Vocalista dos Rolling Stones mergulhou na vida de James Brown para produzir filmes
David Fricke |Tradução: Lígia Fonseca Publicado em 13/01/2015, às 20h48 - Atualizado em 14/01/2015, às 13h29
"Alguém me falou recentemente: ‘Não sabia que você gostava de tudo isso’”, conta um espantado Mick Jagger enquanto explica seu recente mergulho na vida e na música de James Brown. Ele trabalhou como produtor da cinebiografia que leva o nome do astro do soul (prevista para estrear em fevereiro no Brasil) e do documentário Mr. Dynamite: The Rise of James Brown (sem previsão de lançamento por aqui), da HBO. “Nós escutávamos tudo de música soul”, ele conta sobre os Rolling Stones. “Fazíamos covers de Solomon Burke. Não ouvíamos só Chuck Berry e Muddy Waters.” Em Mr. Dynamite, Jagger – também entrevistado no filme – relembra quando viu Brown se apresentar no Apollo Theater, em Nova York, nos anos 1960, e ficou “tentando roubar tudo o que conseguisse”.
O que você realmente “roubou” de Brown depois de vê-lo no Apollo?
O negócio todo em que ele fica apoiado em uma perna. Eu costumava fazer isso. Tentei fazer o truque do microfone [em que Brown derrubava o pedestal no chão e o levantava com o sapato]. Basicamente, ele reforçou o que aprendi com Little Richard – interagir com o público, chamado e resposta. Os Rolling Stones não são um grupo de soul, mas lembro que falei para a banda: “Talvez devêssemos fazer o que eles fazem”. Uma apresentação de soul não para. Nunca há pausas para tomar algo [risos]. Desistimos dessa
parte rapidinho.
Em Mr. Dynamite, há uma foto sua com Brown durante a gravação de The T.A.M.I. Show (1964), no qual os Stones tocaram depois dele. Sobre o que vocês conversaram?
Alguém me pediu para acalmá-lo um pouco sobre o fato de os Stones fecharem o show. Acho que não nos ligávamos de entrar depois de James Brown. Ficamos só batendo papo. Ele era muito simpático comigo, muito fácil de conversar. Se você pensar nisso do ponto de vista dele, quem diabos eu era?
A cena do T.A.M.I. Show no filme James Brown termina com ele saindo do palco depois da apresentação, indo até os Stones e dizendo: “Bem-vindos à América”. Ele realmente falou isso?
Nunca aconteceu. [O diretor] Tate Taylor não queria filmar da forma que desejávamos. Eu preferia que fosse mais como a vida real, mas é um filme. A mensagem foi transmitida. Tenho certeza de que o empresário de James nunca disse: “Ah, eles acabarão em um ano e ninguém saberá mais deles”, mas é algo irônico. E engraçado. O que é mais fácil: produzir filmes ou colocar os Stones na estrada? Ambos têm semelhanças, mas você sabe o que é uma turnê dos Rolling Stones. O filme é uma coisa única que você nunca mais fará novamente, e começa do zero. Uma coisa que não tenho muito na minha outra profissão é que há uma parte literária em fazer filmes. Você começa com uma ideia, mas o essencial é um bom roteiro.
Como você descreveria o estado dos Stones fazendo shows hoje em dia?
Os shows recentes na Europa foram muito bons. Foram apresentações grandes ao ar livre, com uma atmosfera de festival. A banda é boa em qualquer tipo de lugar, mas realmente brilha nessas situações. Gostei de fazer “Worried About You” [do disco Tattoo You, de 1981]. Tocamos “Streets of Love” [de A Bigger Bang, de 2005] na Itália. Foi um grande sucesso lá e o público amou. É bem interessante agora. As pessoas votam online nas músicas que querem, o que nos dá um desafio. E você consegue ver o que elas compram no iTunes e veem no YouTube – “Não sabia que gostavam desta, deveríamos tentar”.
Há músicas que surgem na votação e você pensa: “Não me lembro dessa aqui”?
[Risos] Eu não incluo na votação coisas que sei que não poderíamos fazer, mas é bom variar. Você precisa sempre continuar interessado.
Existem planos para mais reedições de luxo dos discos da banda, além de Exile on Main St. [1972] e Some Girls [1978]? Ainda tem Sticky Fingers [1971] e Tattoo You para fazer.
Acho que Sticky Fingers será o próximo. Não sei o quanto existe ali em termos de outras músicas ou versões. Parte do que foi feito na época se tornou Exile on Main St., mas não mergulhei nele. Acho que tenho de fazer isso
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