Ganhadora do prêmio Pulitzer, a escritora Jennifer Egan mira a televisão e a Nova York dos anos 40
Nathan Heller Publicado em 19/06/2012, às 11h45 - Atualizado às 11h46
Quando o quarto romance de Jennifer Egan, A Visita Cruel do Tempo, ganhador do prêmio Pulitzer, surgiu há dois anos, a escritora se viu imersa em um vórtex de aclamação e expectativa: entrevistas, um contrato para desenvolver projetos para a TV, e reconhecimento como uma escritora capaz de pegar as tramas do zeitgeist de uma era e trançá-las em forma de arte.
Desde a publicação de Uma História a Três, em 2001, que tinha como parte do foco uma modelo desfigurada em um acidente, o lado caprichoso da boa sorte tem sido um dos principais temas da obra de Egan. A Visita Cruel do Tempo (Ed. Intrínseca) – uma coleção de histórias que se entrelaçam, que a escritora comparou a um “disco conceitual” – conta a saga de Bennie Salazar, um paladino da cena punk de São Francisco nos anos 70 que se torna produtor musical de sucesso, e de Sasha, uma cleptomaníaca que traça seu caminho para longe de uma adolescência perdida na função de assistente dele. O interesse mais profundo do romance está na passagem do tempo acompanhando os personagens, da obscuridade à fama, da crise à estabilidade, e de volta à crise. É um mapa topográfico de acaso e circunstância que segue a cultura norte-americana no decorrer das décadas – e que, ao demarcar os picos e vales do ramo musical, mostra-se um dos romances de rock mais inteligentes já lançados.
Em uma manhã, Jennifer está tomando café e um iogurte grego em uma cafeteria no Brooklyn (Nova York), onde mora. Vestindo um cardigã bege sobre uma túnica com estampas florais, ela fala com uma precisão rápida e um sorriso distante que acentua sua ironia autodepreciativa. “Tenho noção de que, olhando de fora, deve parecer que o Brooklyn está lotado de escritores, que só se encontram para fazer essas coisas de escritores”, diz ela, que se mudou para lá em 2001 com o marido (diretor artístico de um teatro avant-garde) e dois filhos.
“Acho que quem lê o livro tende a pensar que sou mais maníaca por música do que sou de verdade”, ela diz, discutindo a recepção de A Visita Cruel. Para ampliar o conhecimento, ela mergulhou em livros sobre o mundo da música. Outra inspiração foi o texto de Marcel Proust sobre o poder evocativo da música em Em Busca do Tempo Perdido. “Nesta era de iPods, sentimos a música mais do que nunca”, diz. “Criamos playlists que têm muito a ver com canções que significaram muito para mim em diferentes momentos.” A estrutura solta de A Visita Cruel é uma tentativa de mostrar que uma era de ouro, o paraíso perdido que você tanto almeja, pode parecer diferente dependendo de quem você é e em qual posição estava.
Egan, que vem ao Brasil para a Feira Literária Internacionalde Paraty neste mês, fará 50 anos em 2012, um meio de carreira para muitos escritores que, dado seu sucesso crescente – Uma História a Três foi finalista no National Book Award, e o romance gótico The Keep (2006) virou best-seller –aponta para um fim de caminhada confortável. Mas ela é inquieta e sente a necessidade de se enfiar em um novo projeto. E, mais uma vez, muda de assunto sobre o livro que está escrevendo agora, um romance ambientado na Nova York de 1940. “Me perguntam: ‘Você se sente pressionada?’ Acho que o medo é que eu escreva um livro ruim, e aí eles vão dizer: ‘Ela não merece tudo o que tinha’. E não é nem um medo meu. Digo, já parto do pressuposto de que isso vai acontecer”, acrescenta, rindo. “Espero olhar para trás daqui a 20 anos e sentir que estes livros não foram meu maior feito. Se encará-los hoje como o melhor que posso fazer, quer dizer que não vou conquistar muito nos próximos 20 anos. E definitivamente espero mais conquistas!”
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