Eloquente como de costume, Shirley Manson volta ao Brasil com o Garbage
Bruna Veloso Publicado em 18/11/2016, às 11h54 - Atualizado em 17/12/2016, às 14h14
O Garbage demorou 17 anos para vir ao Brasil pela primeira vez, em 2012. Agora, a espera deve ser bem menor: Shirley Manson e banda têm dois shows programados no país (São Paulo, 10/12, e Rio de Janeiro, 11/12), e com um novo disco na bagagem, o elogiado Strange Little Birds. Além de afiada musicalmente, Shirley segue eloquente na hora de falar de assuntos como legado e feminismo.
Quais as principais diferenças entre fazer turnês agora e 20 anos atrás? Bom, a diferença mais importante é a Netflix [risos]. E o celular. Eu diria que provavelmente são as duas melhores coisas que surgiram nos últimos 20 anos. Antes, usávamos cartões para fazer ligações em telefones públicos. E quando você chegava ao hotel tinha uns três canais na TV, se você tivesse sorte, sendo que nenhum deles era em inglês ou tinha algo além de esportes ou pornografia.
Você já criticou os padrões de felicidade inatingíveis exibidos nas redes sociais. É um paradoxo que, mesmo com o acesso à informação que a internet proporciona, ainda sejamos enganados por esses padrões?
Claro que é. Tenho dificuldades em apontar tempos mais difíceis que os atuais, especialmente para quem é jovem. É tanta perfeição jogada nas redes, que é dolorido imaginar um adolescente olhando para isso o tempo todo, se comparando e sempre se sentindo em falta com esses padrões. Para mim, sentimentos e falhas tornam
as pessoas interessantes.
Muitas jovens te veem como um modelo a ser seguido. Isso em algum momento se tornou uma responsabilidade difícil?
No começo da minha carreira, me perguntaram sobre o que eu achava de ser um “modelo”. Não levei a pergunta a sério. Não acho que eu tenha feito algo extraordinário para aceitar esse manto. Então, não é uma responsabilidade. Tento viver uma vida da qual me orgulhe e da qual meus sobrinhos se orgulhem enquanto crescem. Sinto que se eu conseguir gerir minha carreira sem envergonhar minha afilhada, terei sido bem-sucedida [gargalha].
Mas você tem um papel importante como exemplo feminista no rock.
Eu sinto que as mulheres jovens, mais do que nunca, precisam de figuras fortes, de liderança. De mulheres mais velhas, como eu, que as ajudem a navegar por estas águas turbulentas. Nesse caso, sim, vejo como um papel de responsabilidade – o papel de alguém pra compartilhar experiências e a partir disso ajudar outra pessoa. Isso eu levo muito a sério.
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