Por Cláudio Tognolli Publicado em 10/11/2008, às 12h14
Quando o presidente richard nixon concorreu ao governo da Califórnia, há 40 anos, proclamou de pronto: "Timothy Leary [guru do LSD] é o homem mais perigoso da humanidade". Na primeira fase da octaetéride do presidente Lula, tivemos o nosso êmulo dos gringos. Ele se chama César Herman Rodriguez. Tem quase 2 metros de altura, ajuntados num corpão nascido a 10 de agosto de 1962 - naquele mês e ano em que o Brasil cruzava os braços para obter o direito do 13o salário.
César Herman nunca havia dado entrevistas. Agora, quer se desafogar do canhoaço intempestivo que foi a Operação Anaconda. Montada para desarticular um esquema de venda de sentenças judiciais, uma rajada de estupor brotou da Anaconda e abalou sismicamente a vida do ex-agente da Polícia Federal. Preso em outubro de 2003, junto do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos - este ainda atrás das grades -, Herman não é de meias palavras para se definir na operação. Certa classe de luz muda seu olhar nessa hora. Ele desvia o eixo focal do repórter. Olha para a parede, para o nada, sabe-se lá, e dispara: "Fui o homem mais perigoso do Brasil no primeiro mandato do Lula. E o que sobrou disso? Minha luta é provar que nada disso sobrou, que fui um perseguido político". O Ministério Público Federal o acusou de 38 crimes, entre eles, formação de quadrilha, falsidade ideológica, peculato, prevaricação, corrupção passiva, tráfico de infl uência, contrabando e interceptação telefônica ilegal. Ele foi condenado: três anos por formação de quadrilha; sete anos e meio por processo de falsidade ideológica, processo de peculato e prevaricação. Solto em agosto de 2005, por habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, passou um ano e dez meses atrás das grades, e aguarda em liberdade o andamento de todos esses processos. Rocha Mattos ainda está preso: nenhum habeas corpus, das dezenas que ele mesmo impetrou, foi acatado pelo STJ ou pelo Supremo Tribunal Federal.
Para as três procuradoras da República no caso, Janice Agostinho Barreto Ascari, Ana Lúcia Amaral e Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, César Herman era o enfant-gatê, o pau para toda a obra, a mão longa do juiz João Carlos da Rocha Mattos no citado esquema. Juntamente com o delegado federal José Augusto Bellini, eles foram considerados os mentores do esquema de venda de sentenças. Uma das procuradoras, que prefere não se identifi car por temer Herman, afi rma: "Ele era o operacional da quadrilha de Rocha Mattos, tudo o que se precisava ele providenciava. Há até uma gravação em que um juiz pede para ele grampear a mulher de um prefeito. Consideramos César Herman Rodriguez um homem violento em potencial. Ele aparece em uma fita dizendo que já teria matado oito pessoas".
Para um policial que se notabilizou em prender narcotraficantes no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e que já foi segurança da rainha Sílvia, da Suécia, falar sobre o que é estar do outro lado das grades provoca arrebatos de um mau alvoroço. Até porque ele atesta que viu baratas e ratos se acotovelando para abocanhar seu prato atávico de carnes frias, numa masmorra em Goiânia, onde ficou preso. "Eu denunciei e em 2004 fechei aquela cadeia pública pelo tipo de maustratos que eles davam aos presos naquela masmorra", orgulha-se. No seu catre, refere, águas apodrecidas eram pisoteadas por "ratazanas e baratas albinas gigantescas". Ficou 11 dias sem comer, quando ali pisou pela primeira vez. Jamais rezou, irredutível que era, mesmo quando estava contraído de solidão, com um piscapisca nos olhos atônitos. "Sou católico, mas achei injustiça com Deus procurá-lo somente naquela hora. Toda a minha força moral para sobreviver na cadeia veio do amor e do apego que tenho pelos meus filhos." Como era inevitável, alguns corvos de plantão do PCC vieram bicar na biografia de César Herman. Afinal, quem ali estava era, antes de mais nada, um tira federal - e na cadeia vige, sempre, a crença generalizada de que tiras estão ali para serem justiçados a ferro e fogo. A César Herman foi dado saber que o PCC havia feito uma reunião, para saber o que deveriam fazer com ele. "Eles decidiram que não tinham nada contra mim e o fato de eu ser advogado, e conhecer bem a Justiça, poderia ajudá-los em resolver suas pendengas judiciais. Fiquei três meses lendo processos dos presos para dar conselhos jurídicos", conta.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 26, novembro/2008
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