Estreando como diretor de cinema, o ator se inspira nos clássicos
Antônio do Amaral Rocha Publicado em 09/05/2013, às 15h36 - Atualizado em 17/05/2013, às 12h34
Próximo de completar 65 anos, José Wilker está mais ativo do que nunca. Além de dirigir a adaptação do filme Rain Man para o teatro, ele estreia neste mês como diretor de cinema, em Giovanni Improtta, no qual também é responsável pelo papel-título – ele já havia interpretado o mesmo personagem na novela Senhora do Destino (2004-2005). Figura constante na TV e no cinema, Wilker continua a estender tentáculos – escrevendo peças e preparando um livro (Este Não É um Livro sobre Cinema, sobre as experiências dele como ator e diretor). “A pior coisa que pode acontecer na vida de um artista é já ter feito o seu melhor”, diz.
De onde vem o interesse por representar?
Quando tinha 4 anos, eu não sabia ler, evidentemente. Mas, como a casa dos meus pais era cheia de livros, eram objetos que me atraíam muito. Olhava e achava lindo pelo cheiro e pelas letras. Eu não sabia o que era um “a”, um “b”, um “r”, mas eu gostava de contar a história daquelas letras. Eu enchia o saco da minha família, até cobrava ingressos, para que eles ouvissem a minha história.
Foi daí a gênese de sua carreira de ator?
É provável, e isso é uma coisa inspiradora para mim até hoje. Até inventei na época um cineminha. Eu morava do lado de um cinema e sempre sobravam fotogramas. Eu pegava uma caixa de sapato, recortava um quadrado num lado e um no outro e dentro colocava uma lâmpada transparente que eu enchia de água. Colocava o fotograma de um lado e iluminava com uma lanterna e projetava na parede. A partir daquela imagem, contava histórias. Eu me lembro, por exemplo, que umas das que mais me marcaram foi uma imagem do filme Arroz Amargo que tinha a [atriz italiana] Silvana Mangano de pernas de fora, que eu achava um troço fascinante. Esse mesmo espírito infantil me acompanha até hoje.
Giovanni Improtta parece trazer embutida uma homenagem à velha guarda da TV e do cinema.
Diria que foi uma homenagem que fizeram a mim, porque eles são meus amigos. Quando o Cacá Diegues [produtor] me convenceu a fazer o filme e a dirigir, achei que só poderia fazer se eu me cercasse de pessoas nas quais tivesse total confiança. Desde a montagem da equipe a minha preocupação foi essa, estar com pessoas que conheço desde que comecei a trabalhar com cinema.
E como você define a experiência de dirigir um filme pela primeira vez?
O Cacá diz que sou um “criator” e eu teria de assumir a direção. Mas dirigir e fazer o personagem são experiências que espero não repetir. Estar dos dois lados é complicado, porque é difícil ter o olhar crítico. Como ator, preciso que alguém mande em mim. E ali quem mandava em mim era eu mesmo.
Qual a diferença entre dirigir para TV e cinema?
Televisão é uma coisa que as pessoas não veem – as pessoas olham. O esforço é conseguir que eles vejam. Muitas vezes, isso é solucionado com close-ups e sonoplastia. O cinema é outro ritual, a pessoa sai de casa e convive com outras, e ritualisticamente consome aquele produto. A técnica tem de ser outra. Afora isso, é desproporcional, porque o cinema tem um tamanho impressionante. Um pequeno erro fica uma monstruosidade.
Você é um famoso colecionador de filmes. Quais são seus preferidos?
Tenho mais de 10 mil DVDs e Blu-rays. Vendi minha coleção de VHS e doei 5 mil títulos em vídeo laser para a Escola Darcy Ribeiro. Estou sempre revendo John Huston, adoro Monicelli, De Sica, Fellini, Antonioni, Bertolucci. Adoro rever filmes do Masaki Kobayashi e do Kenji Mizoguchi. E os do Truffaut, que acho genial. O cinema proporciona uma janela para a vida e para o mundo.
Como você avalia o país atualmente?
O Brasil mudou bastante, não tenho certeza se para pior ou para melhor. Hoje é um país que tem uma safra de grãos monumental, que tem uma Amazônia que é o pulmão do mundo. E o que acontece? A gente continua insistindo em devastar a Amazônia, e não temos para onde mandar a produção, porque não temos estradas. Esse quadro se estende para o resto do país. Ganhamos um grande presente, um “lego” monumental, e não sabemos como montá-lo, não conseguimos encaixar as peças. Não quer dizer que não me sinta feliz aqui. Acho ótimo e é um bom momento. Era ruim quando não tínhamos o “lego”.
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