Keith Richards e Brian Wilson relembram o grande jazzista e inventor Les Paul, figura essencial para a música
Por Anthony DeCurtis Publicado em 09/10/2009, às 09h49
Les Paul nunca tocou muito rock and roll, mas é difícil imaginar o gênero sem ele. Paul - que morreu aos 94 anos, em 13 de agosto, na cidade de White Plains, Nova York, devido a complicações de uma pneumonia - inventou a guitarra elétrica de corpo maciço no começo dos anos 40, o que por sua vez levou à Gibson Les Paul, instrumento defi nitivo do rock. "Eu não estaria aqui se não fosse por ele", diz Keith Richards. Paul inventou também o princípio do estúdio moderno: a gravação em diferentes canais. Seu sucesso de 1951, com a mulher Mary Ford, "How High the Moon", foi um dos primeiros exemplos de overdubbing (técnica que adiciona novos instrumentos a uma gravação feita anteriormente). Também foi o pioneiro no uso do eco eletrônico, de truques como variar a velocidade das fi tas e da técnica de close miking (o uso de microfones individuais em cada instrumento) na gravação. "Les Paul fez tudo antes de todo mundo", diz Joe Perry, do Aerosmith. "Ele inventou todas essas coisas que os computadores reproduzem agora." Brian Wilson complementa: "Ele produziu os melhores sons nos anos 50. Ninguém chegou nem perto".
Nascido Lester William Polsfuss, em Waukesha, Wisconsin, em 1915, Paul aprendeu a tocar violão, banjo e gaita ainda bem jovem. Filho de um mecânico de automóveis, fuçava em gravadores, rádios e todo tipo de máquina. Começou tocando country, mas acabou formando um trio de jazz e se mudando para Nova York. Pelas próximas três décadas ele alternaria entre sua carreira artística de sucesso e suas inovações tecnológicas se tornava o símbolo vivo da guitarra
Em 1941, inventou um instrumento que chamava de "o tronco" - um bloco sólido de madeira com um braço de violão, cordas e captadores eletrônicos. Não era bonito de se ver, mas serviu de modelo conceitual para a bem modelada (" como uma mulher", diria Paul) Gibson Les Paul, que chegou ao mercado em 1952. Ele transformou, em suas próprias palavras um instrumento acústico - inaudível nos arranjos das bandas - em "um monstro, algo que podia ser realmente poderoso. Tínhamos todo aquele volume". Richards diz que "ele deu poder guitarra. Você podia fazer coisas incríveis. É algo que precisa a aguentar viagens, ser resistente. Como uma caminhonete. Mas também muito bonita".
Nesse meio-tempo, Paul também Havia gravado discos inovadores com sua esposa e cantora, Ford, que refletiam seu constante desejo de reinventar a tecnologia das gravações. Paul e Ford fizeram bastante sucesso nos anos 50 - "How High the Moon" e o single seguinte, "Vaya con Dios", venderam mais de 1 milhão de cópias cada um. A carreira da dupla terminou no começo dos anos 60 e os dois se divorciaram em 1964. Paul então se retirou do show business, dedicando-se apenas à invenção e a desenhar novas guitarras.
Paul voltou a gravar no meio dos anos 70, quando colaborou com o guitarrista de country Chet Atkins, e ganhou um Grammy por seu álbum de 1976, Chester and Lester. Kirk Hammett, do Metallica, se recorda de ter visto Paul tocar pela primeira vez quando era adolescente, na televisão, nos anos 70. "Era demais, porque ele tocava uns acordes com as cordas abertas, bem rápido, bem jazz", conta. "E aí ele mudava tudo e começava a tocar o tipo de coisa que se encaixaria direitinho no contexto do rock." Em 1988, Paul entrou para o Rock & Roll Hall of Fame. Também começou a fazer shows intimistas semanais em uma casa noturna nova-iorquina, combinando suas jams casuais com as histórias e piadas maliciosas que eram sua marca registrada. Paul continuou tocando semanalmente até o começo do verão deste ano. Derek Trucks resume tudo muito bem. "Neste ramo vemos pessoas partirem de modo trágico. Com Les Paul não foi assim, sabe? Ele partiu com um sorriso no rosto, deixando as pessoas à sua volta felizes."
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