Perry Farrell fala sobre paternidade e teoriza a respeito do rock alternativo

Brian Hiatt

Publicado em 11/07/2018, às 18h56 - Atualizado às 19h01
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Perry Farrell - Ilustração: Mark Summers

Seria correto dizer que a decisão mais acertada que você tomou na sua carreira de executivo foi não vender o nome Lollapalooza?

Sim. Lá para 1997 alguns outros festivais começaram a aparecer e a diluir o universo de artistas dentro do qual podíamos escolher. Então, decidimos matar o evento. Mas logo depois disso um monte de gente apareceu querendo a marca. “Você pode vender para mim por US$ 1 milhão.” E eu só repetia: “Não, não vou entregar para você. Eu prefiro ser enterrado com o nome”. E isso porque eu estava totalmente falido! Aí em algum momento o Jane’s [Addiction] voltou para fazer um disco e eu falei “Quer saber? Eu vou organizar outro Lollapalooza e colocar esse bloco na rua novamente”.

E agora você colocou o seu próprio dinheiro em um projeto chamado Kind Heaven, um elaborado destino multimídia que investe em realidade aumentada em Las Vegas. Por quê?

Em Vegas eles sempre querem que você se arrisque. A minha sensação era de “Uou, eu realmente estou lidando com uns caras durões aqui”. Na última hora eles vinham com “Eu preciso do seu dinheiro!” Minha primeira reação era de “Não, você não vai vir com essa pra cima de mim”. Mas agora eu consigo olhar para todos os meus sócios e se alguém tentar me passar para trás vou dizer a eles: “Olha, eu sou um sócio de verdade aqui. Não é como se eu fosse uma criancinha e a William Morris ou a Live Nation fossem meu pai”.

Você tinha um relacionamento difícil com o seu pai e saiu de casa quando tinha 17 anos – como isso afeta a maneira como cria seus próprios filhos?

Por mais ocupado que a gente esteja, a primeira consideração que temos é sempre a nossa família. Você é como um pastor. Se você perde uma ovelha, essa ovelha pode se machucar. Eu me lembro de ter me mudado para a Califórnia e de todas aquelas situações erradas nas quais me meti. Eu contei recentemente para a minha esposa, Etty, sobre o dia em que eu entrei em um iate e eu era – sério mesmo – eu era um acompanhante pago. E ela reagiu meio “Espera aí…” Eu falei “Bom, Etty, você sabe, não foi como se eu tivesse me inscrito e soubesse que eu acabaria lá como um acompanhante!” Você fica sozinho no mundo e as pessoas se aproveitam de você. E você lá pensando: “Um iate? Ótimo, open bar de bebidas!” A moça que eu namorava naquela época me trocou pelo cara que era dono do iate. Hoje em dia eu consigo rir da situação, porque não sei onde raios ela foi parar, mas eu posso garantir que ela não está mais naquele iate.

Tem alguma coisa na sua vida atualmente que faça com que você se sinta velho?

Os meus filhos. Só porque eles já não acham mais que eu sou tão legal assim. Tipo, eles vão ao Lollapalooza, mas não querem que eu fique andando ao lado deles. Isso me mata. No Lolla, chamei meu filho e ele estava lá com os amigos dele, e não saiu do lugar. Aí eu insisti e ele perguntou se precisava andar comigo para todo lado. Naquele momento eu me senti realmente muito velho, meio... caramba, não sou mais tão legal assim. E aí tentei de tudo. Fui andar de skate com ele, o que foi uma boa, porque eu ando de skate razoavelmente bem, sou de longe o cara mais velho lá nos bowls.

Você se lembra da primeira vez que ouviu o termo “alternativo”?

Eu acho que foi em 1991. Sabe por que eles associaram isso a nós, eu acho? Naquela época, falava-se muito em energia alternativa, combustível alternativo. Então, pensaram: “Isso definitivamente é a alternativa ao hair metal”.

A impressão que dá é de que você não ganhou 1 grama desde 1991. Qual é o seu segredo?

Eu adoro entrar na água. Nadar, surfar... Eu passeio com os meus cachorros por 6,5 quilômetros todos os dias. E, de verdade, sexo faz muito bem. Muito bem. Cantar e dançar também é imbatível. Eu também como muito pouco nas refeições, mas adoro comida e não sou anoréxico. Mas nunca gosto de ter aquela sensação de que estou estirando meus intestinos.

Houve um momento de revelação espiritual para você?

Teve um momento no início dos anos 1990, quando eu não queria mudar meu estilo de vida. Mas vou te dizer uma coisa: largue as drogas e você vai se espiritualizar. Sair dessa dá a sensação de que você está sendo crucificado, mas recebe uma bênção em troca.

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