Shaun Ryder, vocalista do Happy Mondays, fala sobre novo disco e relembra o Brasil
José Julio do Espírito Santo Publicado em 09/04/2008, às 16h11 - Atualizado em 15/05/2008, às 18h00
"William Blake da Madchester", "George Clinton da cultura rave", "Zeca Pagodinho do Reino Unido"& É fácil classificar Shaun Ryder como uma das figuras mais carismáticas da música britânica. Após desventuras em série que envolveram dependência química, brigas com colegas de banda e uma vida curta para o genial Black Grape (montado com seu parceiro Bez), Ryder promoveu a terceira volta da história do Happy Mondays - desta vez com um novo disco, Uncle Dysfunktional (lançado no Brasil pelo selo Coqueiro Verde). "Bez ainda está na banda, fazendo aquela dança maluca", ele fala - em inglês quase incompreensível - por telefone de sua casa, escondida em Peak District (Inglaterra).
Como foi gravar Uncle Dysfunktional, um álbum novo depois de quase 15 anos?
Foi legal. Nós mesmos bancamos o disco. Não queríamos uma gravadora grande que simplesmente nos enganasse dando dinheiro. Em poucas palavras, quando uma major lhe dá dinheiro, ela o tira todo de volta. Ela lhe manda para estúdios supercaros e gasta muito durante um bom tempo. E aí quer remixes de nossas músicas e vídeos, que custam uma puta grana. Assim, fizemos o disco sozinhos e depois fomos em busca de um selo. Evitamos muita conversa fiada. Queríamos que o disco fosse assim. Acabamos assinando com uma gravadora independente.
Foi um processo difícil ou demorado?
Não levou muito tempo. Acho que levou duas ou três semanas. Uma semana para eu escrever todas as letras. Parecido com o parto de minha filha recém-nascida.
Quando ela nasceu?
No dia 11 de fevereiro, com mais de 3 quilos. Levou sete minutos para minha mulher expeli-la. Foi praticamente um cuspe.
Você é constantemente convidado para colaborar em trabalhos de outros artistas. Dos mais recentes, foi em "DARE", do Gorillaz. Dizem que Damon Albarn mudou o título da música porque não havia jeito de você pronunciar a palavra "there".
Ah, você não gostou? [ele fala, forçando o sotaque inglês]
Gostei. Em Uncle Dysfunktional, há muitas colaborações, de Ry Cooder a Howie B. Como elas aconteceram?
Eles são amigos que o produtor Sunny Levine trouxe. Ele tem 26 ou 27 anos de idade. O avô dele é o Quincy Jones. O pai dele, Stewart Levine, produziu [alguns trabalhos de] Sly & the Family Stone. Tivemos vários convidados participando do álbum, mas não quisemos fazer propaganda disso, sabe? Seria meio que um golpe baixo. Eles vieram até nós só porque queriam tocar no disco. Foi fantástico.
O novo disco também traz um código de produto, FACT 500, criado por seu amigo Tony Wilson, do extinto selo Factory Records. Por quê?
Eu não sabia. Tenho que dar uma olhada nisso& Ah, agora eu me lembro! Acho que é algo que tem a ver com os últimos desejos de Tony antes de morrer. Era mania dele de colocar os códigos da Factory em tudo. Não sei direito o que ele quis dizer com isso, mas foi ele que pediu [até o caixão de Wilson possuía o código FAC 501].
Você gostou de ter conhecido o Brasil (com o Happy Mondays, por ocasião do Rock in Rio II, em 1991)?
Foi muito legal! Se eu pudesse, voltaria amanhã. A única treta que aconteceu quando estávamos aí foi com a polícia. Um amigo da gente na época queria arrumar um pouco de maconha e cocaína. Naquele dia ele estava com 2, 3 mil libras no bolso, uma puta grana. Ele comprou tudo em bagulho, mas a polícia o pegou. Ele ficou sete anos preso aí. A prisão era famosa&
Carandiru?
Essa mesmo.
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