Retromania em alta: antigas experiências ajudam o “vale a pena ver de novo” a dominar a programação da TV
Carina Martins Publicado em 09/09/2011, às 13h06 - Atualizado em 07/11/2011, às 13h29
Naquele tempo, sim, é que era bom. Os Beatles eram quatro e Os Trapalhões também. E mistério de novela sobre “quem matou?” era algo muito maior que enquete de internet e uma noite liderando os trending topics do Twitter. O original, o primeiro do gênero, foi motivo de parar o país – “Quem matou Salomão Hayala?”, célebre pergunta de O Astro, de 1977, repetida agora na versão de 2011. Pergunta repetida este ano, aliás, também é coisa velha: o mistério sobre quem matou Odete Roitman, outro clássico da teledramaturgia e da nostalgia, voltou por meio de uma reprise de sucesso.
A beatlemania, Os Trapalhões com Mussum e Zacarias e as novelas de Janete Clair – quem viu garante: não tem coisa igual. Natural, portanto, que quem não viu inveje. E, com tanta oferta de canal e horário, por que não ver de novo? “As reapresentações mexem com a memória afetiva do público brasileiro”, diz Letícia Muhana, diretora do Viva, canal pago que passa exclusivamente reprises de programas da Globo e que, em pouco mais de um ano, é terceiro em audiência de seu segmento – chegando a liderar em transmissões como a recente reprise de Vale Tudo.
“Proporcionamos a essas pessoas – uma parcela imensa da nossa audiência – a oportunidade de assistir a obras clássicas da televisão com o mesmo entusiasmo de familiares e amigos que vivenciaram os sucessos em outras épocas. São gerações que cresceram ouvindo falar desses clássicos e agora têm essa oportunidade.”
Chamar de “o mesmo entusiasmo” talvez seja exagero – afinal, o anacronismo é inevitável. Mas, sem dúvida, há entusiasmo. Reprises mais antológicas têm movimentado não só os números da TV paga, mas também as já naturalmente entusiasmadas redes sociais e os igualmente empolgados jornalistas especializados. Mas o anacronismo inevitável na reprise mais empolgante pode ser totalmente eliminado pelas adaptações – sem abrir mão do poder de atração do título clássico. Isso explica as movimentações recentes das emissoras. Depois de já ter exibido quatro vezes a versão mexicana da novela Carrossel (que – uma curiosidade – já era um remake), o SBT prepara agora sua própria recriação da saga infantil. Na Globo, o autor Silvio de Abreu prepara um remake de Guerra dos Sexos – novela escrita por ele mesmo há quase 30 anos. Sem falar na atual versão de O Astro, assinada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, e para a qual eles preferem a definição (por si só também um tanto anos 90) de “releitura”, já que estão reescrevendo a trama completamente.
“A dificuldade é fazer os espectadores imaginarem que estão assistindo a algo parecido com a obra anterior, mesmo que você tenha sido obrigado a mudá-la de fio a pavio”, teoriza Carneiro. “Na maior parte das adaptações, você tem que reinventar tudo para que o espectador tenha a ilusão paradoxal da fidelidade.”
Para Alfredo Dias Gomes, filho dos novelistas Dias Gomes e Janete Clair, o recurso do remake tem a vantagem extra de conservar uma obra que é, por natureza, menos permanente. “No caso da obra da minha mãe, que foi uma escritora de rádio e TV, o remake é muito importante, porque não é como na literatura, que a obra se eterniza”, diz.
A tendência serve, então, como uma valorização dos clássicos. Mas isso existe pela demanda de satisfação da nostalgia ou é a saída fácil para, talvez, uma crise criativa da dramaturgia?
“Não há aposta segura na televisão”, descarta Alcides Nogueira. “Ainda mais hoje, quando o perfil do espectador não é tão definido. Toda obra teledramatúrgica, original ou não, é sempre um salto sem rede. Como considero a releitura uma obra nova, para mim, o impacto que pode vir a ter é o mesmo de uma obra original. Aí, vale o axioma: ‘Se não há aposta segura, difícil prever o impacto’.”
De qualquer modo, a originalidade há muito já não é considerada um fator essencial. “É muito raro encontrar uma história original. Shakespeare, por exemplo, nunca encontrou. Romeu e Julieta se chamava Giulietta e Romeo. Ele só precisou trocar o sobrenome dela para Capuletto. Ela se chamava Capeletti no original”, garante Carneiro. “Como diz meu amigo Millôr Fernandes, não há mais nada original. Nem o pecado original. O remake pelo menos nos traz a ilusão de que existe uma ‘Idade de Ouro’, em que éramos todos brilhantes.”
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