<b>Registro Amplo</b><br> Em 2016, Julian Lennon passou dez dias viajando pela Ásia: “Comprei uma câmera e fotografei tudo que poderia ter fotografado” - Julian Lennon

Um Dia na Vida

Com duas exposições fotográficas em São Paulo, Julian Lennon retrata ícones do rock e cotidiano de habitantes das margens do Mar da China Meridional

Lucas Brêda Publicado em 22/05/2017, às 11h31 - Atualizado em 03/07/2017, às 12h50

Em 2016, um ano após a morte de Cynthia Powell, primeira esposa de John Lennon, o filho do casal, Julian Lennon, se viu em um momento delicado. “O convite para essa viagem de barco veio do nada”, conta o primogênito do vocalista e guitarrista dos Beatles, falando da experiência que originou a exposição fotográfica Cycle, atualmente em exibição na Leica Gallery, em São Paulo. “Foi o primeiro ano da morte da minha mãe e meu aniversário [8 de abril] na mesma semana. E a minha ideia foi: não vou ficar aqui sendo infeliz. Vou me levantar e fazer algo que nunca tenha feito antes.” Julian Lennon ficou cerca de dez dias visitando localidades às margens do Mar da China Meridional, passando por países como Vietnã, Malásia, Bali e Bornéu, e clicou o dia a dia dos habitantes da região. Julian, que há anos também atua como cantor, compositor e produtor – entre outras atividades –, veio ao Brasil para estrear a exposição, em evento que teve a presença da modelo Kate Moss. Cycle fica em São Paulo até o dia 26 de junho, mas a Leica Gallery também conta com outra mostra do fotógrafo, a Rock’n’Roll Suite, que passou pelos Estados Unidos em 2013 e entra para o acervo permanente da galeria brasileira. Na coleção, ele expõe ícones do rock, em trabalho que aproxima a experiência dele como músico com a visão por trás da câmera. Cycle é, contudo, o trabalho em que Julian se mostra mais autoral, tanto na escolha do que fotografar quanto no processo de edição, calcado no tratamento em preto e branco e em fortes contrastes.

“Fiquei até meio louco fotografando tudo, porque até então eu não sabia do que a exposição se trataria”, revela. “E foi só na edição – eu tinha em torno de 5.700 fotos, durante uns três meses, que eu comecei a perceber as coisas, que elas estavam conectadas.” O fotógrafo ficou fascinado com a simplicidade da vida das pessoas que encontrou pelo caminho (ficaram impressas na memória do artista cenas com gente carregando objetos como geladeiras nas costas e as roupas pouco convencionais para o olhar ocidental). “Pensei: ‘O que vou fazer?’ Foi aí que veio a ideia de ciclo”, remonta ele, atentando para o fato de que a parcela da exposição presente em São Paulo não dá a sensação completa de “ciclo” da proposta inicial. A versão comprimida que está no Brasil funciona como um bom panorama do olhar de Julian, mas, ele frisa, “a exposição original é exatamente uma jornada completa pela porção sul do mar chinês”

Trabalho Discreto

Rock’n’Roll Suite, outra mostra de Julian Lennon, destaca ícones do rock com abordagem espontânea

“Só aconteceu de eu estar no lugar certo na hora certa”, diz Julian Lennon, sucinto, ao comentar a segunda exposição dele na paulistana Leica Gallery, batizada de Rock’n’Roll Suite. Algumas fotos, como um psicodélico retrato de Alice Cooper e uma imagem de Billy Gibbons, do ZZ Top – com a proeminente barba branca sobressaindo diante do fundo escuro –, foram feitas em um evento do estilista John Varvatos, cuja loja hoje ocupa o extinto CBGBs, em Nova York. “Eu estava começando na fotografia, não sabia o que estava fazendo e ainda não sei”, confessa. Já um retrato de Bono, sentado e reflexivo, é “mais importante” para Julian. “Eu estava em uma casa na qual o U2 decidiu gravar. Morava ali perto e [o guitarrista] The Edge me disse: ‘Sei que você quer tirar umas fotos’”, ele recorda. “Nessas circunstâncias eu tento ser uma mosca na parede. Não quero ser visto de maneira alguma. E também não quero ser a pessoa que mostra um ‘lado negro’ das situações. Tem a ver com contemplação, mais do que qualquer coisa.”

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