Como uma HQ secundária da Marvel inspirou uma legião de fãs e revolucionou Hollywood.
Bryan Hiatt | Tradução: Elisa Oliveira Publicado em 10/07/2014, às 15h47 - Atualizado em 14/07/2014, às 12h08
Em meados de 1963, Stan Lee estava a mil. Sentado diante de uma máquina de escrever, ele criou quatro personagens de uma só vez – Ciclope, Homem de Gelo, Jean Grey e Professor X que seriam então desenhados por Jack Kirby. Todos nasceram da mente do autor já com os poderes definidos, mas havia um problema: como explicar essas características que os diferenciavam dos homens normais? “Eles eram pessoas que não tinham conexão umas com as outras”, relembra hoje o mestre das histórias em quadrinhos, aos 91 anos. “Por isso [criar uma explicação] seria um trabalho e tanto.” Lee já havia usado o truque do acidente radioativo pelo menos três vezes anteriormente, então a saída foi buscar outra direção. “Pensei na coisa mais fácil do mundo: eles tinham nascido daquele jeito. Eram mutantes!”, conta.
Toda a gênese do universo dos X-Men, que viria a se tornar, décadas mais tarde, uma franquia cinematográfica bilionária (o faturamento dos sete filmes gira em torno de US$ 1,2 bilhão) estava na primeira edição dos quadrinhos. “O objetivo principal era mostrar como a intolerância é terrível”, analisa Lee. “Isso se você realmente precisasse de um objetivo para uma história de super-heróis!”
Os anos 1960, no entanto, foram duros para o grupo liderado por Charles Xavier. Secundários durante essa década, eles só ganharam uma nova chance quando o escritor Len Wein criou, em 1975, mais personagens, principalmente o carrancudo e raivoso Wolverine. Chris Claremont, um ávido jovem de 24 anos, que se identificava com a temática de exclusão dos mutantes por ter chegado aos Estados Unidos ainda criança, vindo da Inglaterra, assumiu o projeto logo depois. A partir de 1977, ao lado de John Byrne, ele recauchutou a aparência dos mutantes e, na década de 1980, transformou a expressão “nascer diferente” em algo legal. Os X-Men foram os primeiros heróis alternativos da Geração X, o que elevou os quadrinhos dos heróis ao posto de título mais conhecido da Marvel.
Embora todo o sucesso tenha levado Lee a tentar adaptar as criações dele para as telonas, Hollywood não parecia muito inclinada a aceitar. “Anos tinham se passado desde Superman: O Filme e outros longas baseados em HQs não haviam feito muito sucesso”, conta a produtora Lauren Shuler Donner. Ela foi a responsável por mudar o rumo da história ao convencer a Fox a apostar nos mutantes, justamente quando a Marvel estava prestes a declarar falência e se mostrava disposta a licenciar todas as criações da editora.
Com o diretor Bryan Singer a bordo da empreitada nos cinemas, a metáfora das mutações ganhou novo foco e passou a englobar a questão atual da homofobia – no segundo filme, de 2003, a mãe de um dos mutantes pergunta ao filho: “Você já tentou não ser mutante?” X-Men (2001) foi o longa-metragem de super-heróis mais maduro e ambicioso produzido até então, e a sequência foi ainda melhor. Apesar do desastroso terceiro volume, X-Men: O Confronto Final (2006), a revitalização iniciada em 2011 com X-Men: Primeira Classe abriu caminho para a estreia deste ano, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, que arrecadou mais de US$ 660 milhões no mundo todo.
Mais histórias dos X-Men nas telonas estão nos planos da Fox e, impressionantemente, os temas parecem tão contemporâneos quanto em 1963. “Os filmes lidam com questões atuais, como preconceito e o tratamento dado a pessoas consideradas diferentes”, diz Patrick Stewart, que interpreta o Professor Xavier. “Eles afirmam que todos têm o direito de expressar sua individualidade e que não devem ser transformados em vítimas apenas por serem diferentes.”
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