Depois de quatro anos de ausência, o Weezer está pronto para voltar. Mas será que Rivers Cuomo sabe como fazer isso?
Simon Vozick-Levinson | Tradução: Lígia Fonseca Publicado em 26/10/2014, às 10h10
Rivers Cuomo fica quieto. Após oito meses trabalhando no Village, um estúdio em Santa Monica, Los Angeles, o Weezer chegou ao último dia de gravação do primeiro álbum que lançará em quatro anos. A banda precisa de um retorno de peso: os dois discos anteriores, Raditude (2009) e Hurley (2010), são provavelmente os menos amados dos 20 anos do grupo. Com o prazo final para as gravações se aproximando, Cuomo parece perdido em pensamentos – o rosto dele se mantém bastante inexpressivo enquanto ele toca as mesmas partes na guitarra dezenas de vezes seguidas. Sempre que há uma pausa, o músico vai para um pequeno lounge no estúdio, onde consulta um arquivo no computador com uma descrição hiperespecífica de tudo o que ainda precisa ser feito neste álbum. Cada música tem um número, com uma longa lista de tarefas: refazer este solo, mixar melhor a introdução, etc.
Os outros integrantes do Weezer – Brian Bell (guitarra), Patrick Wilson (bateria) e Scott Shriner (baixo) – estão acostumados ao jeito de trabalhar de Cuomo, mas dá para ouvir um toque de desespero nas vozes dos três colegas ao longo do dia. Para completar, pouco tempo antes do fim da sessão, decidindo que precisava de um coral, o vocalista de 44 anos faz um chamado a seus 2.500 amigos no Facebook: “Alguma mulher quer cantar com o Weezer?”.
Meia hora depois, um coral improvisado se materializa na sala com painéis de madeira, a mesma onde Steely Dan gravou Aja (1977). A gravação é feita; Cuomo volta para seu laptop. Passado um tempo, ele me nota e olha para cima. “Fico ansioso e carente quando chegamos perto do final”, confessa, um pouco timidamente. “Coloquei tanto da parte mais profunda da minha alma neste álbum que a sensação é a de que realmente estou em perigo.” No lobby do estúdio, vejo o produtor Ric Ocasek sentado no chão, de pernas cruzadas. “Rivers é um artista brilhante, mas é bem excêntrico”, diz, parecendo esgotado. “A palavra para definir isso hoje provavelmente seria ‘TOC’ [Transtorno Obsessivo Compulsivo].”
No dia anterior ao da sessão com o coral, o líder do Weezer está no auditório do andar de cima do estúdio. Não parece tão tenso, mas até as perguntas mais básicas podem levar a pausas desconfortáveis e respostas dolorosamente lentas e calculadas. “Frequentemente fico perturbado por um instinto muito forte de compartilhar tudo o que está acontecendo comigo”, ele divaga. “Quero sentir essa conexão, mesmo com pessoas que não conheço. Então, esta outra voz fala: ‘Isto não é prudente. As pessoas usarão o que você disse para te magoar’.”
Cuomo diz que, durante todo o período de rejeição pelo qual a banda passou após o lançamento de Hurley, ele estava tramando um retorno às origens. “Queria fazer um disco complexo, clássico”, revela. “E sabia que demoraria.” No entanto, no começo de 2014, chegou a um impasse criativo. “Tinha muitas músicas, mas não tinha confiança total em nada do que estava fazendo. Ele encontrou a resposta, como frequentemente encontra, enquanto fazia meditação Vipassana. Cuomo começou a meditar duas vezes por dia por sugestão do produtor Rick Rubin, em 2003. Durante um retiro de um mês em um centro Vipassana perto do Parque Nacional Yosemite, em Serra Nevada, o vocalista teve uma revelação especial: “Saí com uma visão muito forte do álbum. Tentei me acalmar, mas foi muito difícil”.
A visão, ele conta, era uma estrutura em três partes para o disco, que acabou sendo batizado como Everything Will Be Alright in the End [Tudo ficará bem no final] e sai este mês. Um terço é feito de “músicas clássicas sobre garotas”; o segundo lote de canções cobre a relação do Weezer com os fãs, incluindo o primeiro single, “Back to the Shack”. “Então, há um terceiro e último grupo de músicas sobre figuras paternas”, afirma o cantor e compositor. A paternidade tem estado na mente dele, parcialmente por causa da experiência de criar uma menina, hoje com 7 anos, e um menino, de 2 anos – mas também devido à sua reunião inesperada com o próprio pai, ausente há muito tempo.
No começo da década de 1970, ele e o irmão mais novo, Leaves, moravam com a família em um retiro budista rural no estado de Nova York. O pai, Frank, baterista de jazz, saiu de casa quando Rivers tinha 4 anos. Os dois só se viram três vezes nas duas décadas seguintes – quando Cuomo tinha 7, 11 e 16 anos – e, depois, apenas em 1995, quando saiu o primeiro sucesso do Weezer, “Say It Ain’t So”, em que a letra detona Frank como um ex-alcoólatra cruel. “Eu era um jovem raivoso”, Cuomo afirma. “Típico da Geração X. Rápido para fazer acusações.” Hoje, está tudo bem diferente. “Nos vemos o tempo todo”, segue Cuomo. “Agora que tenho filhos, perdoei meus pais.”
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