Rock Pro Haiti

Por Paulo Terron Publicado em 15/03/2010, às 18h46

O terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro mobilizou o mundo. Enquanto artistas internacionais se reuniram para a regravação de "We Are the World", no Brasil, bandas criaram o Rock Pro Haiti. Abaixo, você confere um bate-papo com Pitty e Lucas Silveira, do grupo Fresno, dois dos artistas que participaram da iniciativa:

Como surgiu o projeto Rock Pro Haiti?

Pitty: Soube do projeto através do Caco [Grandino, baixista do NX Zero]. Ele me disse que estava reunindo depoimentos e perguntou se eu queria participar. Explicou todo o esquema de arrecadação e doação e eu vi que o negócio seria feito com responsabilidade, não só uma coisa pra aparecer.

Lucas Silveira: Desde o início eu quis me envolver. A própria Fresno já tinha feito, antes disso tudo, uma linha de camisetas especiais cujo lucro está indo todo para as vítimas. Mas aí o Rock Pro Haiti engloba várias bandas, gente que exerce real influência sobre os jovens, às vezes muito mais que os políticos. A gente emprestou o carisma que temos com esse público em prol da causa.

O que foi que despertou essa vontade de ajudar nesse caso específico?

Pitty: Tenho vontade de ajudar em todas as frentes nas quais eu souber que posso ser útil, pra mim não custava nada. É um país que já era muito precário e que depois da tragédia ficou completamente destruído. Então, se posso, por que não?

Lucas Silveira: É desesperador assistir a qualquer reportagem sobre a vida no Haiti, seja antes ou após o terremoto. É um país cuja população experimenta uma realidade ainda pior do que a dos pobres que temos por aqui. Aproveitamos que todos estão comovidos com a situação e apenas estamos divulgando essa forma de ajudar. Muitos querem ajudar, mas acabam não o fazendo por falta de oportunidade, ou por preguiça. A gente dá as ferramentas, e facilita esse processo, junto à Embaixada da República do Haiti.

Uma crítica comum a esse tipo de ação é: "o Brasil também tem problemas". Até a Sandy disse algo do tipo no Twitter. O que você pensa desse argumento?

Pitty: Novidade que o Brasil tem problemas. Problema existe em todo canto desse planeta, e uma coisa não exclui a outra. Participar de uma ação específica não significa exclusividade à essa causa. Acontece que as vezes aparece oportunidade de fazer parte de algo, e volto a dizer: por que não? Então eu deveria me negar a ajudar o Haiti alegando que o Brasil tem problemas? Aí não se ajuda nem um nem outro, amigo. E outra: neguinho fala pra caramba, mas eu quero ver é botar a mão na massa e começar um movimento. Dá trabalho. Nesse caso eu não comecei nada, fui convidada a participar de algo que já existia. E participarei de quaisquer ações - brasileiras ou não - com as quais eu me identifique e que sejam em prol de solidariedade. Esse bairrismo é uma tolice. Desejo o melhor para meu país, mas isso não significa que eu vá ficar de braços cruzados em relação a outras nações.

Lucas Silveira: É evidente que enfrentamos problemas semelhantes, muitas vezes por descaso das autoridades, por falhas de caráter humano por parte dos representantes, mas a questão aqui é humanitária. É de fazer o bem pelos seres humanos que estão lá, vivendo certamente os piores - quiçá os últimos - momentos de suas vidas. Eu até compreendo esse tipo de crítica, pois ela faz sentido, mas a maioria das pessoas que levantam esse argumento são aquelas que não fazem porra nenhuma, mas precisam atacar a gente, mesmo quando estamos fazendo uma coisa indiscutivelmente benéfica. Falam que é propaganda, que é hipocrisia, mas eu procuro ficar quieto, pensando: "Estou salvando vidas. Tu tá salvando o quê?"

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