O Playback Não Faz Falta

Eliminando formatos desgastados, emissoras se esforçam para fortalecer o menu da programação musical na TV brasileira

Por Filipe Albuquerque Publicado em 17/06/2009, às 09h55

A MTV Brasil rachou o antigo modelo de programação musical na TV brasileira. Até 1990, as opções eram os desgastados shows de auditório e um empoeirado pacote de clipes que chegava ao país com meses de atraso. De Raul Gil a Bolinha, de Chacrinha a Silvio Santos, todos perceberam - embora nem todos aplicassem

- que o modo de oferecer música na TV havia mudado.

O reinado musical televisivo há anos não é exclusividade da MTV. Ainda que a emissora seja a especialista no tema, com 24 horas de programação - supostamente - dedicada ao assunto, outros canais entraram no ritmo e incrementaram o cardápio sonoro. E as inovações trazidas pela internet, que mudaram o modelo de consumo da música, geraram também alterações no modo de apresentá-la na TV.

"A mudança no consumo levou a gente a se reposicionar como mais expert, mais editorial e mais opinativo", avalia Cris Lobo, diretora de programação e produção da MTV, que recorda que, em 2006, a emissora deu uma recuada estratégica para reencontrar o caminho, em um momento no qual a internet já dividia as atenções. Em 2007, a MTV apostou no portal de vídeos Overdrive, o que levou a crítica a interpretar que o canal estaria migrando parte da programação musical para a web. "Quando a gente falou 'assista a vídeos no Overdrive', não queria dizer que a gente iria parar de passar música. Era mais uma alternativa", Cris explica, completando que a emissora hoje retornou ao patamar de 2006: 92 horas só de vídeo e 109 horas de música, tudo a cada semana. O "lado editorial" ressaltado pela executiva pode ser conferido no humorístico Top-Top e no novo Coluna MTV, que existe sem utilizar a figura do VJ.

Já o Multishow, há 18 anos no ar, hoje preenche boa parte da programação com música: durante o horário nobre, o tema ocupa 30% do espaço com clipes, shows e documentários. "A música sempre fez parte do DNA do canal. A programação do [programa de clipes] TVZ tem o mesmo tempo de vida do Multishow", informa a gerente de marketing Daniela Mignani. Em 2003, o canal - de propriedade da operadora Globosat - deu início ao projeto Multishow ao Vivo - que já apresentou concertos de Los Hermanos, Vanguart e Vanessa da Mata - e rende CDs e DVDs com o selo do programa (a idéia é semelhante ao Ao Vivo popularizado pela MTV). Só em 2009, a emissora já exibiu, ao vivo, os shows de Elton John, Radiohead e, no último 7 de maio, Oasis. Em um passado recente, transmitiu U2, Black Eyed Peas e Robbie Williams. "É a maturação da nossa vocação", defi ne Daniela.

"Meu programa se utiliza da música como norte principal", complementa Edgard Piccoli, que recém-estreou no Multishow o Edgard no Ar (nova versão do antigo Circo do Edgard). "Coube a nós chegarmos a um modelo que abarcasse tudo que está dentro de um inconsciente coletivo quando o assunto é TV de uma forma musical." Acompanhado do grupo Os Wilsons, Piccoli recebe convidados que participam em quadros interativos ligados à música.

A Globo decidiu relembrar o passado com um formato contemporâneo. Há três anos no ar, o Som Brasil soma artistas da nova geração a consagrados da MPB, com os primeiros homenageando os últimos. "[O programa] retoma uma tradição que a gente tinha com o Chico e Caetano, de celebrar os grandes da música", avalia o diretor Luiz Gleiser. A ideia "é usar esse espaço para alavancar uma nova geração que não teria como aparecer em TV aberta", ele diz, afi rmando que, pelo formato estabelecido - basicamente quatro artistas, sendo o homenageado e três a prestarem tributo -, trata-se de uma fórmula experimental. Gleiser também lembra que o programa, no ar toda última sextafeira do mês, tem dado 6 pontos de audiência. "Prova de que vale a pena investir em qualidade na TV aberta."

Já o Canal Brasil, tradicionalmente focado no cinema nacional, decidiu ampliar o leque da programação em 2004 ao incluir música na grade. "A gente percebeu que o melhor da música brasileira estava fora da mídia", lembra o diretor de programação Paulo Mendonça. O primeiro produto dessa nova fase foi o talk show Escândalo, apresentado por Angela Ro Ro. Hoje, além de Som do Vinil (comandado por Charles Gavin), Zoombido (com Paulinho Moska) e Faixa Musical, o canal estreia MPBandas, Estúdio 66 e Pelas Tabelas. "A música está hoje na gênese do canal: 70% da programação é cinema, mas a música está presente de forma permanente", Mendonça completa.

Em quase 20 anos, a TV tratou de eliminar o formato do VJ apresentando clipes em frente a uma parede de efeitos visuais. Agora, no que depender da riqueza do menu atual, as emissoras devem em breve varrer o playback e as claques para o limbo. É bom para o público - e para a música.

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