Em tom de superação, Não Pare na Pista mostra Paulo Coelho como um escritor obstinado, sensível e vaidoso.
Fernando Masini e Stella Rodrigues Publicado em 13/08/2014, às 11h46 - Atualizado em 19/08/2014, às 14h18
A produtora Carolina Kotscho conversou pela primeira vez com Paulo Coelho, por telefone, em julho de 2007. O escritor vivo mais traduzido do mundo tinha visto e gostado de 2 Filhos de Francisco (2005), cujo roteiro, assinado por Carolina, conta a trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. Ela tinha algo em mente: queria rodar um longa que descortinasse a figura enigmática do autor. Pretendia revelar por que os livros dele se tornaram tão populares mundo afora, e como a adolescência rebelde e a relação com os pais foram determinantes para a formação da personalidade do escritor. A princípio, Coelho relutou. “Passei dois anos tentando convencê-lo a contar sua história na tela grande”, diz Carolina.
O passo seguinte foi entrevistá-lo em Genebra, na Suíça, onde ele mora com a esposa, a artista plástica Christina Oiticica. “Combinamos que a conversa se daria durante uma viagem de carro a Munique, na Alemanha, e nada mais.” Aí, um imprevisto – ou um sinal, como certamente Coelho teria chamado – veio a calhar. “Uma tempestade de neve nos prendeu por 14 horas na estrada e nos obrigou a voltar a Genebra”, conta Carolina. Diante do incidente, o escritor a convidou para passar quatro dias em sua casa, período que serviu para consolidar a aproximação e fortalecer a confiança.
Ali Carolina entendeu que seu biografado não era apenas a pessoa misteriosa e intangível que se propagou ao longo dos anos, mas uma companhia inteligente e divertida. Com o olhar afiado de roteirista, detectou um caminho de superação na vida do escritor. É o que rege o longa Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, dirigido por Daniel Augusto. Desde a primeira cena, na qual Coelho surge ainda jovem (interpretado pelo ator Ravel Andrade) em uma tentativa de suicídio, até a briga com editores que rejeitavam seus originais, ele é tratado como um incompreendido que persiste mesmo diante de adversidades.
“Tudo que ele escreve sobre não desistir de um sonho, não parar na pista, tentar outra vez é justamente o que ele viveu e que deu tão certo em sua trajetória”, diz Carolina. “A história dele é heavy metal. Ninguém que tivesse passado por tudo isso teria facilidade de lidar”, complementa Daniel Augusto.
Três épocas se misturam no filme, sem ordem cronológica: o Rio de Janeiro dos anos 1960, a descoberta do Caminho de Santiago de Compostela, quando tinha 40 anos, e a vida atual, já como escritor consagrado. O ator Júlio Andrade, que foi o Gonzaguinha em Gonzaga - De Pai para Filho(2011), faz o papel de Paulo Coelho na fase adulta, e, em um trabalho minucioso de maquiagem, também o interpreta nos anos 2000. Para entrar em cena como uma verdadeira réplica do escritor, como se fosse um modelo de cera, Júlio usou no rosto uma prótese de látex que pesa 5 quilos. O processo de maquiagem durava seis horas e ele não podia encostar a cabeça em lugar nenhum. Para dar emoção ao personagem, forçava ainda mais as expressões, em um exercício exaustivo. Equilibrada entre o caráter místico do escritor, a rebeldia quase infantil em alguns momentos e o espírito de liberdade, a atuação do ator é um dos pontos altos. Antes do filme, Andrade havia lido apenas um dos livros de Paulo, O Diário de um Mago (1987), aos 15 anos, a pedido de uma professora. “Nunca fui fã de Paulo Coelho, caí na cilada de não gostar dele. As pessoas demonstram um preconceito bobo em relação a quem ele foi e se tornou”, afirma o ator. “Não existe um trabalho sério de análise literária da obra dele. Falta um estudo de fôlego”, complementa Augusto, que é mestre em literatura.
Mesmo que parte dos brasileiros torça o nariz quando o assunto é a qualidade literária de nosso escritor mais famoso, que já publicou 30 livros e vendeu cerca de 165 milhões de exemplares, é inegável que a vida dele é uma trama pronta para ser filmada, recheada de polêmicas e reviravoltas. Não Pare na Pista explora tudo isso: a amizade conturbada com o músico Raul Seixas (interpretado por Lucci Ferreira), a relação hostil com o pai (Enrique Díaz), compensada pelo afeto da mãe (Fabíula Nascimento), as internações em hospitais psiquiátricos, os tratamentos de choque elétrico, as sessões de tortura durante o regime militar – e, como não poderia faltar, o flerte com o demônio.
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