"Sou meio camicase mesmo. Odeio monotonia, odeio fazer a mesma coisa sempre" - Divulgação

Pitty

Cantora está devidamente vacinada contra a eterna epidemia do mundo pop, a "síndrome do underground"

Por Ademir Correa Publicado em 07/05/2008, às 16h39 - Atualizado em 04/08/2008, às 18h13

Seu dueto com jared Leto, da 30 Seconds to Mars, em "The Kill" invadiu as rádios brasileiras e Pitty ainda deixou sua marca como intérprete no CD-projeto Na Confraria das Sedutoras cantando "Lágrimas Pretas", de Lirinha (Cordel do Fogo Encantado) e filmou uma participação em um curta fazendo dança no poste. Grávida, ela continua sua turnê [Des]concerto ao Vivo e pretende parar para compor seu novo disco, sob efeito dos hormônios.

Ficou surpresa ao receber críticas somente por ser a mais conhecida das vozes do disco Na Confraria das Sedutoras, do 3 na Massa?

Ah, quer saber... já esperava. Existe um ranço no Brasil. Minha parada acabou sendo bem-sucedida comercialmente e blablablá - tudo aquilo que a gente já sabe. Então isso cria uma certa reserva ao lidar com as coisas que faço. Existe aquela peste de: "Ai, é conhecida, não pode ser legal porque o povo é burro". Tudo o que é muito popular por aqui é popularesco, mundano, vil. Isso até acontece, mas acho que as pessoas tinham que se desprender do fato de ser eu ou a garotinha cult da banda underground megahypada da esquina. É engraçado porque, quando tinha 14 anos e queria parecer especial pros meus amigos, citava um monte de banda que ninguém conhecia para poder ser cult. Se dissesse que gostava dos clássicos, seria comum. Mas tem uma galera hoje que é mais velha e continua com essa "síndrome do underground"... É muito mais legal falar de uma menina "uau", que acabou de surgir e é um hypinho do que de uma que tá aí, toca no Faustão. Preferia que todos simplesmente abstraíssem e se concentrassem no som, que é o que deveria ser mais importante. Infelizmente, nunca é.

Não a incomoda ser bem-sucedida comercialmente?

Rapaz, muitíssimo pelo contrário. É isso que faz com que esteja aí em um país em que viver de arte é um absurdo. Os caras precisam ficar em empregos que detestam para poder lançar um livro, um curta, gravar uma demo. Eu consigo fazer só o que gosto.

Por isso você aceitou dançar no poste no curta Charles Manson, do André Moraes?

Tô aqui pra aventura. O André é meu brother - a gente se conheceu na trilha do Meu Tio Matou um Cara (2004). Ele contou que tava filmando uma parada e tinha pensado em mim para fazer uma ponta. Falei: "Vamo aí". Foi uma experiência nova, fiz por diversão, sem pretensão.

Com essa mesma despretensão, você cantou "Umbrella", da Rihanna, em um show?

"Umbrella" é interessante em termos de melodia, só pensava que o arranjo era errado, tinha que ter mais guitarra. Acho que era um rock tocado por pessoas que não sabiam fazer rock. Mas a gente tocou por sarro mesmo, porque ela tava megabombando e resolvemos ter nossa versão.

Arte para você é criar sempre cercada de amigos?

Com certeza. A vida é feita de encontros. E tenho tido muita sorte nesse aspecto. Meus amigos são loucos, criativos, com a cabeça fervilhando de idéias e com coragem de colocá-las para fora.

A parceria com a 30 Seconds to Mars (ela gravou uma participação na música "The Kill") foi um encontro mais comercial do que uma afinidade artística, não?

A única diferença é que não sou amiga dele [do vocalista Jared Leto]. Foi um convite entre gravadoras e vislumbrei uma possibilidade de ampliar o público lá fora. Fui lá no estúdio, fechei o olho e cantei do jeito que achava que tinha que ser. Sou meio camicase mesmo. Odeio monotonia, odeio fazer a mesma coisa sempre. Preciso daquele frio na barriga, entende? Você nunca sabe se vai se dar bem. Gosto de achar que vou quebrar a cara. De pensar: "Porra, velho, dessa vez vai dar merda".

Agora grávida (do baterista do NXZero, Daniel Weksler), como fica sua carreira?

Tô tentando entender como essas duas situações vão funcionar juntas. Não fico supervalorizando e achando que vai mudar minha carreira, minha vida. Não viajo nisso, não. Por enquanto está tudo tão normal. Até o meio do ano vou continuar na turnê. Depois já ia parar mesmo pra compor. Tô precisando muito desse momento, é nesse ócio que vou achar coisas novas. Já tenho alguns embriões. Umas coisas meio Frankenstein.

E se o seu novo disco vazar antes da hora?

A gente tenta evitar. Se acontecer, beleza. Não acho que seja nada de muuuito ruim. Me coloco como público. Quando vaza o som de uma banda de que gosto, quero ouvir, fico feliz por ter acesso.

O vazamento é válido nesse sentido?

Acho que sim. Hoje em dia isso não é o mais preocupante. Tem que pensar é em fazer música boa.

Mas essa música boa pode chegar antes em um camelô, não?

Aí não tem jeito. Tomara que chegue junto no camelô, na loja, no celular, em todos os lugares.

Faria tudo pela sua música?

Pelo bem dela, tudo.

Posaria nua?

Isso não seria para o bem da minha música [risos].

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