Tem Pearl Jam, Lauryn Hill, Neil Young, Jay-Z, Nirvana, Alicia Keys, Eric Clapton...
Andy Greene Publicado em 08/09/2017, às 21h00 - Atualizado às 21h22
Para quem viveu os anos 1990, o Unplugged da MTV norte-americana foi a série que marcou por trazer grandes artistas mostrando versões acústicas das próprias músicas. O programa deu nova vida a veteranos como Eric Clapton e Rod Stewart e permitiu a novas bandas como o Pearl Jam e o Nirvana a chance de retrabalhar o catálogo e oferecer surpresas aos fãs.
Antes que os comentaristas de internet enlouqueçam, para esta lista, estamos excluindo performances de grupos como Eagles e Page & Plant que meramente usaram o nome Unplugged – ou variações disso – para shows acústicos dissociados da MTV. E até os fãs de Bruce Springsteen devem reconhecer que Plugged não foi exatamente o melhor momento dele.
Por Andy Greene
O Unplugged não foi o último show do Nirvana. Uma semana depois, eles continuaram com a turnê de In Utero pelos Estados Unidos e ainda foram à Europa por dois meses e mais alguns shows. Mas, de certa forma, este show carrega a sensação de ter sido a última declaração da banda ao mundo. A atmosfera era sombria antes mesmo de eles subirem ao palco, já que Kurt Cobain insistiu que o local parecesse um funeral, com lírios e velas pretas. Acompanhado pelo guitarrista de turnês Pat Smear, e o pelo violoncelista Lori Goldston, o grupo deixou de lado quase todos os hits próprios para fazer covers como “The Man Who Sold the World”, de David Bowie, e “Jesus Wants Me for a Sunbeam”, do Vaselines, além de nada menos que três músicas do Meat Puppets, em performances com presença de Cris e Curt Kirkwood. Perto do começo, Kurt entregou uma versão funesta de “Come as You Are”, repetindo a frase: “no, I don’t have a gun” com a voz rouca, um momento que seria muito difícil de assistir devido aos eventos que aconteceram depois. O show chega ao fim com “All Apologies” e uma cover de “In the Pines”’, de Lead Belly, renomeada pela banda como “Where Did You Sleep Last Night”. É difícil pensar em um encerramento mais poderoso que este de algum show em todos os anos 1990, ou talvez em toda a história do rock and roll.
O Pearl Jam estava só começando a ganhar destaque nacionalmente quando eles fizeram o especial Unplugged no Kaufman Astoria Studios, no Queens, em 16 de março de 1992. “Nós literalmente descemos do avião vindos da [turnê na] Europa, passamos o dia inteiro em um estúdio cavernoso em Nova York e fizemos o show à noite”, disse o baixista, Jeff Ament. “É bastante poderoso, e Eddie está cantando muito. É meio ingênuo, o que é ótimo”. O grupo depois disse que queria ter tido mais tempo para trabalhar em um set inteiro de músicas completamente rearranjadas, como o Nirvana faria no ano seguinte, no entanto, a performance deles se manteve como uma boa amostra de uma banda começando a contemplar o potencial e a abrangência incrível que eles viriam a ter.
Meses depois de lançar The Blueprint, Jay-Z protagonizou o especial Unplugged nos estúdios da MTV em Nova York. Ele ter envolvido o Roots como banda de apoio foi crucial para todo o show. Eles trouxeram uma energia admirável a músicas como “Big Pimpin'”, “Can I get A …” e “Hard Knock Life”, reinventando-as desde a essência. Mary J. Blige apareceu em “Can't Knock the Hustle” e Pharrell se juntou ao rapper para “I Just Wanna Love U (Give It Me)”. Foi uma maneira completamente nova de apreciar o catálogo de Jay-Z, e ele deu um exemplo definitivo de que qualquer gênero musical pode funcionar no formato acústico, são necessários apenas um grupo de acompanhamento e os arranjos corretos.
O Alice in Chains não fez um único show nos dois anos e meio que antecederam a apresentação no Academy of Music, no Brooklyn, em 10 de abril de 1995. O vício pesado em heroína do vocalista Layne Staley tornou impossível a promoção do disco autointitulado da banda, de 1995, mas nesta noite ele estava disposto a esquecer os problemas e se liberar pela música, entregando versões acústicas inesquecíveis de “Rooster”, “Down in a Hole”, “Over Now” e outros clássicos. Curiosamente, foi o guitarrista Jerry Cantrell quem estava tendo problemas para fazer o show, pois ele havia comido alguns cachorro-quentes estragados no dia e estava lidando com uma desagradável intoxicação alimentar. Naquele ano, Alice in Chains fez alguns shows de abertura na turnê de reunião do Kiss, mas o Unplugged foi o último grande momento da banda com Staley.
A balada lúgubre de Eric Clapton, “Tears in Heaven” – inspirada pela trágica morte do filho dele de quatro anos, Conor – apareceu pela primeira vez na trilha sonora do praticamente esquecido filme de Jennifer Jason Leigh, Rush – Uma Viagem ao Inferno, de 1991. Mas a versão mais lembrada da faixa foi gravada exatamente no MTV Unplugged. A morte do filho deixou o guitarrista em um estado mental fragilizado (de maneira entendível), mas ele despejou toda a dor na música e criou um show que acabou vendendo milhões quando saiu em CD. Além de “Tears in Heaven”, uma reinvenção radical de “Layla”, de Derek and the Domino, também ajudou no sucesso. E aqui está a razão pela qual este show não está mais bem posicionado nesta lista: graças a ele, Clapton teve que reviver a versão de “Layla” incontáveis vezes durante os últimos 25 anos. Ela é boa em um show acústico, mas em um show regular nós queremos ouvir a versão original, elétrica, de “Layla”, não aquilo.
Nos primeiros dias de Unplugged, todo episódio do programa contava com diversos artistas, com shows como Great White e Damn Yankees, Sinéad O'Connor e Church, Ratt e Vixen. A mais bem sucedida destas empreitadas foi este episódio intitulado como Yo! Unplugged Rap, que reuniu LL Cool J, MC Lyte, A Tribe Called Quest e De La Soul. Foi a primeira tentativa da MTV em levar hip-hop ao universo acústico, e foi um grande sucesso. O ponto alto foi LL Cool J em “Mama Said Knock You Out”, ensinando a todas as crianças norte-americanas a nunca usaram aquele desodorante branco que marca quando tocarem sem camisa em rede nacional. “As pessoas me falaram sobre os desodorantes por anos, mas eu os amo”, ele disse em 2010. “Aquilo foi bruto! Nojento! Pelo menos vocês sabiam que eu não estava fedendo.”
Em torno do verão de 1992, Mariah Carey lançou dois álbuns que foram sucessos de vendas, mas ela não os tinha promovido com muito shows e havia uma sensação no ar de que talvez ela fosse apenas uma criação de estúdio que não corresponderia no palco. Para acabar de vez com essa sensação, a gravadora dela agendou um Unplugged no estúdio Kaufman Astoria, no Queens. O show teve hits como “Vision of Love” e “Emotions”, além de uma cover de ‘I'll Be There”, do Jackson Five, que ela canttou em dueto com o vocalista de apoio, Trey Lorenz. O especial fez tanto sucesso que a MTV o reproduziu por anos na programação, e a rádio abraçou a versão de “I'll Be There”. Lorenz continua sendo uma peça essencial na banda que a acompanha nos shows até hoje e eles continuam cantando “I'll Be There” juntos.
Menos de um ano depois do suicídio de Kurt Cobain, Courtney Love e a banda dela fizeram o show acústico para promover o álbum Live Through This. Foi uma escolha ousada, uma vez que inevitavelmente renderia comparações com o set do marido dela, que já havia se tornado lendário, mas Courtney não apenas entregou versões incríveis de “Doll Parts” e “Miss World”, como fez uma cover de “Hungry Like the Wolf”, de Duran Duran, com reverência surpreendente. Ela também desenterrou um outtake do Nirvana, “You Know You’re Right”, ainda que tenha mudado a letra para “You’ve Got No Right”. Pode não ter batido a versão do Nirvana que eventualmente foi lançada, mas assistir à viúva de Cobain tentando lutar contra uma perda inimaginável no palco, na frente de todo mundo, foi muito emocionante.
Não houve muitos bons Unplugged nos anos 2000, com anos sem sequer um episódio novo. Mas, em 2005, Alicia Keys ajudou a trazer a série de volta com um show estonteante no Brooklyn Academy of Music. Ela tinha só dois álbuns rendendo músicas àquela altura, então chamou Adam Levine para dividir os microfones em “Wild Horses”, dos Rolling Stones, e Mos Def, Common e Damian Marley em “Welcome to Jamrock”. O que ninguém sabia na época era que Alicia quase conseguiu levar Bruce Springsteen para cantar o clássico de 1973, “New York City Serenade”, com ela. “Eu ia chorar”, ela disse. “Deu um conflito de agendas”. Foi uma grande pena. Se eles tivessem conseguido cantar juntos, teria sido um dos grandes momentos na história do Unplugged.
Neil Young estava tocando shows acústicos muito antes de a MTV sonhar com o conceito, então ele deve ter se adaptado sem nenhuma dificuldade. Mas a tentativa inicial de fazer um episódio oficial do Unplugged no Ed Sullivan Theater, em Nova York, em dezembro de 1992, foi um completo fiasco. Apesar de reunir o Stray Gators, banda dos discos Harvest e Harvest Moon, ele simplesmente não estava contente com a performance, saiu andando do show e foi até a rua, deixando produtores e público perplexos. Ele voltou e ainda agraciou a plateia com a primeira performance de “Last Trip to Tulsa” em 16 anos, mas odiou a apresentação e se recusou a lançá-la. Dois meses depois, eles tentaram novamente no Universal Studios, em Los Angeles. Foi um setlist completamente diferente, incluindo a super lado B “Stringman” e uma devastadora performance solo de “Like a Hurricane” em um órgão de bomba. Ele deixou a MTV transmitir este.
Fazia três longos anos que Lauryn Hill havia lançado o disco de estreia, The Miseducation of Lauryn Hill, quando ela subiu ao palco do MTV Unplugged. Ela tinha toneladas de novas músicas, mas estava apenas aprendendo a tocar violão e claramente inadequada para apresentá-las ao público. “Qualquer um com ouvidos pode perceber que há apenas três acordes sendo tocados em todas as músicas”, um executivo anônimo da indústria da música disse à Rolling Stone EUA em 2003. Mas com a gravadora desesperada por qualquer tipo de nova música de Lauryn Hill, eles lançaram o show como um álbum duplo. “Fosse um artista menor, aquilo nunca teria sido lançado”, disse um insider da indústria. No entanto, quase duas décadas depois, a sensação é completamente, especialmente porque que não houve nenhum tipo de sequência para aquilo. É uma artista batalhando contra os problemas na garganta, o peso da expectativa da indústria e a própria fragilidade. Colocar tudo isso para o público ver foi um ato incrível de coragem e rendeu o mais singularmente grosseiro Unplugged a ver a luz do dia em todos os tempos.
Depois de ficar uma década longe dos palcos, Paul McCartney saiu em uma longa turnê em 1989 que o levou a estádios de todo o mundo. Mas aqueles eram shows imensos, nada pessoais, e no começo de 1991 ele estava pronto para fazer algo completamente diferente. O Unplugged foi uma oportunidade perfeita para fazer isso. Ele abraçou profundamente o conceito, usando instrumentos completamente acústicos – sem nenhum tipo de truque. O show intimista fugiu dos hits óbvio para dar espaço a covers como “Good Rockin' Tonight” e “Blue Moon of Kentucky”, misturadas com músicas menos conhecidas do catálogo solo dele, como “Every Night” e “That Would Be Something”. O destaque, contudo, foi uma versão surpreendentemente tenra de “And I Love Her”, que permanece como o registro definitivo da música excetuando-se a original, dos Beatles.
O Oasis estava de cabeça na turnê do disco (What's the Story) Morning Glory? quando eles concordaram em gravar um MTV Unplugged no Royal Festival Hall, em Londres. Foi uma rara chance de ver o grupo fora de um estádio ou de um festival gigante, mas logo antes da hora da apresentação, Liam Gallagher pulou fora devido à “garganta inflamada”. A maioria das bandas nunca sonharia em fazer um show sem o vocalista principal, mas o irmão de Liam, Noel Gallagher, decidiu simplesmente fazer todos os vocais. Afinal, foi ele quem compôs todas as músicas e ele era também um bom cantor. Tornando a noite ainda mais surreal, Liam decidiu sentar-se na plateia e provocou o próprio irmão durante o show. Nunca mais houve nada parecido com isso na história do rock. E foi provavelmente a primeira vez que Noel percebeu que poderia fazer tudo sozinho.
O Kiss estava em um ponto baixo da carreira quando a ideia de fazer um especial acústico foi considerada, em 1995. Eles já tinham tocado sets no formato em convenções com os próprios fãs e, depois de ver Eric Clapton e Rod Stewart reviverem as carreiras com o Unplugged, parecia uma ideia muito boa. A MTV insistiu em ter os integrantes originais, Peter Criss na bateria e Ace Frehley na guitarra, para tornar o evento digno de notícias, e Paul Stanley e Gene Simmons concordaram com a condição sem titubear. Eles apareceram apenas para o bis, com “Beth”, “Nothin’ to Lose” e “Rock and Roll All Nite”, só que, uma vez que aquilo aconteceu, não houve mais volta para o antigo Kiss. Aquilo foi o começo da grande turnê de reunião do ano seguinte – além de tantas outras turnês que viriam a acontecer.
Os números chocantes de vendas de Eric Clapton Unplugged fizeram com que diversos outros veteranos pegassem o telefone e ligassem para a MTV agendando especiais. Rod Stewart estava tão disposto que não apenas convocou Ron Wood, antigo companheiro de Faces e Jeff Beck Group, como também cuidadosamente escolheu algumas das melhores covers da carreira, incluindo “Have I Told You Lately” e “Reason to Believe”. Aquilo lembrou a muitos fãs antigos de Rod Stewart o porquê de eles o amarem tanto e se tornou um dos discos mais bem vendidos dele em anos. “Reason to Believe” estourou na rádio e deu um fôlego à carreira dele.
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