Os Segredos de Família de Paris Jackson - David LaChapelle

Os Segredos de Família de Paris Jackson

Em sua primeira grande entrevista, a filha de Michael Jackson discute o sofrimento do pai e reflete sobre como encontrar a paz depois do vício e da depressão

Brian Hiatt Publicado em 20/02/2017, às 18h18

Paris-Michael Katherine Jackson olha fixamente para um cadáver famoso. “É a Marilyn Monroe”, sussurra, diante de uma parede coberta com fotos horripilantes de autópsias. “E este é o JFK. Você nem consegue encontrar isso na internet.” Em uma tarde de quinta-feira no final de novembro, ela está percorrendo o Museu da Morte, um labirinto abarrotado de horrores com cheiro de formol em Hollywood. Não é incomum os visitantes, ao verem fotos de decapitação, filmes snuff (que mostram mortes reais) e souvenirs de assassinos em série, desmaiarem, vomitarem ou ambos, mas Paris, que saiu há pouco tempo das fases emo e gótica, parece achar tudo, de certa forma, reconfortante. É sua nona visita. “É incrível”, ela diz a caminho para o museu. “Tem uma cadeira elétrica e uma cabeça de verdade!”

Paris Jackson fez 18 anos em abril de 2016 e, dependendo do momento, pode parecer muito mais velha ou nova, depois de viver uma vida que oscilou entre blindada e agonizantemente exposta. É uma filha do século 21, com um estilo que mistura hippie e punk (hoje está vestindo uma camisa tie-dye, jeggings e tênis Converse de cano alto) e gostos musicais sem fronteiras (decorou os calçados com letras do Mötley Crüe e do Arctic Monkeys; é obcecada por Alice Cooper e pelo cantor e compositor Butch Walker; ama Nirvana e Justin Bieber também). Só que ela é, mais do que qualquer coisa, filha de Michael Jackson. “Basicamente, como pessoa, ela é quem meu pai é”, diz seu irmão mais velho, Prince Michael Jackson. “As únicas coisas diferentes são a idade e o gênero.” Paris é parecida com Michael, ele acrescenta, “em todos os seus pontos fortes, e também em quase todos os pontos fracos. É muito empolgada. Muito emotiva, a ponto de poder deixar as emoções interferirem em seu julgamento”.

Paris já acumulou, com velocidade impressionante, mais de 50 tatuagens, fazendo as primeiras escondido, quando era menor de idade. Nove delas são dedicadas a Michael, que morreu quando ela tinha 11 anos, o que tirou Paris, Prince e o irmão mais novo, Blanket, do que havia sido – como reconhecem – um mundinho enclausurado e quase idílico. “Sempre dizem que ‘o tempo cura tudo’, mas não cura”, ela afirma. “Você só se acostuma. Vivo a vida com a mentalidade de ‘ok, perdi a única coisa que já foi importante para mim’. Daí, daqui para a frente, qualquer coisa ruim que acontecer não pode ser tão ruim quanto o que já aconteceu. Então, posso aguentar.” Michael ainda aparece em seus sonhos. “Eu o sinto comigo o tempo todo.”

O Rei do Pop, que se considerava Peter Pan, gostava de chamar a única filha mulher de Tinker Bell (Fada Sininho). Ela tem as palavras “faith, trust and pixie dust” (“fé, confiança e pó de pirlimpimpim”) tatuadas perto da clavícula. Tem uma imagem da capa do álbum Dangerous no antebraço, o logo de Bad na mão e as palavras “queen of my heart” (“rainha do meu coração”) – na letra do pai, tiradas de uma carta que ele lhe escreveu – no pulso esquerdo. “Ele só me trouxe alegria”, afirma. “Por que não ter lembretes constantes de alegria?"

Paris também tem tatuagens homenageando John Lennon, David Bowie e o momentâneo rival de seu pai, Prince – além de Van Halen e, dentro do lábio, a palavra “mötley” (o namorado tatuou “crüe” no mesmo lugar). No pulso direito ela usa uma pulseira que Michael comprou na África. Ele a estava usando quando morreu e a babá de Paris tirou do pulso do cantor e deu a ela. “Ainda tem o cheiro dele”, conta.

Ela fixa os imensos olhos azuis em cada atração do museu sem hesitar, até chegar a uma seção de animais empalhados. “Não gosto desta sala”, diz, torcendo o nariz. “Meu limite são os bichos. Não consigo. Parte meu coração.” Paris se descreve como “dessensibilizada” até diante dos lembretes mais gráficos da mortalidade humana. Em junho de 2013, se afogando na depressão e no vício em drogas, ela tentou se matar aos 15 anos, cortando os pulsos e tomando 20 comprimidos de ibuprofeno. “Era só ódio de mim mesma, baixa autoestima achando que não conseguia fazer nada certo, pensando que não valia mais a pena viver.” Ela vinha se automutilando com cortes, e deu um jeito de esconder da família. Algumas tatuagens agora cobrem as cicatrizes, além do que diz serem marcas do uso de drogas. Antes disso, tinha tentado o suicídio “várias vezes”, declara, com uma risada desproporcional. “Só uma delas veio a público.”

Tendo estudado apenas em casa antes da morte do pai, Paris aceitou frequentar uma escola particular a partir da 7ª série. Não se encaixou – de maneira alguma – e começou a andar com os únicos garotos que a aceitavam, "muita gente mais velha fazendo muitas coisas malucas”, diz. “Eu fazia muita coisa que meninas de 13, 14, 15 anos não deveriam fazer. Tentei crescer rápido demais e não fui uma pessoa muito boa.” Além disso, enfrentou bullying na internet e ainda luta com os comentários cruéis online.

Houve outro trauma que ela nunca mencionou em público. Quando tinha 14 anos, um “completo estranho” muito mais velho a agrediu sexualmente. “Não quero dar detalhes demais, mas não foi uma boa experiência, foi muito difícil para mim e, na época, não contei para ninguém.”

Depois da última tentativa de suicídio, passou o primeiro ano do ensino médio e metade do segundo em uma escola terapêutica em Utah. “Foi ótimo para mim. Sou uma pessoa totalmente diferente”, afirma. Antes, ela conta com um leve sorriso, “era louca. Era realmente louca. Estava passando por muita raiva adolescente. E também lidava com minha depressão e minha ansiedade sem ajuda alguma”. O pai, revela, também lutou contra a depressão e lhe receitaram os mesmos antidepressivos que ele tomou, mas hoje ela não usa mais nenhum medicamento.

Sóbria e mais feliz do que nunca, com cigarro de menta sendo seu principal vício restante, Paris se mudou da casa da avó Katherine pouco depois de fazer 18 anos e foi para a antiga propriedade da família Jackson. Passa quase o tempo todo com o namorado, Michael Snoddy, baterista de 26 anos que toca com o grupo de percussão Street Drum Corps e cujo moicano tingido, as muitas tatuagens e as calças folgadas não escondem o fato de que é bonito e doce. “Nunca tinha conhecido ninguém que me fizesse sentir como a música me faz sentir”, Paris conta. Quando se conheceram, ele tinha uma polêmica tatuagem (agora coberta por outro desenho) da bandeira dos confederados que levantou dúvidas compreensíveis na família Jackson. “Só que quanto mais o conheci, mais vi que ele realmente é legal”, diz Prince.

Paris tentou uma faculdade comunitária depois de se formar no ensino médio – com um ano de antecedência – em 2015, mas perdeu a vontade no meio do caminho. É herdeira de uma fortuna colossal – o espólio da família Jackson provavelmente vale mais de US$ 1 bilhão, com pagamentos em fases aos filhos, mas ela quer ganhar o próprio dinheiro e, agora que é legalmente adulta, aceitar sua outra herança: a celebridade.

Afinal, sendo a linda e carismática filha de um dos homens mais famosos que já existiram, que escolha tinha? Ela é, por enquanto, modelo, atriz, uma obra em construção. Quando tem vontade, pode exibir uma postura de realeza que é quase intimidante, ao mesmo tempo que continua suficientemente tranquila para se tornar amiga de seu tatuador de cavanhaque enorme. Tem modos impecáveis – você tem a impressão de que ela foi bem criada. Encantou tanto o produtor e diretor Lee Daniels em uma reunião recente que ele começou a conversar com o empresário dela sobre um papel em seu próximo seriado na Fox, chamado Star. Ela toca alguns instrumentos, compõe e canta (mostrou para mim algumas canções ao violão e são promissoras, embora estejam mais para Laura Marling do que para Michael Jackson), mas não sabe ao certo se correrá atrás de um contrato com uma gravadora.

Ser modelo, em particular, é algo que vem naturalmente, e ela acha essa atividade terapêutica. “Tive problemas de autoestima por muito, muito tempo”, diz Paris, que entende as escolhas de cirurgia plástica do pai depois de ver trolls online dissecarem sua aparência desde que ela tinha 12 anos. “Muita gente me acha feia e muita gente não acha, mas há um momento quando estou posando em que esqueço meus problemas de autoestima e me concentro no que o fotógrafo me diz – e me sinto linda. Nesse sentido, é algo egoísta.”

Ela compartilha os impulsos do pai de salvar o mundo (“Estou realmente temerosa pela Grande Barreira de Corais. Ela está, tipo, morrendo. O planeta todo está. Pobre Terra, cara”) e vê a fama como um meio de chamar atenção para as causas em que acredita. “Nasci com essa plataforma”, afirma. “Vou desperdiçá-la e me esconder? Ou vou aumentá-la e usar para coisas mais importantes?”

O pai não teria se importado. “Se quiser ser maior do que eu, você pode”, ele dizia a Paris. “Se não quiser, também pode. Só quero que você seja feliz.”

No momento, Paris vive no estúdio particular onde o pai fez a demo de “Beat It”. Vamos a um restaurante de sushi nas proximidades e ela começa a descrever o dia a dia em Neverland. Ela passou os primeiros sete anos de sua vida no mundo de fantasia de 1.090 hectares do pai, que tinha seu próprio parque de diversões, zoológico e cinema (“Tudo o que não consegui fazer na infância”, Michael dizia). Durante essa época, não sabia que ele se chamava Michael nem tinha qualquer noção da fama dele. “Só achava que o nome dele era Pai, Papai”, conta. “Não sabíamos de fato quem ele era, mas era nosso mundo. E éramos o mundo dele.”

“Não podíamos simplesmente andar nos brinquedos sempre que queríamos”, lembra, caminhando por uma beira de estrada escura perto do condomínio de Encino. Ela gosta de andar ao longo do divisor de pistas, perto demais dos carros – isso enlouquece seu namorado, e também não gosto muito da ideia. “Na verdade, tínhamos uma vida bem normal. Tipo era escola todo dia e tínhamos de ser bons. E, se fôssemos bons, a cada dois fins de semana podíamos escolher se iríamos ao cinema ou ver os bichos, mas se você se comportasse mal não poderia fazer nada divertido.”

Em sua biografia de 2011, Jermaine, irmão de Michael, chamou o cantor de “um exemplo do que a paternidade deveria ser. Ele incutiu neles o amor que nossa mãe nos deu e, emocionalmente, foi o tipo de pai que nosso pai, apesar de não ser culpado disso, não conseguiu ser. Michael era pai e mãe”.

Michael deu aos filhos a opção de frequentarem uma escola. Eles recusaram. “Você estudava em casa e seu pai, que você amava mais que tudo, às vezes entrava no meio da aula: ‘Chega de aula por hoje. Vamos ficar com o papai’. Pensávamos: ‘Não precisamos de amigos, temos você e o Disney Channel!’” Ela era, reconhece, “uma criança estranha”.

O pai a ensinou a cozinhar basicamente pratos sulistas. “Era um cozinheiro incrível”, conta. “O frango frito dele era o melhor do mundo. Ele me ensinou a fazer torta de batata-doce.” Neste momento, Paris está assando quatro tortas, mais gumbo, para o almoço de Ação de Graças da avó Katherine – que na verdade acontece na véspera do feriado, porque Katherine é testemunha de Jeová.

Paris e Prince estão bastante cientes das dúvidas do público quanto à origem deles (o irmão caçula, Blanket, que tem a pele mais escura, é menos sujeito a especulações). A mãe de Paris é Debbie Rowe, uma enfermeira que conheceu Michael quando trabalhava para o dermatologista dele, o falecido Arnold Klein. Eles tiveram o que parece ser um casamento nada convencional de três anos, durante os quais, testemunhou Debbie, nunca moraram na mesma casa. Michael disse que ela queria ter filhos “como um presente” para ele (a enfermeira afirmou que Paris recebeu esse nome graças ao lugar onde foi concebida). Comendo camarão empanado e rolinhos de salmão, Paris aceita falar dessa questão pelo que promete ser a única vez. Poderia optar por uma resposta lógica e fácil, poderia indicar que isso não importa, que de qualquer forma Michael Jackson era seu pai. É isso que seu irmão – que se descreve como “mais objetivo” do que Paris – parece sugerir. “Toda vez que alguém me pergunta isso”, diz Prince, “pergunto: ‘Para quê? Que diferença isso faz?’ Especificamente para alguém que não está envolvido em minha vida – como isso afeta sua vida? Não muda a minha.”

Só que Paris tem certeza de que Michael Jackson era seu pai biológico. Acredita nisso com uma convicção que é comovente e, neste momento, totalmente convincente. “Ele é meu pai”, diz, olhando intensamente para mim. “Sempre será meu pai. Nunca não foi e nunca não será. Pessoas que o conheciam muito bem dizem que o veem em mim, que é quase assustador.”

“Eu me considero negra”, ela continua, acrescentando mais tarde: “[Meu pai] me olhava nos olhos, apontava o dedo para mim e dizia: ‘Você é negra. Tenha orgulho de suas raízes’. E eu pensava ‘ok, ele é meu pai, por que mentiria para mim?’ Então, acredito no que ele me falou. Porque, até onde eu saiba, nunca mentiu para mim.”

“A maioria das pessoas que não me conhece me chama de branca”, ela admite. “Tenho a pele clara, e especialmente desde que tingi o cabelo de loiro, parece que nasci na Finlândia ou algo assim.” Ressalta que não é nada incomum crianças birraciais se parecerem com ela – observando, acertadamente, que seu tom de pele e cor de olhos são parecidos com os do ator de TV Wentworth Miller, que é filho de pai negro e mãe branca.

Inicialmente, ela não teve relação alguma com Debbie Rowe. “Quando eu era muito nova, minha mãe não existia”, lembra. Um dia, percebeu que “um homem não pode parir uma criança” e, quando tinha cerca de 10 anos, perguntou a Prince: “Temos de ter uma mãe, certo?” Então, perguntou ao pai. “E ele respondeu ‘certo’. Eu quis saber: ‘Qual é o nome dela?’ Ele só respondeu ‘Debbie’. Pensei: ‘Ok, bom, já sei o nome’.” Depois da morte do pai, começou a pesquisar sobre a mãe; as duas se encontraram quando Paris tinha 13 anos.

Após o tratamento em Utah, decidiu entrar em contato de novo com Debbie. “Ela precisava de uma figura materna”, afirma Prince, que não quer comentar sobre sua relação, ou falta de uma, com a mãe (o empresário de Paris se recusou a disponibilizar Debbie para uma entrevista e ela não respondeu a nosso pedido por comentários). “Tive muitas figuras maternas”, argumenta Paris, citando a avó e as babás, entre outras, “mas quando minha mãe entrou na minha vida não era um negócio ‘mãezinha’. É mais uma relação adulta.” Ela se vê na mãe, que acabou de terminar um ciclo de quimioterapia para combater um câncer de mama. “Nós duas somos muito teimosas.”

A garota tinha cerca de 9 anos quando percebeu que boa parte do mundo não via seu pai como ela o via. “Meu pai chorava comigo à noite”, conta, sentada ao balcão de um café de Nova York em meados de dezembro. Ela começa a chorar também. “Imagina seu pai chorando para você sobre o mundo odiá-lo por algo que não fez. Para mim, ele era a única coisa que importava. Ao ver meu mundo sofrendo, comecei a odiar o mundo pelo que estavam fazendo com ele. Pensei: ‘Como as pessoas podem ser tão ruins?’” Ela faz uma pausa. “Desculpe, estou ficando emotiva.”

Paris e Prince não têm dúvida de que o pai era inocente das diversas acusações de ter molestado crianças. Mais uma vez, são persuasivos – se pudessem bater de porta em porta falando sobre isso, seriam capazes de convencer o mundo.

Sugiro levemente que o que Michael disse para ela naquelas noites era demais para uma menina de 9 anos. “Ele não tinha rodeios com a gente”, argumenta. “Você tenta dar aos filhos a melhor infância possível, mas também precisa prepará-los para o mundo de merda.”

O julgamento de Michael por abuso infantil em 2005 terminou com ele inocentado, mas destruiu sua reputação e alterou o curso da vida de sua família. Ele decidiu deixar Neverland de vez. Com os filhos, passou os quatro anos seguintes viajando pelo mundo, ficando longos períodos de tempo no interior irlandês, no Bahrein, em Las Vegas. Paris não se importava – era empolgante e seu lar era onde o pai estava.

Em 2009, Michael estava se preparando para voltar a público com uma série ambiciosa de apresentações no O2 Arena, em Londres. “Ele meio que nos deixou pilhados com aquilo”, lembra Paris. “Dizia: ‘É, vamos morar em Londres por um ano’. Estávamos superempolgados – já tínhamos uma casa para viver lá.” Só que Paris se lembra da “exaustão” dele quando os ensaios começaram. “Eu falava ‘vamos tirar um cochilo’, porque ele parecia cansado. Estávamos na escola, que era na sala de estar do andar de baixo, e víamos pó caindo do teto e ouvíamos sons de batida porque ele estava ensaiando lá em cima.”

Ela tem um desdém de longa data pela AEG Live, a empresa que promoveria a temporada de apresentações, chamada This Is It – sua família perdeu um processo por morte acidental contra a empresa, com os jurados aceitando o argumento da AEG de que Michael foi responsável pela própria morte. “A AEG Live não trata bem seus artistas”, alega. “Ela os esgota e os faz trabalhar até morrer” (um representante da AEG não quis comentar). Paris descreve ver Justin Bieber em uma turnê recente e ficar “temerosa” por ele. “Estava cansado, fazendo tudo no automático. Olhei para meu ingresso, vi AEG Live e pensei em como meu pai ficava exausto o tempo inteiro, mas não conseguia dormir.”

Ela culpa o médico Conrad Murray – que foi condenado por homicídio culposo – pela dependência do anestésico propofol desenvolvida por Michael (foi o medicamento que o matou). Ela o chama de “doutor”, com aspas irônicas, mas tem suspeitas mais sombrias sobre a morte do pai. “Ele dava dicas sobre pessoas que queriam pegá-lo”, afirma. “A certa altura, dizia: ‘Vão me matar um dia’” (Lisa Marie Presley falou à apresentadora Oprah Winfrey sobre uma conversa parecida com Michael, que expressava temer que determinadas pessoas estavam de olho nele para abocanhar sua metade do catálogo de publicação de músicas da Sony/ATV, que valia centenas de milhões de dólares).

Ela está convencida de que o pai foi, de alguma forma, assassinado. “Com certeza”, diz. “Porque é óbvio. Todos os sinais apontam para isso. Parece uma teoria da conspiração e bobagem, mas todos os fãs verdadeiros e todos na família sabem. Foi uma armação.”

Quem teria desejado Michael Jackson morto? Paris faz uma pausa de vários segundos, talvez considerando uma resposta específica, mas apenas responde: “Muita gente”. Ela quer vingança, ou, pelo menos, justiça. “Claro”, diz, com os olhos brilhando. “Quero sim, mas é um jogo de xadrez. E estou tentando jogar do jeito certo. É só isso que posso dizer sobre o assunto no momento.”

Michael fez os filhos usarem máscara em público, um gesto protetor que Paris considerou “estúpido”, mas mais tarde acabou entendendo. Então, o espanto foi grande quando uma garotinha espontaneamente corajosa se aproximou do microfone no velório do pai, transmitido pela TV, em 7 de julho de 2009, e disse: “Desde que nasci, meu pai foi o melhor pai que se pode imaginar, e só queria dizer que o amo muito”.

Ela tinha 11 anos, mas sabia o que estava fazendo. “Sabia que depois muita gente falaria merda, o questionaria sobre o modo como nos criou. Foi a primeira vez que o defendi em público e com certeza não será a última”, conta Paris. Para Prince, a irmã mostrou naquele momento que tinha “mais força do que qualquer um de nós”.

No dia seguinte à ida Museu da Morte, Paris, Michael Snoddy e Tom Hamilton, seu empresário bonitão de 31 anos e coque na cabeça, vão para Venice Beach. Caminhamos pelo calçadão e Snoddy conta sobre um breve período como artista de rua aqui quando se mudou para Los Angeles, batucando em baldes. “Não era ruim”, afirma. “Eu ganhava em média 100 paus por dia.”

Paris prendeu o megahair em um rabo de cavalo. Seu humor não está bom hoje. Ela não fala muito e fica agarrada a Snoddy. Vamos em direção ao canal, repleto de casas ultramodernas que Paris não curte. “São retas e burguesas demais”, define. Fica encantada ao ver um grupo de patos. “Oi, amigos! Venham brincar conosco!”, grita. Entre eles há o que parecem ser duas aves apaixonadas, nadando pela água rasa juntas. Paris suspira e aperta a mão de Snoddy. “Metas. Hashtag ‘metas’.”

O humor dela está melhorando e voltamos em direção à praia para ver o pôr do sol. Paris e Snoddy sobem em uma barreira de concreto que dá vista para o espetáculo laranja e rosa. É um momento tranquilo, até uma mulher de meia-idade usando roupas de corrida fosforescentes e meias na altura dos joelhos se aproximar. Ela sorri para o casal enquanto aperta um botão em uma espécie de aparelho de som minúsculo preso à cintura, tocando um trance que parece datado. Paris ri e olha para o namorado. Enquanto o som desaparece, eles começam a dançar.

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Michael Jackson mostrou a Paris todo tipo concebível de gênero musical. “Meu pai trabalhou com o Van Halen, então comecei a gostar de Van Halen”, ela explica. “Trabalhou com o Slash, então comecei a curtir Guns N’ Roses. Ele me apresentou a Tchaikovsky e Debussy, Earth, Wind and Fire, Temptations, Tupac, Run-DMC.”

Ela diz que Michael enfatizava a tolerância. “Ele me criou em uma casa com uma cabeça muito aberta”, diz. “Eu tinha 8 anos, estava apaixonada por esta mulher na capa de uma revista. Em vez de gritar comigo, como a maioria dos pais homofóbicos, ele zoou comigo, tipo ‘ah, você tem namorada’.” “O foco principal dele para nós, além de nos amar, era a educação”, continua Paris. “E ele não era tipo ‘ah, sim, o poderoso Colombo chegou a esta terra!’ Estava mais para ‘Não. Ele dizimou os nativos, porra’.” Ele realmente falava desse jeito? “A boca dele era um pouco suja, sim. Xingava como um caminhoneiro, mas também era muito tímido.”

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