Sofrendo provocações e agressões de países aliados, o Brasil nem sempre reage como se espera de uma nação com papel de liderança global. Como a nossa diplomacia deveria responder a tanto bullying?
Antônio Burani Publicado em 10/10/2013, às 15h03 - Atualizado às 16h39
O que Barack Obama faria se ficasse sabendo que foi espionado pelo Brasil? Muita gene fez essa pergunta depois que o programa Fantástico, da Rede Globo, revelou, no começo de setembro, que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores foram espionados pelo governo norte-americano. O episódio aflorou patriotismos e deixou no imaginário popular outra questão incômoda: a diplomacia brasileira sofre bullying? Para dar uma resposta à altura, a presidente encarnou o personagem homônimo das redes sociais, a “Dilma Bolada”: proferiu um discurso agressivo na abertura da Assembleia Geral da ONU, atacando a espionagem, e cancelou uma visita de Estado ao colega “espião”.
O mesmo tipo de reação endurecida, porém não foi aplicada depois que Evo Morales, presidente da Bolívia, estatizou duas refinarias da Petrobras, ou quando agentes bolivianos revistaram o avião do ministro da Defesa, Celso Amorim. Também não é exatamente enérgica a postura da diplomacia do país diante do ostensivo protecionismo argentino ou das obscuras relações trabalhistas entre o regime cubano e os doutores que aderiram ao programa Mais Médicos. “Às vezes as pessoas têm a percepção de que o Brasil é ingênuo ou vítima de bullying, porque sofre pressão tanto de países mais frágeis, como Bolívia e Paraguai, como dos Estados Unidos. Mas o que ocorre é que a estratégia da diplomacia brasileira é não entrar em conflito nunca”, explica Moisés Marques, professor de ciência política e relações internacionais da Escola de Sociologia de São Paulo (ESP).
Tal postura pacífica, diga-se, não é nova. Há pelo menos 50 anos, a estratégia dos “punhos de renda” predomina no Itamaraty. O que chama a atenção, segundo Rubens Ricupero, diplomata de carreira e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, é a predileção do país por aceitar provocações dos mais fracos. “No caso da Argentina, por exemplo, o Brasil tolera o bullying. Os argentinos têm feito miséria com os produtos brasileiros. Não deixam entrar nossos produtos alegando problemas comerciais, mas compram da China. Estão desviando compras apesar de serem parceiros no Mercosul”, diz. Para avaliar se o Brasil é mesmo vítima de bullying – apesar do tamanho avantajado e incontestável papel de liderança global –, a Rolling Stone Brasil convidou um time de especialistas para analisar os cenários mais constrangedores de nossa diplomacia nos últimos anos.
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