Afinco Samuel Rosa trabalha no estúdio Máquina, em Belo Horizonte - Vanessa Freire/divulgação

Sobrevivência pela Experiência

Transitando entre várias gerações de fãs, Skank lança Velocia, primeiro disco de inéditas em seis anos

Pablo Miyazawa Publicado em 12/05/2014, às 20h39 - Atualizado às 20h45

“É um pouco frustrante que hoje as pessoas não tenham mais tempo de ficar ouvindo um álbum inteiro”, diz Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank. “Você faz 12 músicas e o cara não tem paciência de ouvir. Nego escuta duas músicas, vai pro bar e diz que ouviu o novo disco do Skank. Eu até brinco: a gente faz um disco como o Estandarte (2008), e três músicas ficam conhecidas – as que tocaram no rádio. E o resto? Só os jornalistas escutaram”, ele afirma, gargalhando.

Rosa está sentado diante da mesa de som do estúdio Máquina, nos arredores de Belo Horizonte, acompanhado de Henrique Portugal (teclados), Lelo Zanetti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria), amigos inseparáveis que formaram em 1991 a única e definitiva formação do Skank. Naquela tarde abafada de final de fevereiro, os quatro escutavam pela primeira vez as faixas prontas do então inacabado próximo álbum do grupo, Velocia, com lançamento previsto para junho.

Para o primeiro trabalho somente de canções inéditas em quase seis anos, o Skank preferiu um processo “à prestação”, gravado durante lacunas entre viagens, contrariando o método anterior de se trancar no estúdio por meses seguidos. Rosa assume que a intenção foi utilizar a música como um “bálsamo, um descarrego” após o que define como um “período pessoalmente complicado para a banda”. “Ele vai pra um lado iluminado, ensolarado, menos introspectivo”, define. “Do Maquinarama (2000) até agora, esse é o disco menos pretensioso do Skank. Foi chegar e tocar, ver o que saía, sem ter uma orientação definida de som. Teve desprendimento.”

“É um dos discos mais fáceis de se fazer a adaptação ao vivo”, completa Ferretti. “Porque as músicas foram criadas assim.”

Produzido por Renato Cipriano e Dudu Marote, Velocia entrega um material mais guiado por baterias eletrônicas e programações, com reminiscências do clima “multirracial” de Samba Poconé (1996), ainda hoje o álbum mais bem-sucedido dos mineiros, com cerca de dois milhões de cópias vendidas. Faixas como “Ela Me Deixou”, “Multidão” e “Noite” trazem o DNA típico dos primórdios da banda, com levadas festivas, arranjos enxutos e refrãos pegajosos, de forte apelo ao vivo. “Sempre que a gente se junta para tocar, sai essa coisa, meio reggae, meio brasucão. É uma marca, né?”, o vocalista assume. “Se a gente quiser fugir disso agora, talvez o lugar não seja mais o Skank. Aí é projeto paralelo de cada um. O Skank é isso: tem uma cançãozinha, daí um reggae, um ska, e é isso aí.”

Beirando um quarto de século de existência, o Skank celebra uma carreira em plena atividade na estrada, se orgulhando de dialogar com gerações distintas de fãs – para os integrantes, é justamente a resolução dessa equação que garante a sobrevivência da banda. “Como fazer isso sem soar fake, como quatro caras que não estão tentando ser Peter Pan? É continuar sendo coerente com o que a gente já passou e com a idade que a gente tem”, teoriza Rosa, 47 anos, que começou o Skank aos 25 (e parece não ter envelhecido quase nada desde então). “Disso tenho convicção: o público mais jovem percebe que não estamos tentando ser um deles. Eles sabem que a gente não quer parecer como se tivesse 20 anos a menos. E é um alívio para nós, não tem que ter cacoetes e trejeitos de uma nova geração.”

“Saber envelhecer”, emenda Portugal, “é uma grande virtude”.

“E se a gente está aqui gravando disco, com uma agenda de shows, é sinal de que fomos bem-sucedidos nessa empreitada”, decreta Rosa. “E isso não foi uma coisa planejada, traçada no escritório.”

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