Como o politicamente correto NX Zero tornou-se a maior banda de rock popular brasileiro da atualidade
Por Adriana Alves Publicado em 09/06/2008, às 12h21 - Atualizado em 20/02/2013, às 15h02
O endereço é Avenida Brasil, sem número, complexo Poliesportivo Turcão, Vila Correia. Uma hora e quarenta minutos cruzando a cidade por marginais e rodovia e chego a um local ermo da Grande São Paulo. Ruas esburacadas, quase nenhum prédio, subidas e descidas intermináveis. Ali acontece a Festa da Uva, evento tradicional do município de Ferraz de Vasconcelos. Aproximadamente 40 mil pessoas aguardam um dos maiores acontecimentos do ano na cidade. Shows, roda-gigante. Uva de graça. Ouve-se um coro de vozes predominantemente femininas e adolescentes, quase infantis. Histéricas: "NX! NX! NX!". O vocalista Diego José Ferrero, o Di, 23 anos, o baterista Daniel Weksler, o Dani, 22, o baixista Conrado Lancerotti Grandino, o Caco, 22, e os guitarristas Leandro Franco da Rocha, o Gee, 21, e Filipe Duarte Pereira Ricardo, o Fi, 21, sobem no palco e a gritaria torna-se ensurdecedora. Crianças, milhares de adolescentes, pais, avós. É o hardcore melódico de família, feito por garotos de família, moldando - a contragosto de alguns e ao gosto de vários - a atual cara do rock popular brasileiro.
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"Não sei como alguém consegue quebrar um camarim inteiro, que uma pessoa teve um puta trabalho pra fazer. Isso é uma desfeita pra pessoa, pô, a gente nunca... A tia do último camarim foi lá perguntar se a gente gostou e ficou toda feliz quando dissemos que gostamos", diz Filipe, decretando o fim de uma espécie de padrão de comportamento Axl Rose, para citar um artista de caminhada extremamente tortuosa, em que a atitude de uma banda de rock era proporcional ao número de encrencas que os músicos seriam capazes de arranjar e os excessos e loucuras cometidos dentro e fora dos palcos.
No universo do NX Zero, nem todos os roqueiros querem se rebelar contra o sistema, gritar seu ódio, dar um tiro na cara do governo. E a imposição do comportamento tradicional do roqueiro bem louco tem o mesmo cheiro de mofo que a expressão "bom e velho rock'n'roll". A razão fala alto no procedimento dos cinco rapazes, e a emoção não fica atrás. "A gente tem que tomar cuidado pra nunca endurecer o coração, quando isso de fazer muito show e ter muita gente em volta se torna uma rotina, você acaba caindo numa normalidade, não se comove, e isso não pode nem nunca vai acontecer comigo", jura Conrado.
A certa altura de suas existências, artistas inspiradores como Raul Seixas, Rita Lee, Cazuza ou Renato Russo fortaleceram a iconografia rock'n'roll demonstrando desejo autodestrutivo, entrega ao álcool, à cocaína, somados a um certo culto à decadência. Vira e mexe, Dinho Ouro Preto e Paulo Ricardo contam sobre como cheiraram suas carreiras artísticas e outras nem tanto.
Diretor artístico e produtor da banda, responsável por outros sucessos adolescentes como Charlie Brown Jr. e CPM 22, o presidente da Arsenal, selo e braço da gravadora Universal, Rick Bonadio, teoriza: a banda representa um modelo de conduta de bem com a vida. "O NX Zero hoje representa pra molecada a coragem de assumir os sentimentos, de amar, de sofrer por amor. E isso é algo desta geração, que gosta de rock e também gosta de outros tipos de música", explica. Leandro sintetiza: "A gente é tipo meio nerd. Às vezes pergunto pra eles: 'O que a gente vai contar? A Rita Lee contou que cheirou, avacalhou tudo e não sei o quê. E a gente vai contar o quê? Que terminou o GTA várias vezes?'", referindo-se a Grand Theft Auto, um dos games mais populares de todos os tempos, em que o jogador assume ares de criminoso. Eles dizem aprender com as bandas que se perdem nos excessos e, por isso, passam longe de problemas com drogas. Bebem pouco e evitam o álcool antes de subir ao palco. Pode ser que o futuro diga o contrário, mas até então o NX Zero é uma banda de bons moços.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 21 da Rolling Stone Brasil, junho/2008
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