Father John Misty vê humanidade frágil e refém de si mesma em disco cheio de sarcasmo e arranjos refinado
Lucas Brêda Publicado em 17/04/2017, às 16h57 - Atualizado às 17h08
‘‘Emergimos semi-formados e esperamos que quem quer que nos receba do outro lado seja gentil o bastante para nos atualizar”, canta Josh Tillman, contemplando a chegada de um bebê nos versos de “Pure Comedy”. A faixa-título do terceiro e mais aguardado álbum do projeto solo de Father John Misty foi recebida como uma canção política e pessimista. “Esse disco trata de amor”, ele rebate, ao telefone, falando de pijama da casa onde vive, em Los Angeles. “Os primeiros versos de ‘Pure Comedy’ são sobre amor. Sobre perceber o quão carentes nós somos e como o mundo fica mais absurdo conforme deixamos de cuidar uns dos outros.”
Desde que deixou o Fleet Foxes – no qual tocou bateria por quatro anos, depois de alguns discos solo como J. Tillman –, Father John Misty lançou Fear Fun (2012) e se firmou com o celebrado I Love You, Honeybear (2015). A presença confusa nas redes sociais e os comentários recheados de ironia e sarcasmo inflaram a persona de Father John Misty, que acabou escrevendo canções para Beyoncé e Lady Gaga. “Hold Up”, de Lemonade (2016), é coassinada por ele, assim como “Come to Mama”, de Joanne (2016). A expectativa em torno de Pure Comedy cresceu a ponto de o compositor ser sondado por grandes gravadoras. “Me chamaram para almoçar e blá-blá-blá, mas não pertenço a esse lugar”, diz, sem esconder o desprezo. Ele preferiu permanecer na independente Sub Pop.
O recém-lançado terceiro disco de Father John Misty tem produção e arranjos refinados e é tomado por uma atmosfera reflexiva. “Os seres humanos não mudaram tanto na história”, teoriza, refutando que as faixas sejam políticas, apesar de eventos como a eleição de Donald Trump o terem influenciado. “Achamos que mudamos muito e é aí que a merda começa: quando pensamos que somos tão desenvolvidos que não precisamos nos preocupar, tipo: ‘Nunca vai ter outro louco maléfico’.”
Pure Comedy funciona como uma piada sem graça, daquelas capazes de amargar um sorriso antes mesmo de ele estar completamente formado. Ou mesmo como uma pesada injeção de realidade. “Muitas pessoas não são entretidas pelo que faço”, analisa, divagando sobre entretenimento e arte. “Entretenimento é tipo heroína, arte é cogumelo [alucinógeno]. Entretenimento te faz esquecer da vida. Arte faz você se lembrar dela.”
Andrea Bocelli ganha documentário sobre carreira e vida pessoal
Janis Joplin no Brasil: Apenas uma Beatnik de Volta à Estrada
Bonecos colecionáveis: 13 opções incríveis para presentear no Natal
Adicionados recentemente: 5 produções para assistir no Prime Video
As últimas confissões de Kurt Cobain [Arquivo RS]
Violões, ukuleles, guitarras e baixos: 12 instrumentos musicais que vão te conquistar