<b>INCANSÁVEL</b> Kisser gosta de se manter ativo tocando em diversos projetos - Melissa Castro/Divulgação

P&R - Andreas Kisser

Após aclamação no Rock in Rio, guitarrista prepara próximos passos do Sepultura

Cassiano Barbosa Publicado em 29/10/2013, às 15h53 - Atualizado às 16h27

Aos 45 anos, Andreas Kisser pode dizer que já fez quase de tudo: explodiu mundialmente junto ao Sepultura e passou a liderar o grupo após a saída gradual dos irmãos Cavalera, viajou e tocou em todos os continentes, deu início a uma carreira solo e hoje tem até um projeto com o próprio filho. Em setembro, Kisser tocou duas vezes com o Sepultura no Rock in Rio – uma delas ao lado de Zé Ramalho (a combinação foi aclamada pelo público, que aplaudiu o “Zépultura”). E este mês, o grupo lança mais um disco, The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, produzido por Ross Robinson, o mesmo do clássico Roots(1996).

O Sepultura foi atração do programa +Ao Vivo, com participação da Rolling Stone Brasil, e ainda revelou detalhes do novo disco, programado para sair em outubro; assista.

Você já tocou com inúmeros artistas. Ainda falta algum com quem gostaria de trabalhar?

Sempre falo que um grande sonho é fazer alguma coisa com o U2. Fizemos a cover da música “Bullet the Blue Sky”, que até hoje, depois da versão para “Orgasmatron” [Motörhead], foi uma das covers mais reconhecidas do Sepultura.

No novo disco e ao vivo, no Rock in Rio, ao lado de Zé Ramalho, você cantou “Da Lama ao Caos”, de Chico Science & Nação Zumbi. Quando Max Cavalera deixou o Sepultura, você pensou em assumir os vocais?

Compusemos o Against [disco de 1998] quase como um trio. O Derrick [Green] entrou em uma fase mais final, para completar as vozes. A gente passou um período considerável como trio, mas nunca nos apresentamos ao vivo, foi só uma coisa de estúdio. Fiz até umas aulas e aprendi alguma coisa de aquecer. Também não queria largar o foco da guitarra. Hoje estou usando mais a voz, no meu projeto solo. Também tenho uma banda com meu filho chamada Kisser Clan. A gente está tocando só covers e eu sou o vocalista. É uma experiência bem legal.

Entrevista: Derrick Green, vocalista do Sepultura, treina boxe para luta beneficente.

E você acaba de lançar o projeto paralelo De La Tierra, em espanhol.

O Alex Gonzalez, baterista do Maná, me ligou no começo deste ano. Já fazia algum tempo que ele e o Andrés Giménez, ex-A.N.I.M.A.L e atual D-Mente, estavam a fim de fazer um projeto de metal. Eles falaram com o Flavio Cianciarulo, que é baixista do Los Fabulosos Cadillacs. Eu fui o último a ser chamado, eles queriam um guitarrista solo pra completar o time. Fizemos demos pela internet e depois fomos gravar em Buenos Aires. Nunca nos apresentamos ao vivo juntos, mas apesar disso a banda soa como se já estivesse tocando junta há muito tempo.

Como surgiu o título The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart?

O álbum foi inspirado no filme alemão Metropolis, da década de 20, do Fritz Lang. Esse filme tem essa frase, que é espetacular. Tem o significado de que se você tiver a cabeça raciocinando com ideias, e estiver agindo com as mãos, sem o coração, sem a parte humana, você não é mais que um robô. Desse jeito, você só recebe a informação e age sem contestar, sem argumentar. Tem letra sobre religião [“The Vatican”], a mídia [“Manipulation of Tragedy”] e sentimentos pessoais [“Grief”], mas a gente fala de tudo através disso, de não perder a parte humana.

Você se incomoda com as comparações que fazem entre o Sepultura de hoje e o de antigamente?

Não é que incomoda. É uma coisa com a qual eu tenho que conviver pra sempre, e eu respeito qualquer opinião. Lógico que eu não vou concordar com todas, mas se você tem um cérebro e uma boca, tem que falar. As pessoas dizem “Eu queria ver isso, eu queria ver aquilo” – você pode esperar o que você quiser. Tem gente que ainda está esperando ver Jesus voltar.

Andreas Kisser lembra histórias do Rock in Rio: “Perdi Iron Maiden e Queen porque fiquei de recuperação na escola”.

Em que pé está o documentário do Sepultura?

Está na mão do Otávio [Juliano, diretor], ele está indo atrás de vários depoimentos. Acho que vai ser um filme bem interessante, não é para lavar roupa suja, é para mostrar o que o Sepultura é hoje. Tem muita gente que conhece a banda, mas não tem a mínima noção do que o Sepultura conquistou fora do Brasil e da importância que temos em vários países, até mais do que aqui. A gente não consegue uma porra de patrocínio para o nosso filme aqui no país, é inacreditável. Grandes empresas ainda têm o preconceito de investir no heavy metal, só porque o nome Sepultura vai assustar algumas velhinhas.

Rock in Rio 2013: os melhores momentos dos sete dias de festival, como o show do Sepultura.

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