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PJ Harvey fala sobre o novo disco, como ignora o passado e a possibilidade de voltar ao Brasil; confira na íntegra a entrevista com a cantora

Bruna Veloso Publicado em 14/07/2011, às 16h53 - Atualizado em 17/05/2012, às 16h45

PJ Harvey está na seção 6 Perguntas da edição 58 da Rolling Stone Brasil. Abaixo, você confere a entrevista com a cantora na íntegra.

Em Let England Shake, seu oitavo álbum, PJ Harvey voltou toda a sua força criativa às dores da guerra. Apesar de usar a Inglaterra como pano de fundo, a cantora britânica se inspirou nos conflitos no Afeganistão e no Iraque para compor as faixas do disco, uma coletânea de composições pesadas nas letras, mas edificantes nas melodias. "A música tinha que, de alguma forma, levantar aquelas palavras pesadas do papel e levá-las ao ouvido", ela teoriza.

Sendo de outro país, sinto que apesar de Let England Shake falar de forma específica sobre a Inglaterra, a mensagem do disco é universal. Era essa a ideia?

É exatamente o que eu tentei fazer. Acho que, como compositora, ser mais específica te dá uma força maior. Ao mesmo tempo, eu estava tentando escrever sobre a condição humana. As músicas no álbum falam de situações com as quais todos nós podemos nos identificar.

Você lembra quando surgiu a ideia de fazer um disco com esse tema?

Geralmente, quando termino um trabalho grande, já começo a pensar para onde vou em seguida. Quando terminei de escrever White Chalk, eu estava naquele período de transição muito peculiar, que é sempre muito estranho. Eu não tinha certeza para onde ia, mas lembro de pensar... lembro de sentir o quão tocado o mundo estava com a situação no Iraque e no Afeganistão. E comecei a refletir sobre tentar, de alguma forma, começar a falar sobre a situação pela música. Eu não sabia se seria possível. Foi quando o primeiro pensamento surgiu.

Então você já pensa no próximo disco?

Sim, já está encaminhado. É como eu sou: eu nunca paro ou começo, é uma continuidade. Já escrevi bastante para o que provavelmente vai se tornar o próximo projeto.

Li que ao compor Let England Shake você queria ver as palavras no papel como poesia. Isso mudou permanentemente seu modo de compor?

Sim. Acredito que à medida em que envelheci e fiquei mais experiente como compositora, fiquei muito mais interessada na palavra escrita, nas possibilidades das palavras. Tendo a gastar mais tempo com a escrita, para tentar fazê-la o mais forte possível. As palavras assumiram uma grande importância, e de alguma forma elas têm que ser o alicerce a partir do qual eu escreverei, depois, a música.

Em "The Words That Maketh Murder" há um verso que chama a atenção: "What if I take my problems to the United Nations?" [E se eu levar meus problemas para as Nações Unidas?]. É, de alguma forma, um jeito irônico de dizer que as coisas não estão funcionando?

Eu sempre quero deixar a interpretação das palavras a cargo do ouvinte. Nunca quero dizer às pessoas como elas devem ou não interpretá-las. E isso foi uma das coisas importantes pra mim ao compor o álbum: que houvesse um grau de ambiguidade, e que as pessoas pudessem ter suas próprias ideias.

Com esse disco, você mostrou o quanto é afetada pela guerra. Mas o que te traz alegria e te afeta positivamente?

Todos os dias eu encontro momentos de grande felicidade, e geralmente isso vem das coisas mais simples. O modo como as pessoas se tratam... se alguém faz uma coisa boa para mim, ou se eu puder fazer algo bom para uma pessoa, ou mesmo para um animal. A gente pode ser boa com um animal. São esses momentos muito simples, e às vezes eu acho que isso é o verdadeiro alicerce da esperança.

Você revelou recentemente que quer divulgar poemas e pinturas. Pretende lançar algo ainda em 2011?

É algo que eu gostaria muito de fazer. Acho que reunirei tudo até o final do ano, mas não deve sair antes do ano que vem. Eu desenhei e pintei durante toda a minha vida, e escrevi muitas coisas que nunca viraram músicas. Agora me pareceu uma boa ideia fazer uma coletânea desses trabalhos.

O seu trabalho artístico é praticamente diário. Produzir arte é como uma necessidade física?

Sim, é. É um desejo grande que eu tenho, e todos os dias quero explorar o mundo por meio do meu trabalho, seja em palavras ou pinturas. Todos esses tipos diferentes de mídia me ajudam a entender o mundo.

Dry, seu primeiro álbum, foi lançado há quase 20 anos. Isso tem um significado especial?

Não diria que tem um significado maior do que qualquer outro dos meus discos. Todos são igualmente importantes para mim. Acho que todo artista passa por diferentes estágios em seu trabalho, e cada um deles o leva em direção ao trabalho seguinte. É como a vida. Eu não me volto muito ao passado, tento estar bem conectada ao presente.

Mesmo assim, você lembra se naquela época já sentia que trabalharia com música por tanto tempo?

Não tinha ideia. Sabia que tinha a oportunidade de gravar um álbum, e aquilo foi um presente tão maravilhoso que eu quis dar tudo de mim. Estava bem preparada para ninguém querer ouvir o disco, e para eu ter que procurar um emprego.

Dizem que Stories from the City, Stories from the Sea é o álbum do qual você menos gosta. É verdade? Você se arrepende dele?

Não, não me arrependo de nada do que fiz. Sem aquele disco, eu não estaria onde estou hoje. Na verdade, eu não ouço nenhum dos meus discos, porque, como eu disse, estou totalmente ocupada com o presente. Eles saíram para o mundo, são para as pessoas ouvirem, não para eu ouvir ou julgar.

Tem planos de voltar ao Brasil?

É algo que quero muito fazer. Estamos vendo de ir em 2012, mas não há nada decidido ainda.

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