Como uma garota gótica de 17 anos nascida na Nova Zelândia se tornou a novidade menos provável da música em 2013
Jonah Weiner | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 08/01/2014, às 22h28 - Atualizado em 21/02/2014, às 19h11
Lorde – cujo nome real é Ella Yelich-O’Connor – é o tipo de adolescente que você até esquece que é adolescente. Em uma conversa, ela não apenas parece confiante, como também totalmente sábia. Faz contato visual constantemente; as declarações dela são contemplativas, mas precisas. No altamente eletrônico álbum de estreia Pure Heroine, Lorde exibe uma voz luxuriantemente profunda sobre batidas minimalistas que ela mesma coproduziu. As letras expõem temas clássicos do pop adolescente – ansiedade social, desejos românticos, apatia debilitante, brigas encharcadas de bebida – com um distanciamento assustador. A cantora se considera uma letrista antes de tudo, atribuindo isso, em parte, ao fato de que devora a ficção de autores como Raymond Carver e Kurt Vonnegut desde muito nova.
“Royals”, o grandioso primeiro single do disco, é uma faixa sobre sucumbir à (e denunciar a bobagem da) atração do hedonismo e do materialismo. O refrão – “Everybody’s like ‘Cristal, Maybach, diamonds on your timepiece’” (Todos só querem saber de champanhe Cristal, Maybach, diamantes no relógio) – é desafiador, mas também um pouco agridoce: “We’ll never be royals” (Nunca seremos da realeza). “Sempre fui fascinada pela aristocracia”, explica Lorde (daí o apelido dela). “Estou realmente interessada nas melhores faculdades, nos clubes sociais, em famílias ricas há gerações, no conceito de dinheiro.” Ela canta sobre classe de uma posição privilegiada, embora tenha mais capital cultural do que financeiro. A mãe dela, Sonja Yelich, é uma premiada poetisa que foi incluída na série de antologias Best New Zealand Poems quatro vezes e cuja última coletânea imaginava a vida sombria de um militar norte-americano no Iraque. O pai dela é engenheiro civil. A família é de classe média – “padrão”, como Lorde descreve, observando que o pai dirige um Toyota.
Lorde está em Los Angeles para se apresentar no programa The Ellen DeGeneres Show, e voltará no dia seguinte para a Nova Zelândia, onde terá uma semana de descanso antes de fazer mais turnês – ela inclusive passará por São Paulo em abril, para se apresentar no festival Lollapalooza. A cidade natal dela, Devonport, é um subúrbio à beira-mar de Auckland, a cidade mais populosa do país, que tem uma base naval. Lorde não sabe quando nem se vai mesmo se formar, e diz não ter planos específicos para a faculdade: “Leio e escrevo tanto que não sinto que estou perdendo alguma coisa”. Ela tem três irmãos. “Somos muito diferentes”, afirma. “Minha irmã mais velha estuda alemão e está na escola de cinema, mas também faz faculdade de negócios. Ela cavalga. Minha irmã menor é, tipo, superssociável e animada – é linda. Será apresentadora de TV um dia. Meu irmão menor gosta de esportes e matemática. Sou muito mais introspectiva; sempre li muito e fui a mais quieta.” Ao mesmo tempo, ela faz aulas de teatro desde criança (“tipo, 5 anos”), e se diz “incrível como oradora”. “Sou muito boa nisso”, admite.
Um dos empresários de Lorde, Scott Maclachlan, aparece de repente no camarim do talk show. Ficou sabendo dela aos 12 anos – ela cantou “Warwick Avenue”, de Duffy, em um show de talentos na escola, acompanhada de um colega chamado Louie. O pai de Louie enviou imagens da apresentação a Maclachlan, profissional de Artistas e Repertórios da Universal Records, na Nova Zelândia. “Ela tinha essa voz incrível, que, na verdade, não está tão diferente agora”, conta Maclachlan. “Tinha a mesma espécie de profundidade e timbre, uma alma legítima.” Ele imediatamente fechou com Lorde um acordo de desenvolvimento em uma grande gravadora. “Uma das coisas mais legais foi poder ter aulas de canto duas vezes por semana”, ela lembra. “Sempre tive uma voz grave, mas você consegue encontrar algumas covers horríveis no YouTube de quando eu tinha 12 anos e minha voz era bem anasalada. Tonalmente estranha. Consegui eliminar tudo isso e meio que reconstruir a máquina, tirar muita ressonância do meu som.”
A estreia pública da cantora foi um EP chamado The Love Club, lançado em novembro de 2011. Inspirada por artistas enigmáticos como The Weeknd, decidiu não exibir fotos dela própria na capa e, até onde possível, na internet. Postava músicas gratuitamente no SoundCloud e viu o burburinho online aumentar. Então, a gravadora interferiu, e “Royals” partiu daí – primeiro chegando ao número 1 das paradas na Nova Zelândia e, eventualmente, passando das estações de rock alternativo nos Estados Unidos às rádios pop.
“É estranho, porque, quando se está nas primeiras fases de um projeto, é tudo tão puro... Você pensa: ‘Isso nunca será corrompido’”, diz Lorde. “Então, você vai mais longe e diz: ‘Quero que as pessoas ouçam este disco, então tenho de fazer algo para apoiar isso’.” Ela ri. “Lancei minha música sem nenhuma expectativa comercial e de repente descobri que eu era uma estrela pop.”
A apresentação no programa de Ellen DeGeneres correu bem. No camarim, Lorde se joga no sofá, aceita os elogios e se perde no telefone. Sonja arruma o local, jogando fora sacos vazios de batatas fritas e garrafas meio cheias de chá gelado em uma mesa de centro, depois se senta ao lado da filha.
“Ella é uma escritora melhor do que jamais serei”, diz Sonja, sorrindo com orgulho. “Há alguns anos, escrevi uma tese para meu mestrado e pedi a Ella que revisasse – 40 mil palavras. Ela fez um trabalho incrível. E tinha 14 anos.”
“Mããããe!”, Lorde grita. “Pare de falar sobre mim!” Ela cai para o lado, envergonhada, e esconde o rosto atrás de uma almofada – agindo, pelo menos por um momento, como qualquer garota adolescente.
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