Acostumado a unir as passarelas e a música, Fause lança Vício, segundo disco dele, recheado com versões para músicas de amor e desamor
Pedro Antunes Publicado em 10/04/2013, às 18h50 - Atualizado às 20h15
A música e a moda confluem em um único sentido para Fause Haten. Filho de libaneses, o estilista, figurinista, músico e ator é famoso por convergir as formas de arte em seu trabalho, seja na passarela, no palco ou no tablado. Seu segundo disco, batizado de Vício, lançado recentemente, é apenas a pontinha do iceberg que fica para fora d’água de tudo o que forma o artista Haten. “As coisas, aos poucos, foram ficando claras na minha cabeça”, disse ele, em entrevista por telefone à Rolling Stone Brasil.
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Haten começou cedo na música, ainda quando criança, quando teve aulas de piano por sete anos. Depois disso, o universo da moda foi se expandindo, até que a música ficou presa em um canto. Depois de uma temporada em Nova York e Milão, Fause Haten decidiu voltar ao Brasil. Em 2004, após anos vivendo fora do país, o estilista sentiu que o lado criativo havia enferrujado. “Ele ocupava apenas 10% do meu dia. Eu me sentia mais um empresário. Ficava nessa função de gerente, em reuniões, lidando com a assessoria de imprensa”, conta ele. A entrada para o curso de bacharelado em teatro na Escola Superior de Artes Célia Helena despertou aquilo que faltava. E era justamente a música.
“Eu voltei a estudar canto lírico”, relembra ele, sobre aquele ano de 2006. Logo, o bichinho da música estava desperto e pronto para partir para jornadas mais ousadas. Foi ao ser instigado pelo DJ Zé Pedro, normalmente o responsável pelas trilhas sonoras dos desfiles dele, que Haten encarou um público pela primeira vez. O estilista abraçou o lado cantor na São Paulo Fashion Week de 2009. “Quase tive uma síncope nervosa”, disse ele, relembrando o momento de estar à frente de um público de 800 pessoas.
Aos poucos, música e moda começaram a se encontrar, aqui e ali, com shows e em trabalhos como figurinista em musicais. O primeiro disco, CDFH, veio em 2011, em um papo de corredor do estúdio com André Cortada, que, no álbum, trabalhou como diretor musical e arranjador das letras criadas por Fause. “Falei para o André que só cantava jazz, coisas assim, e queria cantar músicas que pudessem conversar mais com o público. Porque, às vezes, a resposta não vinha. Ele voltou com uma guitarra e me disse: ‘Vamos fazer uma música'. As pessoas me questionavam, na época, o que era esse disco, se era uma carreira. Hoje eu entendo isso. Mas, naquela época, isso meio que explodiu.”
Vício, o novo álbum, é uma progressão natural do período de shows do trabalho anterior. “Vi que, ao colocar músicas de compositores mais conhecidos, aquilo dava um molho”, disse. “Fomos colocando uma, outra. Fazíamos show quase toda semana. Coincidentemente, percebi que era um repertório romântico e brega.”
Depois de um trabalho só com músicas autorais, o novo disco traz canções experimentadas no palco por ele e pela banda que o acompanha – formada por Cortada (além de direção musical, ele toca guitarra e piano), Gabriel Conti (baixo), Guga Machado (percussão), Anderson Oliveira (bateria) e Marianah Maia (backing vocal). São faixas cuja escolha se deu pelo caráter dramatúrgico delas. “Neste período de palco, ficou claro para mim que eu sou um ator que canta. Eu não consigo cantar qualquer música. Se eu não conseguir me ver cantando uma delas, no sentido de ser uma história que eu possa contar, que me diga algo, eu não consigo”, afirma Haten.
Para essa nova leva, ele se viu cantando canções como “Meu Sangue Ferve por Você” (famosa na voz de Sidney Magal), “Codinome Beija-Flor” (Cazuza), “Do Lado de Dentro” (Marcelo Camelo), “Meu Vício é Você” (conhecida pela interpretação de Alcione), “Você Não Serve pra Mim” (Roberto Carlos) e “Evidências” (um clássico do repertório sertanejo de Chitãozinho e Xororó).
Para Fause Haten, foi a própria moda que ajudou a tirar grilhões ou cabrestos e fazê-lo pensar para além do próprio círculo. “Somos forçados a olhar para todos os universos. O pessoal da música está sempre de olho na música. Os cineastas, de olho no cinema. Eu acabo olhando para tudo, moda, cinema, teatro, música. Acabo servindo como fomentador criativo das pessoas, porque nós [da moda] temos esses universos abertos”, completa.
No fim, com Fause, o palco vira passarela, que se transforma em tablado, em um ciclo sem fim, alimentando-se sozinho e agregando ainda mais aspectos na própria arte. “Outro dia, uma pessoa me disse: ‘Fause, você está querendo ficar mais famoso?’ Mas eu não sei se preciso disso. São aquelas coisas que você simplesmente não consegue não fazer. E, quando for ver, já vez”, conta ele. “É o mesmo quando eu faço figurino. É instintivo. Eu vou fazendo.”
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