Populares como nunca, eventos do UFC se tornam as minas de ouro dos investidores e da televisão
Por Tiago Agostini
Publicado em 08/08/2011, às 12h41 - Atualizado em 07/11/2011, às 13h19Foi-se o tempo em que o Ultimate Fight Championship - na sigla, UFC, maior evento de artes marciais mistas do mundo - era um torneio de luta endereçado somente a marmanjos trogloditas sedentos por sangue. Criado em 1993 pela família de lutadores Gracie (o intuito era exibir ao mundo a superioridade do brazilian jiu-jitsu sobre as outras modalidades), o UFC sofreu durante anos com o preconceito devido ao elevado grau de violência de seus confrontos. Na última década, no entanto, o evento evoluiu e ganhou caráter de evento esportivo de grande porte, acumulando fãs sem distinção de idade e gênero não apenas nos Estados Unidos.
No Brasil, a popularização do UFC ocorreu de forma relativamente silenciosa, porém contundente (quando até a cantora Sandy, um dos símbolos brasileiros da candura, se declara fã, é porque o fenômeno deve ser considerado). Em 27 de agosto, o circo do UFC desembarca pela primeira vez no Rio de Janeiro, arrasador como um pontapé de Anderson Silva, para brigar pelo posto de segundo esporte no gosto do público brasileiro. O primeiro, obviamente, ainda é o futebol.
A popularidade pôde ser sentida em 17 de junho, quando os cerca de 14 mil ingressos disponíveis para o UFC Rio evaporaram em apenas uma hora e 14 minutos. Tal rapidez apenas reflete essa magnitude em termos globais: atualmente, o UFC é transmitido para 145 países, com uma média de 354 milhões de televisores ligados por evento. Esses números superlativos acabam tendo consequências no turismo da cidade que abriga cada edição. No caso do UFC Rio, até a metade de julho, a agência 4BTS havia registrado 32 pacotes vendidos e outros 20 em negociação para fãs estrangeiros vindos de Estados Unidos, Escócia, Japão, Angola, China e Irlanda.
Os pontos de virada para o crescimento arrebatador do UFC foram a compra da marca pela empresa de promoção Zuffa, em 2001, a adoção de regras mais incisivas para a disputa (como a proibição de ataques à virilha e de chutes à cabeça do adversário no chão), além de um verdadeiro "banho de loja": capitaneada pelo empresário norte-americano Dana White, a Zuffa se esforçou para eliminar o caráter de brutalidade inerente às disputas de MMA (a sigla para artes marciais mistas) e valorizar seus principais personagens - os lutadores. Uma vez reconhecido como acontecimento esportivo de potencial, o UFC passou a atrair grandes investidores.
Se no Brasil o movimento é recente, a intensidade do crescimento é evidente. Em 2010, o canal pago Combate, especializado em lutas, alcançou um crescimento de 46% na quantidade de assinantes: eram 138 mil até maio de 2011. "O UFC trata muito bem o espectador. É um superevento", comenta Pedro Garcia, diretor do SporTV e dos canais Premiere (que inclui o Combate). De fato, cada edição do UFC é um espetáculo digno de Hollywood, esbanjando o glamour típico dos esportes nos Estados Unidos: shows pirotécnicos, plateia recheada de celebridades, grande quantidade de câmeras e detalhes transmitidos em alta definição.
Entre os canais abertos, a RedeTV! - que com a edição Rio irá transmitir um evento do UFC ao vivo pela primeira vez - comemora o crescimento da audiência do programa UFC Sem Limites, focado em reprises de combates já realizados: no ar desde junho de 2009, alcançou picos de 6,4 pontos de audiência em 2011. Somente em 26 de fevereiro, o programa teve 10,6% de participação no share (o percentual de televisores ligados sintonizados na emissora), quando transmitiu a histórica luta entre os brasileiros Anderson Silva e Vitor Belfort.
O embate entre Silva e Belfort, aliás, ajuda a desvendar o motivo da popularidade do UFC no Brasil: a qualidade e o carisma dos ídolos. Pródigo em bons lutadores, o país possui hoje 34 atletas contratados pelo UFC, sendo dois detentores de títulos - José Aldo Neto, na categoria peso-pena, e o fenômeno Anderson Silva, nos médios, que detém uma invencibilidade de 13 lutas e oito defesas de cinturão. "Os principais atletas do UFC são brasileiros", diz Anderson. "Ele começou com um brasileiro, então é um marco receber um evento tão grandioso no Brasil." Também escalado para lutar no UFC Rio, o lutador baiano Rodrigo "Minotauro" Nogueira faz coro: "O Brasil é carente de ídolos, e temos ótimos lutadores".
O Brasil parece mesmo ser a bola da vez na expansão da marca UFC, e os números e os fatos só comprovam a tese. A Sony fechou parceria para lançar os DVDs oficiais no país, sendo que esta é a primeira vez que tais produtos licenciados chegam à América Latina. Cada um dos cinco títulos chega às lojas em agosto, com tiragem inicial de dez mil unidades. No final do mês, a Tapout, maior marca de roupas e acessórios para MMA, chega ao Brasil com expectativa de faturamento de R$ 5 a 6 milhões até o final de 2011. "Quando tem jogo de vôlei você não vê os bares lotados para assistir como na luta do Anderson Silva com o Vitor Belfort, por exemplo", comenta Minotauro. "O UFC só é menor que o futebol."