P&R - Wagner Moura

O ator fala sobre novo filme, a carreira em Hollywood e o futuro distante das novelas

Stella Rodrigues

Publicado em 15/03/2013, às 11h39 - Atualizado às 13h50
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<b>VISIONÁRIO</b> “Eu quero que todos os meus filmes façam bilheteria”, diz Moura - DANIEL KLAJMIC

Aos 36 anos, wagner Moura encerrou há pouco seu primeiro trabalho em Hollywood, a ficção científica Elysium, de Neill Blomkamp. Enquanto isso, ele chega aos cinemas com o drama nacional A Busca, do diretor Luciano Moura, um road movie no qual vive um médico que procura por um filho desaparecido. Assim, Moura dá continuidade a uma tendência pessoal de explorar os mais diversos gêneros pelos quais pode navegar dentro dos filmes – mas todos com algo em comum: “O cinema brasileiro sempre teve por vocação a vontade de entender o país”, define.

A saga do seu personagem em A Busca pode ser definida como a de alguém que vai se despindo daquela vida de classe média para conhecer outros mundos. Como você resumiria?

É uma boa definição. Eu só acrescentaria que essa saga é involuntária, o que torna tudo muito mais interessante. Ou seja, não é a história de alguém que conscientemente faz o Caminho de Santiago para se descobrir, mas de alguém que é jogado compulsoriamente nessa estrada por causa de uma situação extrema.

Comédias e filmes de ação como Tropa de Elite são a mina de ouro do nosso cinema. Você se sente remando contra a maré de alguma forma?

Eu quero que todos os meus filmes façam bilheteria e me esforço para que isso aconteça, independentemente do gênero. Nossas leis de incentivo são fundamentais e sem elas não estaríamos filmando, mas, quando os produtores se pagam de início, a lógica se inverte. É importante que a atividade cinematográfica seja vista como um negócio para que cheguemos a um ponto em que o governo só entre para subvencionar filmes sem tanto apelo de público, porque a maior parte da produção já estaria funcionando segundo uma lógica de mercado.

Wagner Moura foi capa da edição 49 da Rolling Stone Brasil. Leia aqui.

No exterior, há alguma dificuldade de deixar de ser o Capitão Nascimento para se tornar o tipo de ator que você já é para os brasileiros?

Não existe essa dificuldade, pelo contrário, o Tropa só aguçou a curiosidade sobre o que tem sido feito no Brasil. A posição que o país ocupa na economia internacional e o fato de haver hoje uma classe média que consome e vai mais ao cinema têm atraído cada vez mais a atenção dessa galera para o nosso mercado.

O filme Serra Pelada, que você está produzindo, passou por percalços, incluindo o fato de vocês não terem conseguido filmar no local original. Isso afetou o resultado?

A decisão de filmar na Serra Pelada “de mentira” foi a mais acertada. A pedreira em São Paulo que fez as vezes da serra é na verdade muito mais parecida com Serra Pelada do que a própria Serra Pelada como está hoje. E a decisão de chamar o Juliano Cazarré para ser protagonista [Moura desistiu do papel] junto ao Julio Andrade foi tomada também considerando o que era melhor para o filme no momento em que minha agenda estava espremida por causa do adiamento. O Serra será um filmaço.

Fernando Meirelles declarou que desistiu de filmar Grande Sertão: Veredas por achar que não haveria interesse. Mas vocês persistiram no Serra Pelada.

Fernando fez o grande épico urbano brasileiro [Cidade de Deus], Grande Sertão é o rural. Ele é um diretor extraordinário e faria um grande filme, espero que reconsidere. Depois de Hamlet, Grande Sertão é a coisa mais bonita que eu já li. Discordo dele. Acho que a galera iria em massa ao cinema ver. O Serra conserva esses elementos épicos em um contexto mais recente dos anos 80.

Sua última novela foi há seis anos. Tem planos de voltar a elas?

Adorei fazer as duas novelas que fiz [A Lua Me Disse e Paraíso Tropical]. Só trabalhei com gente boa e talentosa e aprendi muito, mas fazer de novo não está nos meus planos. É muito tempo dedicado a uma coisa só. A importância cultural das novelas já é consolidada, eu tenho mais interesse na dinâmica desse nosso cinema em formação.

Você está se aproximando dos 40. Pensa muito nisso ou nem lembra até que perguntem a respeito?

Lembro constantemente quando treino jiu-jítsu com garotos de 20 anos.

TAGS: wagner moura, a busca