Regina rechaça críticas elitistas que recebe pelos programas que faz na TV - FERNANDO TORQUATO

P&R Regina Casé

A hora e a vez de Regina Casé, que está na boca do povo e da elite com Que Horas Ela Volta?

Stella Rodrigues Publicado em 22/10/2015, às 17h17 - Atualizado às 17h37

A hora e a vez de Regina Casé, que está na boca do povo e da elite com Que Horas Ela Volta? Tentando não entrar na onda de empolgação com a pré-indicação do filme Que Horas Ela Volta? ao Oscar, Regina Casé, intérprete da doméstica/babá Val, fica mais emocionada de acordar com enormes mensagens elogiosas do que com a expectativa do prêmio. “Atendo o telefone e a pessoa fica muda, demora para começar a falar, porque está aos prantos”, diz ela. No auge da repercussão da obra da diretora Anna Muylaert, a atriz e apresentadora parece ter resgatado seu nome de uma associação terrivelmente elitista que a colocava na caixinha de “comunicadora que só fala ao povão” – e aproveita o momento para fazer o que sempre quis: falar ao Brasil inteiro.
Como você reage a todo mundo falando de Oscar?
Ainda está tão longe! Nem caiu a ficha da possibilidade, é algo tão remoto. Acho que essa expectativa toda pode até ser ruim. Minha avó sempre dizia: quanto mais alto o coqueiro, maior o tombo! Deixa quietinho... o filme começou tão pequeno, com poucas cópias, e foi crescendo. É mais legal quando você começa com uma expectativa baixa e vai aumentando do que quando vem com algo enorme e se frustra. A diretora Anna Muylaert deu várias entrevistas falando das cartas que recebe de domésticas e outras pessoas. Isso tem acontecido com você também? Todos os dias acordo com mensagens lindas, enormes, nas redes, no WhatsApp. Recebi da Fernanda Montenegro, Caetano Regina CaséVeloso, Wagner Moura, pessoas que eu admiro muito. Na correria que a gente vive, alguém parar e escrever duas, três páginas... elas poderiam esperar para me encontrar, mas querem escrever logo que saem do cinema. Isso tem sido algo maravilhoso do filme. Dá para fazer um livro com tantas mensagens.
Isso te direcionou de voltapara a atuação, depois de tantos anos dedicados quase exclusivamente à TV?
Adoraria que alguém me mandasse um roteiro tão legal quanto esse! Eu sempre quis falar com todo mundo, com o Brasil todo. E veja como são as coisas, mesmo com um filme com essa temática, com o qual todas as domésticas que foram ver se identificaram, só na terceira semana de exibição que o longa chegou a um ou outro cinema de periferia. Por mais que amasse trabalhar como atriz, eu via que, no Brasil, só existia cinema e teatro em bairros com grana. Claro que melhorou, mas foi pouco, você fala com bem menos gente. O que mudou para mim, o que é irreversível, é que ficou claro que sou uma atriz que apresenta um programa de TV, mas sou uma atriz.
O filme funciona como um ponto de intersecção entre o trabalho no Esquenta! e a carreira de atriz? Eu vi que você retuíta posts de pessoas falando que tinham preconceito com o programa, mas assistiram e gostaram.
Elogiam o filme quase que em oposição ao Esquenta! Não pensam que, se é a mesma pessoa, uma coisa deve ter a ver com outra [risos]. O Brasil trabalha há anos com uma ideia de alta e baixa cultura. Isso é mantido pelo preconceito. Existe a cultura popular do Brasil. Se você gosta ou não de sertanejo, funk, pagode, tudo bem. Mas você não pode ignorar que aquilo é a cultura produzida no Brasil. E quando o programa mostra isso as pessoas têm preconceito e acaba sobrando para mim, que sou um escudo ali na frente. Muita gente relata uma sensação de “tapa na cara” com o filme, de refletir sobre classes, ascensão social, domésticas e conceitos que foram internalizados, mas não deveriam. Você sentiu isso em algum nível, quando se envolveu com o projeto?
Eu já vinha tratando desses temas no Central da Periferia, no Esquenta!, no [filme] Eu Tu Eles. É uma questão que a gente trabalha há muito tempo. Eu conheço essa Val há muito tempo. Acho que para quem não estava prestando atenção nisso foi um susto. Para mim não foi um susto, foi mais uma oportunidade para jogar luz sobre isso. Você se envolve em várias campanhas ambientais. Como lida com essas questões no dia a dia? Tem aquele famoso “dedo verde”? Faço há 15 anos o Um Pé de Quê, do canal Futura, que é um programa sobre tudo isso. No dia da árvore, convidamos todo mundo a plantar uma árvore para um amigo. Em vez de fazer desafio do gelo, desafio de sei lá o que, você planta e vamos vigiar para que essa muda vingue. Quando você vê minha casa pelo Google Earth, é um monte de construção em volta e uma mata no meio, e foi tudo eu que plantei [risos]!

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