Com canções repletas de erotismo e uma maneira paradoxalmente doce e rude de se comportar, FKA Twigs se firmou como uma das revelações musicais de 2014
Bruna Veloso Publicado em 13/01/2015, às 19h19 - Atualizado em 23/01/2015, às 18h26
São 11h da manhã e Tahliah Barnett acabou de acordar. Sem maquiagem – exceto pelo batom vermelho-vivo –, ela tem o rosto inchado de quem passou muitas horas na cama (e outras tantas no avião: a britânica havia chegado a São Paulo durante a madrugada, depois de um voo de cerca de dez horas vindo de Miami, Estados Unidos). Talvez isso explique a cara de poucos amigos. “Às vezes, é difícil. Hoje, por exemplo: eu acabei de terminar uma turnê de cinco semanas, faço um show à noite e amanhã na hora do almoço vou embora”, explica a cantora, mais conhecida pelo nome FKA Twigs.
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Prestes a completar 27 anos, ela fez uma apresentação para convidados na capital paulista, em dezembro, promovida pela loja de conteúdo digital Google Play. Twigs teve sucesso com o disco de estreia, LP1 (2014), nesta e em outras plataformas na internet. Com a ajuda das vendas digitais, chegou a aparecer no Top 30 da parada norte-americana. LP1 foi uma das principais estreias do ano passado – sobre batidas eletrônicas ora etéreas, ora pesadas e sensuais, Twigs canta sem forçar as cordas vocais, por vezes quase sussurrando. O apelo sexual vem não apenas desse casamento mas também das letras. “Eu posso te foder melhor do que ela”, “Minhas coxas estão separadas para quando você estiver pronto para respirar”, “Me dê duas semanas e você nem irá reconhecê-la” são apenas alguns dos versos carregados de erotismo de “Two Weeks”, o primeiro single do álbum.
“Minhas letras são sempre sobre experiências pessoais e sobre como eu estou me sentindo”, afirma a cantora e compositora, enquanto toma água de coco sentada perto da piscina de um hotel de luxo da capital paulista. Twigs diz compor “provavelmente toda semana”, embora tenha começado a carreira artística como dançarina, atuando como professora e participando de clipes de nomes como Ed Sheeran e Jessie J. Ao vivo, ela também costuma usar os movimentos do corpo como parte da performance, embora não veja a dança como algo essencial no trabalho que faz atualmente. “[Para mim] há momentos em que a dança é muito importante, mas há momentos em que não tem importância nenhuma”, desconversa. “Eu não amo dançar como amo fazer música. Posso executar passos de alto nível e não sentir absolutamente nada. Já a música me faz sentir algo.”
Ainda que Twigs se exponha sexual e emocionalmente nas canções dela de um jeito bastante firme e contundente, a imagem que mantém fora do palco, falando sempre baixo, é frágil – quase como se houvesse a necessidade de manter um equilíbrio entre esses dois opostos. Não é consciente, ela garante. “Sou sempre eu mesma em tudo que faço”, assegura. “Personalidades são complicadas, então provavelmente diferentes coisas passam pelas minhas músicas, mas sou sempre eu ali.”
O lado delicado, no entanto, é mais fraco na equação que transformou a artista em uma das revelações musicais dos últimos meses. Saber se impor, ela acredita, é um dos motivos que a fizeram se destacar. “Eu genuinamente faço o que quero fazer. Sempre. Acho que qualquer artista que siga isso vai naturalmente sobressair”, afirma. E faz questão de reforçar seu ponto: “Se eu não quiser dar esta entrevista e preferir ficar no meu quarto compondo, é isso que vou fazer. Sou assim, e imagino que por causa disso tenha conseguido trilhar meu próprio caminho”. Essa trilha passa não só pelas listas de melhores discos de 2014 como também pelo mundo da moda, que a abraçou como um ícone de estilo, e, agora, de maneira inesperada, pelos tabloides. Nos últimos meses, a cantora viu seu nome ganhar novas proporções por causa do relacionamento que engatou com Robert Pattinson, astro da franquia Crepúsculo. A resposta das fervorosas fãs do casal outrora formado pelo ator e por Kristen Stewart, estrela feminina da saga cinematográfica, foi grotesca: uma série de mensagens racistas inundou as redes sociais da cantora.
Os melhores discos internacionais de 2014.
“Eu não me defino pela cor da minha pele nem pela minha sexualidade: me defino por ser uma pessoa boa, pelas coisas que faço. É nisso que eu tento me concentrar”, ela resume. Twigs balança a cabeça em negativa para dizer que não se importa de ver sua imagem circulando pela mídia de fofoca. “Sinto que as pessoas provavelmente estão entediadas, que não têm muita coisa acontecendo na vida delas”, afirma, de maneira aborrecida. “Isso faz eu me sentir triste por elas.”
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