QUASE LOCAL Lee voltou ao país para dirigir uma campanha com Seu Jorge - Bobby Bank/WireImage

P&R - Spike Lee

Dirigindo Go Brazil Go!, documentário sobre o país, ele critica a Fifa e Marco Feliciano

Guilherme Guedes Publicado em 06/01/2014, às 11h07 - Atualizado às 11h09

Apesar de ser conhecido pelas opiniões fortes e controversas, Spike Lee não é um homem antipático. Sentado de forma relaxada em um quarto de um hotel cinco estrelas no Rio de Janeiro, o cineasta norte-americano por trás de clássicos como Faça a Coisa Certa e Malcolm X veio ao país para dirigir uma campanha publicitária da marca LG protagonizada por Seu Jorge. Não fossem as respostas claras e incisivas, Lee poderia transmitir uma tranquilidade quase desrespeitosa diante dos microfones, e não finge modéstia quando o cantor carioca o trata como um dos maiores comunicadores da atualidade. Nem quando questionado sobre a intenção da propaganda o diretor perde a pose. “Queremos nos divertir, mas também queremos vender uns produtos [risos].”

Quando você e Seu Jorge se conheceram?

Na estreia de A Vida Marinha com Steve Zissou, em Nova York, em 2004 ou 2005. Eu não conhecia a história dele até ele me dizer. Quanto mais você vive, mais histórias você tem para contar, especialmente como compositor. A vida é a sua matéria-prima.

O Brasil vive um momento muito peculiar, e é inclusive o tema do seu novo documentário.

Sim, Go Brazil Go!.

O país ganhou destaque no cenário mundial pelo fator econômico ou acha que há algo além disso?

É justamente para descobrir isso que eu quis fazer o documentário. O Brasil vive um momento histórico: é uma potência econômica e receberá a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nos próximos dois anos, os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil. Mas isso também significa que o país passará por análises minuciosas a respeito de coisas que acontecem aqui e com as quais ninguém parecia se importar. É o que lá fora as pessoas chamam de “República das Bananas” – e que fique claro que eu não estou chamando o país assim, esse é o termo que as pessoas usam lá fora. O Brasil não é nada disso. O mundo inteiro viu os protestos, antes que escondessem tudo debaixo do tapete. E agora as pessoas querem saber para onde vai o Brasil.

Quando você pretende finalizar o filme?

No próximo verão [norte-americano, em meados de 2014]. Talvez antes da Copa.

E aborda o racismo nele?

Sim, mas não apenas isso. O racismo existe no mundo inteiro, não só aqui.

Apesar de não seguir uma orientação religiosa específica, você é cristão, assim como boa parte dos brasileiros. Percebe a influência do cristianismo na cultura brasileira?

Mas aqui também há uma forte influência das religiões africanas. Como é o nome daquele político que se declarou contra os negros

Marco Feliciano?

Isso, Marco Feliciano [o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias afirmou que a África foi “amaldiçoada por Noé” ]. O centro da polêmica. Querendo aprovar a “cura gay” e umas coisas malucas.

Não é estranho que o presidente de uma comissão desse tipo manifeste opiniões tão polêmicas?

É uma grande ironia [risos]. Mas o lance é o seguinte: todos os países têm suas qualidades e pontos a serem melhorados. Eu não vim para o Brasil com a ideia de que [imposta a voz] “eu sou negro, eu sou norte-americano, e estou aqui para observar o que há de errado com este país”. Não é o que quero fazer, mesmo. Eu vim para cá com a mente aberta. Nos meus documentários eu nunca uso nenhum tipo de narração, porque quero que as pessoas contem as próprias histórias. E muitas pessoas que entrevistei não haviam tido a chance de manifestar as próprias opiniões, ainda mais para a quantidade de gente que verá esse filme. Há pessoas oprimidas no mundo inteiro, tanto nos Estados Unidos como no Brasil ou em qualquer outro lugar. Raramente os pobres têm a chance de expressar as próprias opiniões.

Você mencionou a Copa do Mundo, e recentemente a Fifa foi acusada de racismo por preterir dois atores negros para apresentar o sorteio da Copa. No lugar deles, foi escolhido um casal de atores brancos.

Bom, eu tenho uma única resposta para isso. Isso mostra quem está no comando. Quando se trata de futebol, quem realmente manda nessa porra é a Fifa.

Mas a Copa vai acontecer no Brasil, um país miscigenado, e o local escolhido para o sorteio foi a Bahia...

Não importa. Eles não estão mesmo nem aí.

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