Líder do Foo Fighters, que vem ao Brasil em abril, discute o futuro do rock e relembra o Nirvana
Simon Vozick-Levinson Publicado em 13/02/2012, às 11h45
O Foo Fighters estava a milhares de quilómetros de casa, em turnê, quando seus integrantes souberam que o sétimo LP do grupo, o pesado Wasting Light, havia sido indicado em seis categorias do Grammy. “É o ponto alto do ano para a gente”, diz o líder da banda, Dave Grohl, falando direto da Austrália, em um intervalo entre shows. “Acredite, ficamos loucos quando soubemos.” Assim que voltar aos Estados Unidos, Grohl retomará o trabalho no documentário que está dirigindo sobre o Sound City, lendário estúdio de Los Angeles. “É bem empolgante”, ele diz sobre o filme. “É uma visão incrivelmente clara – você vai ver.” Em abril, Grohl traz o Foo Fighters ao Brasil, como uma das principais atrações do Lollapalooza.
Parabéns pelas indicações ao Grammy! Está feliz com elas?
É muito louco. Quero dizer, um álbum feito na minha garagem – totalmente analógico, sem computador algum – ser indicado como Álbum do Ano? É, de certa forma, inspirador. Tipo, é ok soar de forma humana.
Deadmau5 também foi indicado pelo remix de “Rope”, do Foo Fighters. Você é fã dele?
Esse cara é do caralho! Minha filha e eu costumávamos encher uma cama inflável, ligar uma rádio via satélite de dance e ficar pulando igual a malucos durante horas. Foi assim que o descobri: por causa de uma música chamada “I Remember” – fodidamente linda.
Qual foi o seu momento favorito nesta turnê?
Tocar “Bad Reputation” com Joan Jett no Madison Square Garden [Nova York] foi incrível. Teve também o Alice Cooper no Milton Keynes Bowl, na Inglaterra – ele entrou no bis e cantou “School’s Out” e “I’m Eighteen” com a gente para 65 mil pessoas. Roubou o show. Mas a maior honra foi fazer uma jam com Bob Mould em um show de tributo a ele, em Los Angeles. Devo muito a esse cara.
Qual é a ideia por trás do documentário que você está fazendo?
Foi muito triste quando o Sound City fechou, no ano passado. Aquele lugar era como um templo. A lista de pessoas que gravaram lá é praticamente um Hall da Fama do Rock and Roll: Neil Young, Fleetwood Mac, Tom Petty, Cheap Trick, Slayer, Rage Against the Machine, Weezer, Metallica – e o Nirvana. Gravamos o Nevermind lá, em 1991. Aquele lugar velho, cheirando a mofo, tinha a melhor sala para se gravar bateria do mundo. O som da bateria no começo de “Smells Like Teen Spirit”? Isso é o Sound City. Decidi fazer um filme sobre a sensação que você tem quando coloca cinco caras em uma sala, aperta o botão de gravar, e os pelos da sua nuca se arrepiam. Pode esperar algumas jams épicas.
O que o aniversário de 20 anos de Nevermind no ano passado significou para você?
Foi uma viagem, mas não no sentido musical. Foi muito mais pessoal. Minha vida é dividida em duas partes: pré-Nevermind e pós-Nevermind. E são dois mundos diferentes! Olhar para trás e ver isso tudo fez com que eu me sentisse como se não tivesse acontecido há tanto tempo assim, mesmo. Fez com que eu sentisse que ainda tenho muito mais a fazer. E fez com que eu sentisse saudade do Kurt.
O que acha de toda essa nostalgia recente a respeito dos anos 90?
Não vejo nada que eu ache uma nostalgia noventista de verdade. Guitarras altas pra cacete e bateristas que destroem sua bateria – quando foi que isso deixou de existir? Acho o máximo que bandas como o Soundgarden ainda consigam mandar ver, mas eu não consideraria isso nostálgico. Não é como se as guitarras, as baterias e as pessoas que fazem discos honestos tivessem morrido e agora estivessem sendo ressuscitadas em algum laboratório do tipo “Parque dos Dinossauros”. Essa porra ainda existe. Só está sufocada sob uma pilha de lixo.
Mas esses são tempos difíceis para as rádios de rock, não?
É óbvio que as rádios de rock têm sofrido de algum tipo de síndrome da playlist “formulaica” nos últimos dez anos. A sensação que você teve na primeira vez em que ouviu “Bohemian Rhapsody” ou “Roxanne” ou “Smells Like Teen Spirit” – é para isso que o rádio serve. O rádio não deveria ser acolhedor. Deveria ser como um raio de luar. Mas, caralho, pela última vez: o rock and roll não precisa ser salvo. Ele está vivo e vai muito bem, obrigado.
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