HQ Hip Hop Family Tree, que conta a história da cultura rapper, ganha edição em português
Ramon Vitral Publicado em 19/09/2016, às 13h42 - Atualizado às 14h08
Para o quadrinista norte-americano Ed Piskor sempre foi explícita a relação entre os gibis que ele lia na infância e as canções de rap que escutava enquanto crescia. “Tanto revistas de quadrinhos
quanto a cultura hip-hop nasceram nos Estados Unidos, em Nova York, para ser mais específico. São filhos bastardos da indústria cultural que ganharam respeito com o passar dos anos. Rappers e super-heróis sabiam falar melhor sobre o que acontecia ao meu redor do que os meus pais”, explica o artista no primeiro volume da série Hip Hop Genealogia (Hip Hop Family Tree, em inglês . Recém- publicado no Brasil pela Editora Veneta, o álbum cobre a cultura hip-hop entre 1970 e 1981.
Publicadas originalmente no site Boing Boing em 2013, as 118 páginas do quadrinho documentam o surgimento de lendas do universo hip-hop, como o DJ Kool Herc, Grandmaster Flash and the Furious Five, o célebre Afrika Bambaataa e as primeiras apresentações dos músicos que viriam a se tornar o trio Run-DMC. A cantora Debbie Harry, o artista Keith Haring e a banda The Clash também fazem pontas na obra. Os traços caricatos e as cores chapadas de Piskor refletem o mesmo estilo predominante das HQs de super-heróis da época.
Nascido na cidade de Pittsburgh em 1982, Piskor atualmente está trabalhando no quinto volume do projeto, sendo que o quarto focou nos anos de 1984 e 1985. De acordo com os editores nacionais da série, a segunda parte da coleção deverá sair no Brasil no primeiro semestre de 2017.
Para o autor, a cada página produzida por ele fica mais evidente o elo entre os super- -heróis dos quadrinhos e os protagonistas de Hip Hop Genealogia. As roupas coloridas e descoladas, os alter egos e os vários embates entre seus grandes nomes são outras das semelhanças listadas por Piskor entre seus ídolos rappers e os personagens de suas revistinhas da juventude. “Não havia muitas pessoas falando sobre quadrinhos quando eu era pequeno. Acho que já tinha uns 20 anos quando conheci alguém com quem pude conversar sobre HQs”, conta em entrevista. “Já o rap sempre foi o estilo musical mais popular do lugar de onde vim, mas era completamente uncool escutar músicas das antigas, era preciso estar atualizado. Desde o começo eu sempre soube que os meus interesses eram diferentes daqueles da maioria, daí essa minha leitura acerca dos dois mundos como sendo crianças bastardas da nossa cultura. Quanto mais me envolvia nesse projeto, mais proximidade eu via entre o hip-hop e os quadrinhos, fosse por capas de álbuns, grafites ou trabalhos paralelos de alguns desses artistas”, explica. “Tive a ideia da série no dia 1º de janeiro de 2012, comecei a trabalhar naquele mesmo dia e decidi me ocupar da criação de uma história cronológica do rap.”
Ainda no começo da carreira, o quadrinista teve como mentor o lendário escritor Harvey Pekar (1939-2010), criador da série American Splendor e uma das grandes referências das HQs underground e biográficas dos Estados Unidos. Juntos, eles trabalharam em The Beats – sobre a geração de escritores representada por Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs – e também nos últimos roteiros de autoria de Pekar em Splendor. Segundo Piskor, além de temáticas parecidas, ele herdou muito do estilo realista de seu mestre: “O Harvey era ótimo em perceber o instante perfeito para falar sobre um assunto antes de todo mundo. E ele tinha uma predisposição para correr atrás que acredito também possuir. Sei que sempre estarei bem em termos de trabalho, enquanto existir papel eu estarei fazendo quadrinhos e vendendo por conta própria caso seja necessário. Aliás, você nunca vai me ouvir reclamando sobre trabalhar com HQs. É a coisa mais legal que posso fazer vestido”, brinca o artista.
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