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Stanley Kubrick: os dez filmes favoritos do diretor

Fernanda Talarico Publicado em 26/07/2018, às 21h03 - Atualizado em 27/07/2018, às 13h06

Stanley Kubrick completaria 90 anos nesta quinta, 26 de julho. Autor de grandes clássicos e reconhecido pelas inovações técnicas, diversidade e variedade de temas abordados ao longo da carreira como fotógrafo, diretor, roteirista e produtor, Kubrick é quase uma unanimidade entre os amantes do cinema. Ele é amado pelos que gostam de blockbusters e cultuado pelos cinéfilos fãs de clássicos.

Falar de sua obra é falar de filmes que marcaram época e se tornaram atemporais, como Laranja Mecânica, com sua “ultra-violência”, e 2001: Uma Odisseia no Espaço, com o maior salto temporal já visto na história do cinema. Mas de onde será que Kubrick tirava tanta inspiração?

Em 1963, uma publicação norte-americana chamada Cinema perguntou a Stanley Kubrick quais eram seus dez filmes preferidos e nós os listamos para você.

Por Fernanda Talarico


Os boas-vidas

O italiano Federico Fellini dirigiu a comédia em 1953, onde narra a história de Moraldo, Alberto, Fausto, Leopoldo e Riccardo, um grupo que passa os dias em festas e tentando conquistas mulheres. Todos são sustentados pelos pais e não tem a menor vontade ou intenção de trabalhar. A reviravolta da trama acontece quando Fausto engravida a irmã de Moraldo e é obrigado a casar e encarar as responsabilidades.

Pode se dizer que existe uma comparação com Laranja Mecânica e o filme que entrou para a lista dos dez favoritos de Stanley Kubrick se pensarmos que ambas as histórias acontecem com jovens europeus que não trabalham, são sustentados pelos pais e apenas mudam a rotina quando um fator externo intervém.

Kubrick gostava dos diretores europeus que mostram, através de suas obras, uma visão pessimista e o modo de vida preguiçoso dos que moravam na Europa. Em 1960, em entrevista feita por Robert Emmett Ginna, e publicada apenas em 1999 na Entertainment Weekly, Kubrick afirmou: “Acredito que [Ingmar] Bergman, [Vittorio] De Sica e [Federico] Fellini são os únicos cineastas do mundo que não são apenas oportunistas artísticos. Com isso, quero dizer que eles não apenas sentam e esperam por uma boa história aparecer e depois filmarem. Eles têm um ponto de vista que é expresso repetidas vezes em seus filmes, e eles mesmos escrevem ou têm material original escrito para eles”.


Morangos Silvestres

Ingmar Bergman lançou, em 1957, o filme conta a história de Isak Borg (Victor Sjöström), um professor de medicina, que revisita diversos momentos marcantes do seu passado durante uma viagem de carro até a universidade onde estudou e irá receber uma honraria. Isak está acompanhado da nora, Marianne (Ingrid Thulin) e, durante o caminho, ele acaba relembrando memórias de família e da ex-namorada, Sara. Quanto mais o professor se recorda, mais ele se sente desiludido e decepcionado com o que viveu – percebe que a vida é cheia de culpa e ressentimentos.

Morangos Silvestres é muito aclamado por ser um filme que trata sobre envelhecimento e perdas na vida. Kubrick demonstra nesta escolha uma clara preferência pelo cinema de autor europeu que mantinham o olhar pessimista. Ele colocava Bergman ao lado de Fellini no topo da lista de diretores favoritos, chegando a dizer que eles eram um dos poucos que era necessário assistir à obra inteira.


Cidadão Kane

Dirigido e estrelado por Orson Welles em 1941, o longa se tornou um clássico do cinema e, até hoje, é tido como um dos maiores filmes já feito na história da sétima arte. O longa conta a ascensão de um mito da imprensa norte-americana, Charles Foster Kane. De garoto pobre do interior, a magnata de um império do jornalismo e da publicidade mundial. Ele é claramente inspirado na vida do milionário William Randolph Hearst.

Assim como Stanley Kubrick, Orson Welles, também foi injustiçado pelo Oscar, pois perdeu Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Filme em 1942, ano em que concorreu por Cidadão Kane(O vencedor foi o longa Como Era Verde O Meu Vale). Ele apenas ganhou o prêmio por Melhor Roteiro Original, que dividiu com Herman J. Makiewicz.

A forte personalidade de Orson Welles é um traço que Kubrick sempre admirou, assim como a afronta ao sistema. Algumas escolhas estilísticas e de temas foram repetidos pelo cineasta em Dr. Fantástico.


O Tesouro de Sierra Madre

Filme de 1948 de John Huston, conta a história de Dobbs (Humphrey Bogart) e Curtin (Tim Holt), que saem dos Estados Unidos para tentar a sorte no México, em 1925, mas as coisas acabam não dando muito certo. Howard (Walter Huston), um velho minerador, convence os dois a se juntarem a ele na procura por ouro. Os três não conseguem se entender, encaram problemas por causa da ganância e acabam em ainda mais apuros quando são ameaçados por bandidos.

A temática de roubo também foi usada na cinematografia de Kubrick, assim como o conceito de personagens marginais ao sistema. Fora isso, não há muitas semelhanças entre este longa e o corpo da obra do cineasta.


Luzes da Cidade

Em 1931, Charles Chaplin viveu um vagabundo que se apaixona por uma jovem florista nas que anda pelas ruas da cidade. Ele descobre que ela e sua avó estão sem dinheiro e prestes a serem despejadas de casa. Depois de uma série de fracassos para ajudá-las, ele conhece um milionário bêbado que está disposto a recompensá-lo por ter salvado sua vida.

Kubrick chegou a dizer à revista Sight & Sound: "Se algo está realmente acontecendo na tela, o modo como ele foi filmado não é realmente crucial. Chaplin tinha um estilo cinematográfico tão simples que era quase como I Love Lucy, mas você está sempre tão hipnotizado pelo que está acontecendo, que independe do estilo. Ele freqüentemente usava cenários baratos, iluminação natural e assim por diante, mas fez ótimos filmes. Seus filmes provavelmente durarão mais que os de qualquer outra pessoa."


A Noite

O filme acompanha um dia da vida do casal Giovanni Pontano (Marcello Mastroianni) e Lidia (Jeanne Moreau), casados há 10 anos. Durante uma festa em uma mansão eles tentam disfarçar as angústias de um relacionamento desgastado ocupando o tempo com os demais convidados. O longa foi dirigido pelo italiano Michelangelo Antonioni em 1961.

Neste caso, a visão pessimista das relações burguesas e o traço forte do cinema de autor de Antonioni são características de preferência do Kubrick.


O Guarda

Escrito e estrelado por W.C. Fields, dirigido por Edward F. Cline, o filme é uma comédia de 1940 que conta a história de Egbert Sousé, um homem rabugento e de quem todos adoram tirar vantagem, enquanto o que ele quer é ser deixado em paz e beber em bares. Sem querer, ele tromba com um ladrão que ia assaltar um banco e Egbert acaba frustrando o roubo. Com isso, ele ganha o emprego de segurança do banco e tem que lidar com as figuras mais estranhas.

Com ar de “comédia do absurdo”, O Guarda está próximo do filme Dr. Fantástico, do Kubrick.


Henrique V

Dirigido e estrelado por Laurence Oliver, o filme de 1944 conta a história do rei da Inglaterra que governou entre os anos 1413 até 1422, e se envolveu em um episódio heroico e patriótico: partiu em uma expedição até a França para reivindicar a coroa daquela nação. Só que quando ele chegou a Agingcourt, foi recebido por um vasto exército francês.

Neste caso, é possível fazer um paralelo com o filme Napoleão, que Kubrick acabou engavetando por falta de verba, apesar de, na época, já ter escrito o roteiro e conseguido mais de 17 mil imagens e artefatos da era napoleônica.

Jan Harlan, produtor e ex-cunhado de Kubrick, chegou a dizer em entrevistas que, ao assistir a versão de Henrique V feita por Kenneth Branagh em 1989, ele acabou achando a de Laurence Oliver antiquada, preferindo a de Branagh.


Anjos do Inferno

Dirigido por Howard Hughes, o filme de 1930 conta a história de dois irmãos Monte (Ben Lyon) e Roy Rutledge (James Hall) que deixam a cidade em que vivem para se juntar a aeronáutica quando a Primeira Guerra Mundial começa. Roy, um homem com forte moral, ama Helen (Jean Harlow), mas ela tem um caso com o irmão dele, Monte, um mulherengo. Antes de deixarem a cidade e seguir para a missão deles na Alemanha eles encontram Helen no braço de outro homem.

Jan Harlan, produtor e ex-cunhado de Stanley Kubrick, em entrevista ao British Film Institute comentou que acredita que Anjos do Inferno tenha sido um dos filmes favoritos do Kubrick, mas não se lembra de tê-lo ouvido falar do longa.


Pernas Provocantes

Também conhecido como Roxie Hart, este filme de 1942 foi dirigido por William A. Wellman e estrelado por Ginger Rogers. Ele é uma das primeiras adaptações do que hoje conhecemos pelo musical Chicago, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2003. A história é uma adaptação de uma peça de 1926, escrita por Maurine Dallas Watkins, uma jornalista que encontrou sua inspiração em dois julgamentos que cobriu em Chicago.


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