Por Simone Siman Publicado em 05/03/2009, às 11h04
De repente o carro em que estou desacelera bruscamente. Por instinto, guardo o pôster que acabo de ganhar. "De onde está vindo?", pergunta um sujeito mal-encarado e fardado que se aproxima da minha janela carregando uma metralhadora tão assustadora que me impede de dar hoje mais detalhes da figura do soldado. Ele me obriga a descer. "De onde vem?", questiona novamente enquanto retém meu passaporte. Orientada a não dizer que sou jornalista para evitar mais perguntas, digo que sou brasileira e que estou a passeio no México. Outros três soldados implicam com o equipamento fotográfico profissional no interior do veículo alugado. Depois de alguns minutos, tenho o meu passaporte de volta sob um olhar de desconfiança.
Foi cruzar a fronteira do estado de Chiapas, no sudeste do país, para barreiras do exército pipocarem pelo caminho com disposição para revistar tudo nos mínimos detalhes. Uma clara demonstração da preocupação do governo em expressar domínio no território de influência zapatista - camponeses que, durante séculos, foram explorados por latifundiários e burocratas - desde a colonização espanhola. Índios que deixam os caras-pálidas em uma tremenda saia-justa toda vez que entram em ação, desde que deram um fatídico: "Ya basta!" Temendo o extermínio de sua cultura, indígenas mexicanos de diferentes etnias se uniram em uma das mais importantes e singulares Revoluções Sociais de todos os tempos, organizada em plena Selva Lacandona na década de 1980 e impulsionada pela rede mundial de computadores nos anos 90.
O México ocupa uma zona de transição biogeográfica. É uma área de contato entre as Américas do Sul, Central e Norte com o bom do velho clima tropical e uma boa dose do temperado; o que lhe garante a alta biodiversidade, impulsionada por alterações climáticas ocorridas no Pleistoceno (período da Era Cenozoica em que a temperatura mudou abruptamente). Na teoria, a Selva Lacandona tem currículo para ser o paraíso na terra. Na prática, é o celeiro da discórdia. Dos 1,8 milhão de hectares da Lacandona, cerca de 331,2 mil formam a Reserva da Biosfera Montes Azuis. Desde os anos 70, quando o mundo foi marcado pelo lema "paz e amor", essa região convive com assentamentos irregulares, desmatamentos criminosos feitos a toque de caixa, biopirataria, além de ser o lar de milhares de guerrilheiros.
Com o apoio das comunidades Tzotzil, Tzeltal, Tojolabal Zoque e Chole estourou a primeira rebelião indígena armada no estado de Chiapas, no primeiro dia do ano de 1994. Na mesma data em que o presidente mexicano Carlos Salinas selou o futuro neoliberal do México com a assinatura do NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Norte, do qual participam também Canadá e Estados Unidos), o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) entrou em ação para exibir sua indignação e condição. Por ser impossível fazer frente ao Exército do Governo, em poderio de fogo, os cerca de 3 mil rebeldes se valeram de calibres menores, paus e facas para lutar e tomar San Cristóbal de Las Casas, antiga capital colonial do estado onde vivia a elite tradicional e racista da nação.
Depois de 12 dias de enfrentamento, já com uma baixa de 600 combatentes, o EZLN dominou outros municípios da região (Las Margaritas, Ocosingo e Altamirano) e se preparava para invadir Tuxtla Gutiérrez (capital de Chiapas) e os estados vizinhos Oaxaca e Tabasco, quando mais de 50 mil mexicanos foram às ruas pedir paz com cartazes "Parem o Massacre". Como não era nada positivo para a imagem do Governo ter seus ataques violentos televisionados bem na hora de poder comercializar livremente com as potências norte-americanas, foi forçado ao cessar-fogo.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 29, fevereiro/2009
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