Ator e músico, Paulo Miklos busca a felicidade se expressando por meio das duas paixões.
Carlos Sartori Publicado em 22/10/2015, às 16h15 - Atualizado às 17h07
Aos 56 anos, 33 deles como integrante do Titãs, Paulo Miklos coleciona na carreira 17 discos e papéis em vários filmes, enquanto mantém uma agenda repleta de compromissos que lhe dão prazer. No palco, faz terapia de grupo com os eternos amigos da banda durante a turnê de sucesso do disco Nheengatu (2014), que recentemente ganhou um DVD. No cinema, cria personagens marcantes: um romântico, um taxista reacionário ou um vilão, por exemplo. Nos últimos meses, estreou três filmes – os curtas Quando Parei de Me Preocupar com Canalhas e Dá Licença de Contar e o sucesso de bilheteria Carrossel. Desde os 12 anos, Miklos busca na arte um estilo de vida que descobriu primeiro na música, depois no teatro, na TV e no cinema.
Paulo Miklos está mais para o disco do Titãs Õ Blésq Blom (1989) ou para “quaz quaz quaz”, no melhor estilo Adoniran Barbosa, que você interpreta no curta Dá Licença de Contar?
[Risos] Acho que são sinônimos! As duas coisas representam trabalho e expressão. Neste filme, se cruzam minhas duas paixões: cinema e música.
No cinema você transita com muita facilidade entre um cara doce, romântico, e um cara mau, bandido, vilão. Como é a preparação para esses personagens?
Olha, realmente, eu acho que é um mistério. Adoro ler a respeito dos atores, assistir a entrevistas em que revelam umpouco do processo de criação. Para mim, é divertido quando dizem que estou muito parecido com o Adoniran, porque era um grande desafio. Tive de partir do princípio de que eu realmente não pretendia alcançar esse Adoniran, essa figura que a gente tem tão viva na memória.
Talvez a mais completa tradução de São Paulo?
Exatamente! Todo mundo conhece aquele personagem que o Adoniran criou. Ele é muito rico. E tem essa graça do português errado, da linguagem popular. Ao mesmo tempo, ele estava desenhando uma tragédia terrível e atualíssima: as invasões, a especulação imobiliária na cidade, a descaracterização dos bairros.
E essa história de virar vilão no filme infantil Carrossel?
Está dando muita felicidade também. Vilão assim é bem fácil, bem caricatural. É mais divertido porque tem tudo a ver com o tom do filme, que é um fenômeno de bilheteria.
Se fosse convidado pra representar no cinema um ídolo, quem seria?
Puxa vida. Precisa ver de qual eu tenho o físico, né? [Risos] Talvez Iggy Pop? Acho que é por aí. Um magrelo invocado!
Recentemente você participou do comercial de um banco. Faria propaganda para uma empresa de cigarro?
Não. Fumei durante 37 anos e parei há quatro. Agora, é uma coisa totalmente alheia pra mim, não sei como um dia eu fumei. Não bebo também. Não faria propaganda de uísque, por exemplo.
Como você vê este cenário político e confuso do país?
Acho que toda essa efervescência é um grande aprendizado. Estamos em um processo de amadurecimento da democracia e identificando os caminhos. Mas a mídia está histérica. Você pode ser de direita ou de esquerda, isso não é feio. Temos que defender pontos de vista diferentes, quando a coisa fica aguda a gente tende a se dar conta de que é possível conviver com os opostos.
Algumas faixas do Titãs viraram hinos em grandes manifestações. “Polícia” e “Desordem” são sempre atuais. O Brasil vai mudar?
Esse foi outro momento crucial de amadurecimento. O povo estava nas ruas e a resposta do Estado foi violenta, aí teve aquele mea culpa “pera lá… polícia pra quem precisa de polícia!” Até que ponto você vai constranger o cidadão que está no seu direito de se manifestar? E é a mesma coisa para matança na periferia – a quebra dos direitos humanos que vivemos é uma aberração.
Qual é o grande vilão do Brasil hoje?
Olha, acho que a grande vilã é a intolerância. Temos que abrir os olhos. Tem um grande desencanto com a política, e é uma coisa que tem fundamento em um Estado de corrupção extrema. Por outro lado, estamos vendo o próprio sistema democrático funcionando a todo vapor com a polícia federal e o Ministério Público.
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