Prepare-se para o The Strypes, quatro adolescentes irlandeses em uma busca incansável por guitarras retrô.
David Fricke | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 11/06/2014, às 16h01 - Atualizado em 13/06/2014, às 12h10
Os quatro jovens irlandeses no palco do Ed Sullivan Theater, em Nova York, parecem ter saído diretamente de 1965 – mais especificamente da explosão do blues londrino do The Who, Small Faces e do Rolling Stones do começo da carreira. Os integrantes do The Strypes – o guitarrista Josh McClorey e o baixista Pete O’Hanlon, ambos de 18 anos; o baterista Evan Walsh, de 17; e o vocalista Ross Farrelly, de 16 – estão fazendo uma passagem de som para uma apresentação no programa Late Show with David Letterman e já estão vestidos para matar: jaquetas e suéteres colados e calças justas. O baterista, um dínamo com rostinho de bebê e uma auréola de cachos cor de areia, remete à hipótese de Keith Moon do The Who se juntando ao Jimi Hendrix Experience.
O Strypes repassa “What a Shame”, do álbum de estreia da banda, Snapshot, um rugido de dois minutos cheio de paixões retrospectivas: licks com agudos cortantes inspirados nos singles da gravadora Chess do final dos anos 1950 e os trechos explosivos dos sucessos do Yardbirds, só que executadas na velocidade marcial do Ramones (Farrelly a chama precisamente de “blues rápido”).
O guitarrista Sid McGinnis, da banda do Late Show, murmura as palavras “Ah, meu Deus!” com um sorriso impressionado, e procura O’Hanlon depois do ensaio para perguntar sobre timbre de baixo dele. Mais tarde, quando o Strypes toca para o público ao vivo, Letterman se levanta da cadeira e caminha até a banda, elogiando o tempo inteiro: “O que foi isso? É isso aí! Fantástico! Muito bem!” Atrás dele, os rapazes do Strypes mal dão um sorriso. Estão acostumados a esse tipo de reação.
Formado em Cavan, uma pequena cidade no centro-norte da Irlanda, o Strypes tem uma constelação de fãs famosos – incluindo Jeff Beck, Roger Daltrey, Paul Weller e Noel Gallagher – desde 2012, quando o primeiro lançamento do quarteto, um EP caseiro com covers de Bo Diddley, Slim Harpo e Motown, virou um sucesso-surpresa no iTunes. Beck conviveu com o Strypes durante sua primeira viagem a Londres, em 2012. Chris Thomas, que foi engenheiro de álbuns dos Beatles e produziu o Sex Pistols, saiu da aposentadoria para trabalhar em Snapshot. Elton John ficou tão encantado com um vídeo do Strypes arrebentando em “You Can’t Judge a Book by the Cover”, de Diddley, que assinou um contrato com eles por meio de sua empresa de agenciamento, a Rocket Music. “Pirei – não conseguia acreditar que eram tão jovens”, conta John. “Parecia que eram de outro planeta.”
Snapshot – majoritariamente com músicas originais compostas por McClorey e pelo restante da banda – chegou ao Top 5 do Reino Unido no ano passado, e os shows do Strypes na Irlanda e na Grã-Bretanha geraram uma mania normalmente reservada ao tipo de boy band que só canta e não toca instrumentos.
A essa altura, os membros do grupo respondem a perguntas sobre idade e obstinação histórica com uma confrontação educada, com sotaques incrivelmente fortes. “As pessoas dizem que estamos imitando as bandas mais antigas – não, não estamos”, diz O’Hanlon depois do Late Show, sentado com uma lata de refrigerante no hotel da banda. “Não tenho as mesmas configurações de baixo do John Entwistle [do The Who]. Josh não tem os mesmos timbres de guitarra do Jimmy Page. Quando tocamos, é nosso estilo.” Ele compara o Strypes, com total seriedade, a “um saco de cenouras”. “Aquela combinação de cenouras nunca foi vista antes. Não é nada nova, mas é diferente.”
“Os primeiros três álbuns do Black Keys são de blues puro”, Farrelly indica, parecendo ter mesmo 16 anos quando não usa óculos de sol. “Ninguém perguntou a eles: ‘Por que tocam essa música que existe desde antes de vocês nascerem?’ Todos nas bandas de que gostamos – Small Faces, The Jam – tinham 16, 17 anos quando começaram. Quando você está criando música boa e apropriada,
sua idade não deveria importar.”
Em Cavan, Walsh, O’Hanlon e Mc-Clorey ainda moram com a família. Quando questionado sobre a parte mais difícil de estar em turnê com uma banda, o guitarrista responde imediatamente: “Sentir saudade dos meus pais”. Farrelly vem de Killeshandra, uma vila minúscula a meia hora de viagem de Cavan. A mãe dele, Noelle, o leva para os ensaios da banda, que ainda acontecem no quarto de Walsh, onde o Strypes foi formado e os rapazes se tornaram amigos inseparáveis.
Ao longo de uma hora, Evan Walsh discorre animadamente sobre detalhes dos lados B de Bo Diddley, gravações de Chuck Berry e o cantor original de “Some Other Guy”, Richard Barrett, presença
constante nos shows dos Beatles na era do Cavern Club. “Ele sempre foi viciado nisso”, conta o pai de Walsh, Niall, de 53 anos, que foi o primeiro empresário do Strypes e ainda viaja com a banda como guardião, roadie e pau pra toda obra, incluindo cuidar da roupa suja. Niall conta que tem um vídeo do filho aos 7 anos entrevistando a irmã, Becky. “Evan fica questionando sobre o ‘novo álbum’
dela: ‘Você gravou versões acústicas?’ Ele não dava trégua”, o pai ri. “Ela só tinha 4 anos.”
Essa paixão ajudou a guiar os ensaios do Strypes, que frequentemente iam de 1 hora da tarde à meia-noite. “Tínhamos uma ideia clara”, afirma o jovem Walsh. “Queríamos um repertório, e éramos muito disciplinados na forma como o criamos.” Walsh cita Elvis Costello and the Attractions “das antigas” como uma influência, “quando eles simplesmente destruíam as músicas. Aquilo era atraente – fazer mais barulho da forma mais rápida que você conseguir”.
É assim que o Strypes gravou Snapshot – “tão ao vivo quanto humanamente possível”, diz o baterista, “em uma ou duas tentativas”. Essa é a ideia dele para o próximo álbum, no qual a banda já começou a trabalhar com o produtor Chris Diff ord, da banda Squeeze, em Dublin: “A mesma coisa, só que em volume mais alto”.
Elton John diz que o Strypes só “raspou a superfície de seus dons de composição”. “Será interessante ver como eles poderão se desenvolver, como Mick Jagger e Keith Richards fizeram no Rolling Stones – se conseguirão colocar essas influências de R&B e blues no rock comercial, mas tudo está na experiência”, afirma. “Eles só compõem músicas há um ano e meio.”
“A pressão existe”, O’Hanlon admite, “mas é uma pressão boa. Fomos tão longe com tão pouco. Continuaremos em frente. Com a cabeça no lugar. Sem parecer idiotas.”
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