.
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