Grafi te feito por Smoky na cidade de Quebec, no Canadá. “Quando eu achei aquela parede, pedi na hora para pintar. Fiz livremente e sem pressa - Arquivo Pessoal/Bruno Smoky

Muros com Mensagem

Estabelecido no Canadá, brasileiro Bruno Smoky investe em arte urbana com engajamento social

Lucas Brêda Publicado em 17/07/2016, às 00h18 - Atualizado em 17/01/2017, às 18h22

O paulistano do bairro brasilândia Bruno Smoky atualmente mora em Toronto, no Canadá, e pode dizer que atingiu um patamar confortável trabalhando com a arte de rua. Hoje, faz majoritariamente obras por encomenda e está longe do perigo e da adrenalina, espalhando seu traço lúdico e de cores vibrantes nas ruas do Hemisfério Norte. Mas nem sempre foi assim. “Uma vez, eu e um amigo estávamos em Pirituba [São Paulo] fazendo grafite em uma linha de trem onde tem umas favelas. De repente, a polícia veio para cima com arma na mão e do nada uma pessoa da comunidade começou a atirar neles para podermos terminar o trabalho. Porque estávamos adicionando cores à paisagem deles!”, lembra o artista com entusiasmo, rememorando o tempo em que ainda morava na capital paulista e dava os primeiros passos na carreira.

Smoky foi parar no Canadá (onde mora com a esposa, a artista local Shalak Attack) depois de rodar o mundo. “Conheci minha mulher no Rio de Janeiro, em 2010”, conta. “Começamos a ficar e era muito difícil ir ao Canadá, então passamos a viajar para lugares como República Dominicana, Chile, Argentina e Paraguai, antes de irmos para Toronto.” Do caráter itinerante do relacionamento artístico e pessoal surgiu o nome Clandestinos, com o qual eles assinam obras em conjunto. O encontro com Shalak foi definidor para o brasileiro, que diz ter desenvolvido o estilo de cores fortes ao lado da companheira. “Ela me influenciou bastante”, admite. “Eu tinha uns 17 anos, estava na época de treinar cores e ver o que eu queria. Gosto de misturar o acinzentado com o fluorescente”, analisa Smoky, fazendo referência ao aspecto mais comentado da produção dele.

Smoky começou a pintar ainda criança– “brincava sozinho, fantasiando” –, mas desenvolveu o estilo urbano e politicamente engajado nas ruas da maior cidade brasileira. “Comecei a fazer pichação com marcadores, canetões e giz de cera”, relembra o artista, já com dificuldades de falar algumas palavras em português. “Tinha um grupo de amigos que saía para vandalizar, procurar o que fazer. E eu era meio punk, contra o sistema, refletia sobre a manipulação no ser humano.” Recentemente, Smoky fez um trabalho para os Jogos Pan Americanos de 2015, em Toronto – um grande mural inspirado pela cultura LGBT – e chegou a sofrer tentativa de censura ao “denunciar o que estão fazendo com o mundo” em outro painel local, com temática ecológica. “Sinto que tenho que falar algo”, explica. “Está tudo tão falso: governo maquiando cidade para fazer evento, colocando cloro para fingir que a água está limpa. Temos que mostrar a realidade. Entrei no grafite porque gostava de fazer personagens. E eu gosto disso, de contar histórias e comunicar.”

Liberdade para Todos

Smoky fez um mural para apoiar a libertação da orca Lolita e ganhou a admiração de Pamela Anderson

Uma das maiores atrações do Aquário de Miami é a orca Lolita. Capturada nos anos 1970, ela faz acrobacias e piruetas em apresentações regulares há mais de 40 anos. Há muito tempo ativistas e artistas, como a atriz Pamela Anderson, lutam pela libertação do animal e, em dezembro do ano passado, o prefeito de Miami Beach, Philip Levine, convocou o Clandestinos para ilustrar um muro na cidade promovendo a ideia da soltura da baleia. “O muro é do prédio do prefeito, ele é favorável à libertação”, contaSmoky. “A fizemos com asas, podendo voar, carregando a casa em cima das costas.” A obra rendeu um post no Instagram de Pamela.

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