Mostrando fé religiosa no poder dos sons, SÍNTESE se destaca como uma das grandes novidades do hip-hop
Lucas Brêda Publicado em 22/02/2017, às 14h40 - Atualizado em 23/02/2017, às 16h16
Com Neto, não há assunto que seja banal. “Quero falar para as pessoas que estão se preocupando em respeitar a vida”, diz a mente por trás do nome Síntese, novo destaque do hip-hop brasileiro, em um papo matutino ao telefone. Começar uma conversa com Neto é como iniciar uma audição do segundo disco dele, Trilha para o Desencanto da Ilusão, Vol. 1: Amem (2016): é preciso abandonar o mundo profano para escutar de fato.
O trabalho – segundo na discografia, mas o “primeiro de verdade” do projeto, segundo afirma –, tem permitido que Síntese conquiste um merecido espaço. O álbum anterior, o duplo Sem Cortesia, saiu em 2012, como uma coleção de faixas lo-fi e sentimentais, quando o Síntese ainda era um duo formado por Neto e o amigo Leonardo Iran, o Léo. O LP foi o produto final deles. “Foi muita descoberta e pouca idade”, explica Neto, que abandonou a música na ocasião. “Era tudo muito íntimo, uma terapia. A gente se curando, se entendendo. Decidimos só soltar [o disco] e parar. Queríamos purificar mente e alma depois de uma fase difícil, virar franciscanos para ver se isso nos iluminaria.”
Em 2012, contudo, a união de batidas rústicas – de conotação vintage, resultado das experimentações de Neto no aplicativo Fruity Loops Studio – e poesias compassivas de Sem Cortesia despretensiosamente começou a fazer a cabeça de muita gente. “Estávamos montando em nossos pensamentos como se fossem um touro”, analisa. O álbum nem teve show de divulgação e, seis meses depois, Neto “tomou coragem” e retornou, sozinho, como Síntese.
Antes de Amem, ele chegou a trabalhar com o Projetonave e participou da faixa “Plano de Voo”, do Criolo, que ele já conhecia da cena hip-hop na cidade natal dele, São José dos Campos. “O [produtor Daniel] Ganjaman disse: ‘Manda seu telefone que o Criolo quer falar com você’. Fui no outro dia a São Paulo, ouvi a música, escrevemos e gravamos na hora.” Síntese ainda cantou a faixa em shows do Criolo na turnê do disco Convoque Seu Buda (2014), o que garantiu mais visibilidade. “Todo mundo viu que eu era alguma coisa”, lembra. “Se o louco dos loucos [Criolo] falou que é isso [tudo] mesmo...”
Ganjaman também trabalhou em Amem, tratando as faixas – “caseiras”, ainda que mais rebuscadas, produzidas por Neto – e recrutando nomes como Thiago França (sopro) e Guilherme Held (guitarra). O som ganhou em melodia, sem se render a tendências, e passou a ter os anteriormente renegados refrãos. Amem saiu como um convite para a elevação espiritual e a busca por liberdade e autoconhecimento. “Queria fazer um disco que fosse meu pronunciamento oficial à humanidade”, define. “É música sagrada.”
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