Como um garoto gorducho viciado em tv se tornou o homem mais odiado de Hollywood?
Por Erik Hedegaard Publicado em 08/11/2007, às 18h17 - Atualizado em 17/12/2007, às 17h47
Na infância, Mario Lavandeira passava a maior parte do tempo na cama, vendo tv. Assistia Friends, Melrose Place, She-Ra, He-Man, G.I. Joe, The Wuzzles, Snorks, Transformers, Thundercats, The Facts of Life, Diff'rent Strokes, programas de auditório, novelas e o máximo que conseguisse da MTV. Ficava colado na tela por horas a fio, geralmente vestido só de camiseta e short. Seus pais permitiam. Ele nem precisava levantar para buscar o jantar. O pai, que colava papel de parede para sustentar a família, levava as refeições para o garoto numa bandeja. Ele era zoado na escola por ser gorducho e afeminado, mas quando estava na cama ninguém o superava. Essa era a parte que fez sua infância tão especial, tão deliciosa, tão memorável, tão divertida.
Qual seria o futuro de uma criança como Mario? Na verdade, no que deveria se transformar uma criança como Mario? A mãe pensou que ele seria um bom advogado. Mas o que aconteceu foi que Mario saiu do armário, mudou o nome, tingiu o cabelo, deu um tapa no visual, colou na tela não de uma TV, mas de um laptop, e se tornou Perez Hilton, do site perezhilton.com, que atrai 7 milhões de visitantes que querem saber o que o autodenominado Rainha de Toda a Mídia está aprontando.
O que ele faz em seu blog, basicamente, é escrever comentários maldosos e sarcásticos baseado em fotos de jovens celebridades de Hollywood - Britney Spears, Lindsay Lohan, Nicole Richie - e desenhar nessas fotos - à mão - detalhes suspeitos, como pontos brancos em volta do nariz, das bocas e nas partes baixas. É coisa de "menor denominador comum", totalmente humilhante, totalmente presente: ele está apenas se vingando daquelas crianças que beliscaram suas dobras de gordura nas costas. Ele já recebeu uma proposta para escrever um livro. Suas bochechas redondas, dentes pontudos e trejeitos de gay atrevido animam programas de TV, como o matinal The View. Quando ele anuncia que Fidel Castro morreu, até canais legítimos de notícias o levam a sério (por um segundo). A DJ Samantha Ronson está processando Perez por US$ 20 milhões, alegando que ele a chamou de "tóxica" e "má influência" para Lindsay Lohan. Tem mais, ele foi banido do Hotel Chateau Marmont, em Hollywood, por nenhum outro motivo senão princípios gerais. ("Eu adoro esse tipo de coisa", diz. "Significa que estou fazendo a coisa certa!") Recentemente, ele conseguiu lançar um reality show no canal VH1, What Perez Sez, que mostra as boas relações dele com as celebridades. Na verdade, ele se transformou em uma agora - uma estrela, influente e de quem todos querem ser amigos.
Tem sido uma época louca, fantástica, de virar de ponta-cabeça para o antigo Mario Lavandeira, e ele provavelmente precisa de férias agora mesmo. Mas não é assim que as coisas funcionam. Ele tem um blog que precisa manter atualizado. Hoje, por exemplo, está trabalhando dentro de seu apartamento em Los Angeles, acomodado em uma cadeira baixa, com o laptop equilibrado sobre os joelhos, navegando e procurando conteúdo. Ele faz isso 19 horas por dia. Checa o e-mail constantemente e clica rapidamente entre as janelas na esperança de ver uma foto fresquinha, digamos, de Lindsay Lohan chapada e com os olhos quase fechados. Claro, às vezes ele precisa sair para ir a um evento ou a uma festa. Mas prefere não ir. Gosta mais de ficar onde está, vestindo o mesmo uniforme que usava na época que era uma criança que amava TV, ou seja, short e camiseta. Quanto à comida, já que o pai não está mais por perto, um restaurante dietético toma conta da entrega.
"Eu amo o que faço", conta, durante um intervalo. "Acho tão excitante. Celebridades são loucas. Elas vivem em bolhas e se cercam de possibilidades. Adoro. São tão divertidas. E sou a favor da diversão. É um dos meus lemas: 'apenas divirta-se'. E, se não for divertido, transforme em diversão. Siga a diversão, crie, seja a favor da diversão."
Com isso anotado, ele volta a trabalhar. Em pouco tempo, coloca um monte de novidades no site. Tem uma foto de Lauren Conrad, atriz da série The Hills', conhecida no "Mundo de Perez" como "Cortinas de Bife," com alguns pontos brancos em volta do nariz. Outra de Tara Reid com a seguinte legenda: "Quando pensamos em Tara Reid, lembramos de vodca e infecção vaginal". Outra, de Jessica Simpson, com um pênis muito mal desenhado apontado para seu rosto. Ela também tem alguns pontos brancos saindo de sua boca.
Como diz Perez, é divertido!
É um dia ensolarado e quente no sul da Califórnia, e Perez Hilton não tem escolha senão resmungar algumas vezes, se arrastar de sua cadeira, guardar seu laptop, jogar algumas coisas dentro de sua brilhante bolsinha de vinil da Hello Kitty e se mandar para o aeroporto de Burbank. Depois de conseguir status de celebridade, ele foi contratado por um bar no Hotel Wynn, em Las Vegas, para desempenhar a função de atração principal. Seu cabelo é rosa-orquídea. Veste jeans e tênis pretos e um casaco de capuz colorido. Sua voz varia de muito alta a incrivelmente alta. Há seis meses, ele morava em um apartamento ruim, sem TV nem internet, e usava o café "Coffee Bean & Tea Leaf", na Sunset Boulevard, para blogar. Seu novo apartamento fica dentro de um condomínio fechado. Seu carro velho pifou, e agora ele dirige um Toyota Camry 2007. Não conta quanto ganha com o site, mas US$ 250 mil é provavelmente uma estimativa bastante conservadora. Em outras palavras, ele está ficando absurdamente rico e famoso à custa da falta de sorte e trabalho dos outros.
Hoje, sua visão sobre Lindsay Lohan é: "Ela está um pouco louca e drogada. Talvez as drogas a enlouqueceram. Não sei". Sobre Avril Lavigne: "Ela é estúpida como uma ducha íntima". Rumer Willis (filha de Demi Moore e Bruce Willis): "Ela também é uma ducha". Jennifer Aniston: "Odeio ela". Paris Hilton é... Bem, ele não tem uma visão sobre ela. Afinal, são amigos. Sua visão sobre Sienna Miller: "Eu a chamo de Sluttienna [Biscatienna]". Tara Reid: "Ela está tentando largar o álcool. Foda-se!".
Claro, Hilton tem coisas boas pra dizer. "Amy Winehouse é uma amiga muito querida." Também gosta de Madonna, Oprah Winfrey, Angelina e Brad.
Mas logo volta ao trabalho de costume. "Escrevi sobre Britney Spears mais do que qualquer outra pessoa até agora, fácil", diz. "Eu era o maior fã da Britney. Diferentemente das Nicole Richies ou sei lá quem, ela realmente é talentosa. Na sua melhor fase, vendia como ninguém. Depois de assistir a tudo o que aconteceu com ela, me senti enganado e trapaceado. Aquela garota que eu conhecia e amava se revelou não ser grande coisa. Era tudo falso. Essa é a Britney de verdade. E a Britney de verdade é estúpida. Tipo estúpida, estúpida. Uma vagabunda tonta, drogada e horrorosa."
A percepção de Hilton sobre o que faz é: "Estou divertindo e informando, satirizando, mas celebrando. É assim que eu me expresso. Se eu não pudesse fazer isso, seria como se tivessem arrancado minha língua. Acho que estou contribuindo para um mundo melhor. Acho que o que faço é bom. Até que é nobre".
Sobre si mesmo, pensa: "Não sou celebridade. Hoje, uma celebridade é alguém que é famoso só por ser famoso. Existe uma conotação negativa. Sou um humorista, um trabalhador, uma abelha ocupada, derramando mel por toda parte".
Muito do que se sabe sobre como Hilton chegou até aqui já virou lenda. Ele se mudou para Nova York quando tinha 18 anos, fez o curso completo de teatro na Universidade de Nova York, abraçou sua homossexualidade pela primeira vez, mudou-se para Los Angeles depois de se formar, foi despedido de dois empregos, retornou a Nova York, foi contratado para escrever fofocas na revista Star, odiou, entrou em profunda depressão, pensou em suicídio ("Eu ia cortar meus pulsos, ou tomar remédios, ou tomar um tiro, ou pular de um prédio. Pensava nisso todo dia"), foi mandado embora da revista e então começou a trabalhar período integral num blog de fofocas que ele começou por hobby e batizou de pagesixsixsix.com, como a famosa página de fofocas do jornal New York Post. Ainda era Mario Lavandeira nessa época. Em 2005, entretanto, o Post o processou, e ele escolheu um novo codinome: Perez Hilton, combinando suas raízes latinas à garota-faz-nada mais famosa do mundo. Então rebatizou seu blog como perezhilton.com. Foi nessa época que o programa The Insider o classificou como "o site mais odiado de Hollywood". Ele estava no mapa e estava crescendo rápido.
Sobre Mario, no entanto, pouco se sabe. O que já foi publicado conta que seus pais são cubanos, que ele cresceu em Miami, freqüentava uma escola jesuíta para meninos e saiu da cidade assim que pôde. E é isso. Hilton gosta desse jeito. "Comecei a ter a vida que escolhi depois de sair de Miami", conta. "Qualquer coisa que veio antes dos 18 anos não importa. Depois dos 18, foi quando comecei a ser eu mesmo, a sair, ser gay, assistir a peças de teatro, namorar e coisas do tipo."
E que tipo de criança era Mario, além de ter sido um ser esquisito que só assistia TV e ficava na cama? Hilton não fala muito sobre essa fase, mas com o tempo, alguns detalhes surgem. Ele não gostava de sair de casa. Nunca cortou a grama. Ele teve oportunidade de ir pescar com o pai, mas nunca aconteceu. Não tinha muito em comum com o resto das crianças. A mãe dele era uma fofoqueira. Quando tinha 7 anos, Mario já sabia que era gay. Tinha medo do mar e do que ele poderia conter - monstros marinhos e tubarões, principalmente. Na sua própria casa, tinha medo da privada, temia que alguma coisa sairia ali de dentro, agarraria sua bunda gorda e o levaria para lá. Entre os 4 e 8 anos, ele fez cocô na calça três ou quatro vezes, de repente, sem querer, foi tão traumatizante e triste que ele lembra cada instante até hoje. Seu pai, o cara que trazia seu jantar tantas vezes, morreu quando Mario tinha 15 anos. Ele não se importou muito. "Evitei todo o processo de luto", conta. "Era verão, e eu tinha um emprego de assistente de escritório. Então voltei ao trabalho. É o que faço. Não deixo as coisas me aborrecerem. Eu fui uma criança feliz. Vivia no meu mundinho de fantasia. Minha infância foi divertida."
Dentro do avião para Las Vegas, Hilton adormece imediatamente, com uma revista de fofoca Us Weekly (sua favorita) caindo sobre seu peito, um de seus dentes de vampiro aparecendo por entre seus lábios secos e vermelhos. Normalmente ele não sonha, então provavelmente não está sonhando agora, mas, se estivesse, provavelmente seria com Britney. Ninguém é mais importante para o sucesso de Hilton do que Britney. Ela fornece ração infinita para ele. Na verdade, podemos dizer que, sem Britney, não há Perez.
Ele tem uma fantasia com ela. Nela, Britney ganha muito dinheiro para apresentar um evento em uma grande casa noturna lotada. A imprensa toda está lá. Britney está consumindo muitas drogas. Ela desmaia. Uma ambulância a leva para o hospital. Durante as duas próximas semanas, ela está em coma. Do lado de fora do hospital acontecem "vigílias, rodas de oração e aquelas coisas todas".
Finalmente, ela desperta do coma e se compromete a melhorar sua vida. O motivo da fantasia é que, durante aquelas duas semanas com Britney em coma, a idéia que Hilton tem sobre o paraíso se materializa: "Oh, meu Deus, uma história tão genial. Adoro".
Se você fosse uma celebridade como Britney, e se Perez Hilton não gostasse de você, você também não gostaria dele. Tara Reid e Nicole Richie já bateram boca com ele. O jardineiro de Desperate Housewives, Jesse Metcalfe, encontrou Hilton em uma casa noturna e disse: "Você tem idéia de quantas vezes eu já sonhei em te matar?". Na maioria das vezes, ele não liga: "Se você não gosta do que escrevo, não leia. É simples assim". Uma boa parte da comunidade gay também não gosta dele, principalmente por publicar artigos decidindo quem precisa sair do armário. Ele fez isso com Lance Bass (do NSYNC) e com o ator Neil Patrick Harris. Já fez isso com outros também. Pessoalmente, ele não consegue entender a razão do burburinho. "Por que está tudo bem quando a mídia fala sobre o relacionamento secreto de Drew Barrymore e Justin Long, e não está tudo bem quando eu falo sobre relacionamentos secretos gays? Não entendo."
O avião entra numa área de turbulência e começa a sacudir. Os comissários são orientados a tomarem seus assentos. Algumas pessoas parecem pálidas. Hilton também está pálido e pastoso, mas essa é a aparência de sempre. Ele ainda está dormindo, sem se incomodar com a comoção em volta. Se estivesse acordado, porém, diria que aquilo era divertido. Mesmo se o avião estivesse caindo, ele provavelmente diria a mesma coisa. Ele é assim. Esse é o homem que ele se tornou. Na cabeça dele tudo é divertido, e se você não gostar, osso duro, vá pegar outro avião. Ah, você não pode? Bem, isso é problema seu, não dele.
No hotel Wynn, Perez Hilton vai para o quarto e permanece lá pelas próximas vinte e cinco horas e meia seguintes. Uma vez vestindo o short e a camiseta, ele não se troca de novo até a noite seguinte. Ele escreve no blog por um tempo, depois pede o jantar: uma tábua de frios italianos cheia de carnes e queijos, uma quesadilla de camarão, um prato de capeleti, purê de batatas, uma Coca-Cola e um pudim de caramelo para sobremesa. Enquanto devora, diz: "Não gosto de ser um boi gordo, mas tudo bem, porque eu amo comer e qualquer coisa que eu adore, eu gosto de fazer bastante. O que eu não entendo é por que não cuido melhor do meu corpo. A uma certa altura, vou ter que criar um compromisso comigo mesmo".
Ele levanta e circula pelo quarto. É enorme, com janelas que vão do chão até o teto e que têm uma vista ampla das luzes românticas de Las Vegas.
"Preciso fazer xixi", ele fala.
Na volta, senta no sofá e diz: "Não me importo se não tenho namorado no momento. Não sou uma dessas pessoas que sentem que precisam de outra para se sentirem completas. Ao mesmo tempo, digo coisas negativas a mim mesmo, como 'Você é gordo e não merece ser amado'. Um dos motivos pelos quais não quero um relacionamento agora é por não querer ficar nu com alguém, porque me sinto muito gordo e nem um pouco sexy".
Suspira. Do jeito que está falando agora, parece ser o Mario, não Perez.
"Não me masturbo tanto assim, também", continua. "Faço pelo menos uma vez por semana. Mas eu precisava fazer mais. Não é das piores coisas. Sei lá."
Então ele volta a ser Perez e, como Perez, fala que não irá contar o que são os pontos brancos que ele tanto gosta de desenhar no site. Algumas pessoas acham que é esperma, ou meleca, ou xixi. "Os pontos são o que você quiser que sejam", declara. "Eu os chamo de amor. Amor é como eu os chamo." E fica silencioso por um momento, pensando. "Quer saber? E daí se algumas pessoas odeiam Perez? Eu não ligo. Durmo muito bem à noite. Veja bem, sou um personagem. Perez é quem acaba com as pessoas. No começo, eu achava muito cafona sair por aí e me chamar de Perez. Agora, eu vesti a camisa. Perez me trouxe uma oportunidade", conta. "Perez melhorou minha vida."
(Tradução: Ana Franco)
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