Wado se finge de alegre para explorar contradições
Alex Antunes Publicado em 08/07/2008, às 15h01
Se dependesse do release divulgado para a imprensa, o quarto disco do catarinense-alagoano Wado, Terceiro Mundo Festivo - Brazilian Eletro/ Funk/ Disco/ Reggaeton/Afoxé, seria um "compêndio de ritmos animados e composições solares". Nada disso. Apesar dos enfeitinhos eletrônicos e ênfases percussivas, e do quase sumiço dos violões nos arranjos (mas tem pianos, cellos e flautas), este é mais um álbum de puro... Wado. Quer dizer, um acréscimo ao rico repertório de canções com aquele toque de melancolia, uma profundidade e um encanto característicos de um dos grandes compositores brasileiros que surgiram na esquina da MPB com o indie rock. "Nós, artistas de classe média, nunca conseguiríamos fazer música festiva com a competência dos caras periféricos", confessa o músico de 31 anos.
Na verdade, o disco é o balanço de uma fase esquisita, inaugurada quando Wado fraturou um osso da mão, em uma queda. Voltou para Maceió, para ser operado, depois de um bom período entre São Paulo e Rio de Janeiro, onde estava estabelecido. Para completar, rompeu com suas bandas, Rea-lismo Fantástico e Fino Coletivo. Talvez por isso ele tenha criado esse conceito de "felicidade periférica" (que articula com o título do álbum anterior, A Farsa do Samba Nublado, de 2004, uma espécie de enigma ou paradoxo). "Eu mesmo não sei o que é, mas acho diferente do último", especula sobre o disco. "Aquele era meu embate com São Paulo, com o céu nublado, o ambiente urbano."
"Este novo disco tem umas nuances, é tecnicamente muito bem gravado, acima dos outros", complementa Wado. O pseudofunk "Teta" é a demonstração perfeita dessa "farsa do som alegre": apesar das programações safadas e da letra quase pornô, é pura inquietação existencial. O samba "Fortalece Aí" estabelece uma improvável ponte filosófica entre Martinho da Vila e Walter Franco. Antítese da felicidade fake das micaretas, Terceiro Mundo tem uma certa qualidade paradoxal da MPB do início dos anos 70 - antes que o país se convertesse em clichê.
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