O legado do trio Os Tincoãs é celebrado em livro retrospectivo
Paulo Cavalcanti Publicado em 19/03/2018, às 09h28 - Atualizado às 09h31
A conexão entre os sons da Bahia e a batida primal da África chegou ao público graças ao trabalho dos músicos do trio Os Tincoãs. A história deles é interessante. Os artistas começaram no fim dos anos 1950 cantando bolero. Mas no final da década seguinte, quando entrou em cena o cantor e compositor Mateus Aleluia, tudo mudou. Sob inspiração dele, a partir dos anos 1970, aprimoraram a mistura Brasil/África. Os álbuns que lançaram décadas atrás seguem redescobertos e cultuados.
Agora, a Natura Musical homenageia o trio com um livro de memórias. Na obra estão encartados os discos fundamentais que lançaram: Os Tincoãs (1973), O Africanto dos Tincoãs (1975) e Os Tincoãs (1977). A obra tem fotos raras, análises, reportagens de arquivo, biografia dos seus integrantes e depoimentos de personalidades, como o radialista Adelzon Alves, que produziu o grupo. Artistas que foram influenciados pelo Tincoãs, como Martinho da Vila, Criolo, Emicida e o grupo instrumental Bixiga 70, também dão o seu parecer. Toda a celebração começou com um show comemorativo ocorrido no dia 6 de dezembro de 2017, no Teatro Castro Alves, em Salvador, que juntou os integrantes sobreviventes do trio com vários convidados, como Saulo e Margareth Menezes.
Mateus Aleluia, hoje com 73 anos, sempre foi considerado o cérebro da trupe e explica o motivo de Os Tincoãs ainda seguirem com enorme apelo. “O ser humano surgiu na África, as células primárias de tudo o que aconteceu no planeta vieram daquele continente.” Ele fala dos elementos musicais dos Tincoãs: “Unimos o que veio do universo africano e juntamos às coisas da Bahia, como o candomblé e os cantos ancestrais. Também demos um toque barroco a todo esse som”. Badu, que entrou no Tincoãs em 1975, há muito tempo vive nas Ilhas Canárias. Ele esteve no Brasil especialmente para participar do lançamento do material e conta que a emoção é tremenda. “Depois de 30 anos longe, me deparar com isto é algo que me deixa sem palavras”, diz. “Nossa música, naquela época, ainda não era compreendida”, comenta. “Eu mesmo tive que me aplicar muito para poder tocar aqueles sons complexos e diferentes. Agora, vejo que o que fazíamos era algo espetacular e fantástico. E o melhor é que ficou para o futuro”, completa.
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