So a tem o sucesso, as brincadeiras e o fim do racismo como metas para o futuro - Divulgação

Pequena e Notável

Aos 12 anos, a paulistana MC SOFFIA faz rap incisivo e cheio de mensagens, mas sem tentar esconder que tem a voz de uma adolescente

Lucas Brêda Publicado em 24/09/2016, às 10h03 - Atualizado às 13h14

Quando entrou no Maracanã (rio de janeiro) para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em agosto, MC Soffia sequer era conhecida pela maior parte do público brasileiro. Com os cabelos tingidos de rosa e acompanhada pela “madrinha”, Karol Conka, ela rapidamente virou assunto em outros países, ganhando destaque em jornais como o britânico The Guardian e o norte-americano The New York Times. “Minha mãe me deu a notícia”, lembra Soffia, com uma tranquilidade estonteante, falando do telefone da casa dela, na zona oeste paulistana. “Eu não imaginava participar de um evento desses.” Segundo a mãe, Kamilah Pimentel, o convite partiu do cineasta Fernando Meirelles (Cidade de Deus), um dos diretores da abertura das Olimpíadas. “Fiquei muito nervosa, tremendo”, confessa Soffia.

Tendo como ídolos Beyoncé e Rihanna, a menina começou a se interessar por música em oficinas de hip-hop, quando era ainda mais jovem. “Nós abraçamos essa vontade dela”, diz Kamilah, que além de responsável pela criação da rapper é produtora cultural. “Partiu dela, nem eu ou minha mãe esperávamos. Ela passou a ir aos saraus e pedir para cantar rimas que tinha feito.” Kamilah e a avó de Soffia, Lúcia Makena, também a ajudaram com as primeiras composições. “Eu tinha 10 anos, e como já sabia um pouquinho fiz com ajuda da minha vó”, lembra a garota. “A gente escolhia um tema e eu tentava fazer a música.”

Soffia ganhou notoriedade com três músicas, “Brincadeira de Menina”, “Minha Rapunzel Tem Dread” e “Menina Pretinha”, todas carregadas de questões raciais e feministas. Os temas podem ser considerados incomuns para meninas da idade dela, mas na casa de Soffia as coisas sempre foram diferentes. “Minha mãe e minha vó sempre me falaram de machismo, preconceito, empoderamento, racismo. Elas me explicavam, me levavam a eventos, me davam bonecas pretas”, conta. “Já sofri e sofro racismo, porque não tem mulheres nem crianças negras em papéis principais na televisão, os negros são sempre empregados ou bandidos. Quando vejo isso faço uma música. É meu modo de falar.”

Jovem que é, Soffia fala pouco e dá respostas diretas, frequentemente encerrando assuntos com um sincero “não sei”. Kamilah conta que a garota é desligada, fica boa parte do tempo jogando no celular – e a mãe não tem interesse em mudá-la. Tanto é que só permite shows em eventos culturais, realizados até as 20h e no fim de semana, para não atrapalhar a rotina escolar. “Quero ficar muita famosa, muito mesmo, mas tendo tempo de brincar, sair e estudar”, enumera Soffia, referindo-se aos sonhos para o “futuro”. “Ah, e também quero que o racismo acabe.”

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