Um Homem Sério

Responsável por renovar o humor da maior emissora do país, Bruno Mazzeo questiona seu papel de comediante, reclama das ciladas virtuais e diz que não acha graça alguma em ser uma celebridade

André Rodrigues

Publicado em 17/05/2011, às 10h24 - Atualizado em 16/08/2013, às 19h24
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<b>PENSATIVO</b> "Não sei se me considero humorista", reflete Mazzeo - Cisco Vasques

Bruno Mazzeo não está sorrindo. Ele puxa a cadeira e se senta. É hora do almoço em um restaurante ao lado da casa dele, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro. Em uma coluna, vejo pendurada a gravura de um palhaço triste. Ao nosso lado, pessoas riem, falam alto, tomam chope e caipivodca. Ele parece não ligar para o burburinho. Está compenetrado na próxima fala. Mazzeo mede as palavras como se elas tivessem uma ordem imutável para sair. Não gosta de atropelar o pensamento. "Uma coisa que eu nunca falei...", ele solta - e mergulha em uma interrupção dramática, que se esperaria de um ator inglês em papel trágico. "Não sei se me considero humorista. Nem sei se quero. Eu ando pensando nisso ultimamente." E completa, com alívio: "Claro, minha história é de humor. Cem por cento até hoje. Mas eu me considero um artista. Sou mais artista".

Essa angústia acomete o humorista mais bem-sucedido de sua geração. Bruno Mazzeo de Oliveira Paula, 33 anos, criando piadas profissionalmente desde os 13, emplacou sucessos de crítica e público na TV, nos cinemas e no teatro. Em breve começa a gravar a segunda temporada de Junto & Misturado, série cômica encomendada pela direção da Rede Globo para ser um TV Pirata (programa de humor revolucionário da década de 80 que notabilizou atores e autores) para a turma 2.0. Já prepara a continuação de Muita Calma Nessa Hora, filme produzido e roteirizado por ele, que atingiu a marca de mais de 1,5 milhão de espectadores, sendo a quarta maior bilheteria do cinema brasileiro em 2010 (somente atrás de Tropa de Elite 2 e dos filmes sobre Chico Xavier). Parou de fazer eventos, pois hoje consegue uma boa renda sendo garoto-propaganda de uma das maiores empresas de telecomunicações do país. E quer peitar nos cinemas o último episódio da série do bruxo da escritora J.K. Rowling: na primeira quinzena de julho, mesmo período da estreia de Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, Mazzeo lançará seu projeto mais ousado: o longa-metragem Cilada.com, roteirizado, produzido e estrelado por ele - e baseado na série que comandou por seis temporadas no canal de TV a cabo Multishow e em alguns miniepisódios no Fantástico.

"Eu boto na ficha do hotel: artista. Acho que a coisa do artista é tão ampla, que se rotular igual prateleira...", ele reforça sua atual necessidade de sair da zona de conforto e abraçar outros estilos e trajetórias justamente em sua melhor fase como humorista. "Tava organizando músicas no iPod e fiquei assim... O Otto... Ele não é MPB, mas é MPB. Ele não é rock, mas tem rock. Nando Reis é o quê? Pop? Mas ele faz balada, bossa nova, rock pesado. Lenine...", ele divaga. As figuras musicais não aparecem à toa. Para explicar conceitos e vontades, Mazzeo mira em vários exemplos e estilos. Na música, cita de Karina Buhr a John Coltrane (que usa como trilha sonora para escrever piadas). Nos cinemas, tem especial apreço pelos filmes do Woody Allen (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é o favorito dele). Na literatura, acabou de começar a ler a autobiografia de Keith Richards, Vida. No teatro, gostaria de fazer algo de Neil LaBute, polêmico dramaturgo e cineasta norte-americano. É, como costuma brincar, seu projeto "quero ser Selton Mello", fazendo uma referência ao amigo e ator conhecido no meio artístico por somente realizar o que quer e quando quer. "Ser vilão do Gilberto Braga... Isto é um sonho", Mazzeo fala, sem nenhuma ironia. Talvez ainda seja eco de sua participação em Beleza Pura (2008), novela de Andrea Maltarolli em que interpretou José Henrique, um tremendo trambiqueiro. "Foi uma experiência incrível, fazer um vilão escroto", diz.

Recentemente, Bruno Mazzeo teve uma radical mudança de status - e de rótulos - na mídia. Passou de "o filho do Chico Anysio e da ex-modelo e atriz Alcione Mazzeo" para um humorista de respeito. As reportagens, que antes traziam como título os clichês "DNA do Humor", "Filho de Peixe, Peixinho É", agora tratam Bruno como gente grande. Ele recebeu o kit celebridade completo, com os bônus "paparazzi, ironia e boatos". Nos últimos meses começou a pensar mais profundamente como essa transformação afeta sua vida. "É possível que fazer sucesso mude alguma coisa. Não na minha personalidade. Os meus amigos são os mesmos, os lugares a que eu vou são os mesmos. Mas hoje eu vou a uma festa e as pessoas olham. Antes não olhavam", ele reflete. Na imprensa, muitas vezes Bruno é retratado como antipático. Seu nome aparece envolvido em intrigas com outros comediantes e, como não costuma sair bancando o palhaço de ocasião, ganhou a fama de mal-humorado. "Eu não sou nem um pouco mal-humorado. Sou pouco tolerante com algumas coisas. Eu posso estar no trânsito e ficar puto. Normal. É que sou sério. O [Marcelo] Adnet é um cara como eu. Outro dia fiquei duas horas no telefone com ele e a gente riu só uma vez", lembra sobre o amigo, humorista prodígio que mudou a cara da MTV - e que Mazzeo diz sempre tentar levar para a Globo.

Nesta nova fase da carreira, Bruno Mazzeo tomou algumas providências para se sentir mais leve. Ele está em recuperação. Viciado no Twitter, deixou de usar freneticamente a ferramenta social e abandonou por um tempo seus mais de 600 mil seguidores. "Eu acordava e antes de ler jornal já tuitava 'bom dia'. Era compulsivo. Eu escrevia e lia o que comentavam. Comecei a perceber que eu não estava olhando a minha matéria-prima, que é o papo, o mundo em volta. Estava no táxi e não conversava, não olhava a rua", ele diz, amargando o tempo perdido e detalhando a experiência com o Twitter como quem se refere a drogas ou álcool: "Eu entrei porque amigos me convenceram. E fui me viciando. Achava divertido, mas aí você cria dependência. Para mim virou uma coisa compulsiva", afirma, ficando tão sério que me fez querer assinar um cheque ali mesmo e contribuir para alguma sociedade dos "Tuiteiros Anônimos". Mas nem sugiro a brincadeira, pois Bruno parece ter atingido o fundo do poço. "Um dia eu discuti com um cara. Ele me xingou e falei: 'Vou ver a cara dele'. Quando cliquei, era um menino de 12 anos. Pô, eu discuti com alguém de 12 anos de idade? Coisa louca isso. Eu sempre pergunto: onde os recalcados descontavam a raivinha antes da internet?"

Mazzeo fica mais relaxado quando fala sobre o lançamento do filme Cilada.com, dirigido por José Alvarenga e candidato a ser um dos blockbusters nacionais do ano. Mas o tema da conversa continua sendo as roubadas da internet. No filme, um vídeo com imagens comprometedoras do personagem principal, também chamado Bruno (interpretado por ele mesmo), cai na rede e o torna famoso por um motivo pouco engrandecedor. "É comédia romântica. Tem gente que viu e chorou. É o que os caras tão fazendo lá fora. A gente se baseou nessa turma que fez o Se Beber Não Case, Um Parto de Viagem, os filmes dos irmãos Farrelly... Fazem uma comédia um pouco sem limite, mas humana."

Bruno sorri, mas não gargalha. Com o avançar do papo, ele vai parecendo mais atencioso e levemente bem-humorado. Muito longe do personagem que o notabilizou em Cilada, um sujeito sempre prestes a entrar em uma raivosa erupção de xingamentos contra a mulher, os amigos, os parentes, os atendentes, os taxistas... E distante da celebridade birrenta que a imprensa construiu a partir de uma fotografia. Em fevereiro, ao sair de um restaurante na companhia da atriz Juliana Didone, ele foi surpreendido por um paparazzo e fez um gesto considerado obsceno - mostrou o dedo médio para a câmera. Mas até o dedo tinha algo de tímido e educado, que parecia incomodar mais o agressor do que a vítima. "Eu acho muito cafona a indústria das celebridades. Acho que estão ficando 'ironiquinhos' no texto, na legenda. Quando eu fiz assim para o paparazzo", ele repete a ação, "não vou dizer que me arrependo, mas preferia não ter feito. Começaram a escrever como se eu fosse um escroto." Depois que se separou (há dois anos e meio) de Renata Castro Barbosa, atriz e companheira de Junto & Misturado - com quem tem um filho, João, de 5 anos -, ele foi carimbado como um Casanova do Arpoador.

Ao falar sobre alguns xingamentos que surgiram depois da suposta agressão visual ao paparazzo, ele se lembra dos ataques virulentos que sofreu no Twitter. As frases de 140 caracteres não somente censuravam seu dedo médio em riste, mas criticavam os programas, opiniões e gostos dele. "Eu tenho problema com burrice, ignorância. Agressividade gratuita me incomoda. Um dos motivos de eu sair do Twitter é a agressividade gratuita. Na época do Luan Santana... Putz. Impossível não te bater de algum jeito", ele até perde o ritmo ao se referir a mais um de seus entreveros, o cantor Luan Santana e seus "talifãs" (apelido dado por Bruno numa referência ao Talibã, grupo político que atua principalmente no Afeganistão). Em abril do ano passado, Mazzeo escreveu que a sensação sertaneja era a versão vesga do ator Wagner Moura. "Aquilo do Luan foi uma piada. Eu não sabia: não alimente os animais. E eu alimentei. Se eu não tivesse falado nada... Mas não me arrependo." A frase não foi apenas uma marolinha para os fãs do sertanejo. Vieram pedidos de retratação, imolação e todo tipo de ofensa. "Era bem baixo astral. 'Tomara que você morra', 'seu pai não vai morrer, não?'", ele toma fôlego ao relembrar os insultos e repete a última frase pausadamente, como se procurasse entender os motivos que levariam alguém a escrever uma coisa assim. "Seu pai não vai morrer, não?"

Por falar em pai: Bruno é um dos oito filhos de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o Chico Anysio. A carreira de roteirista começou aos 13 anos, no humorístico A Escolinha do Professor Raimundo, comandado por Chico ("Claro que se eu não fosse filho dele, não teria entrado com aquela idade na Globo; ou nem entrado", ressalta). Com o fim da Escolinha, passou para a equipe de redatores do Chico Total. Contratado pela Globo, seguiu carreira por outros programas - Sai de Baixo, Vida ao Vivo Show, A Diarista, entre outros. A última vez que trabalhou com o pai foi em O Belo e as Feras, em 1999. Suas lembranças de infância são nostálgicas, recheadas de imagens afetivas, sem cenas de pastelão. "Eu era pequeno e freqüentava as gravações na [companhia cinematográfica] Cinédia. O Chico Anysio Show era lá. Eu ficava vendo aquilo ali, produzia em casa programas em VHS. Claro, bebendo na fonte daquilo que eu via, que era Chico Anysio Show, Viva o Gordo e Os Trapalhões." Incentivado pela figura paterna, Mazzeo ganhou uma máquina de escrever Olivetti verde portátil. "Aprendi muito com meu pai, inclusive truques. Editar um texto na mão", pega uma caneta e começa a desenhar alguns diagramas no papel da mesa. Mostra como as piadas são formadas e qual é a estrutura que leva ao riso.

Apesar de descontraído - veste camiseta, chinelo, bermuda e "sunga por baixo" -, Mazzeo mantém certa formalidade. Seria engraçado, mas totalmente condizente ao personagem, se ele aparecesse de fraque e cartola. Tudo o que diz sai revestido com uma capa de seriedade e maturidade. "As pessoas não têm essa noção. Às vezes falam: 'Você é engraçado pra caralho, vai lá e fala umas merdas'. Não é isso. É trabalho. Construção de piada", diz, agora com uma ponta de orgulho. Formado em jornalismo, nunca exerceu a profissão. "Eu faço humor, mas poderia estar fazendo uma mesa, entrevistando alguém, dirigindo um táxi. É muito trabalho para pensar nas cenas. Por isso não sou de ficar fazendo piadinha, porque para mim é trabalho. Eu tenho que sentar e pensar: agora tenho que fazer um texto engraçado."

Além do Cilada.com e da série para a Globo, ele investe cada vez mais em seu lado produtor (em uma parceria com Augusto Casé). Planeja rodar no segundo semestre o longa E Aí, Comeu? , baseado em peça de Marcelo Rubens Paiva. Ainda não sabe quando, mas precisa juntar os textos de seu finado blog - que teve durante dois anos - e lançar o livro Os Textos Que Escrevi de Graça. No teatro, lugar em que conseguiu boa bilheteria e crítica com a peça Enfim, Nós, Mazzeo também quer levar a cabo uma comédia em que contracene com Lúcio Mauro Filho. "Eu sou muito positivo. Não falo 'se', eu falo 'quando'. Quando eu ganhar o Oscar, eu vou agradecer em português. Entendeu? Se está lá, é possível. Não que eu vá trabalhar pra isso ou me frustrar, mas é o topo aonde poderia chegar: um artista ganhar o Oscar." E ele sonha com tanta vontade que é até possível imaginar a estatueta dourada enfeitando a mesa do almoço.

Ao contrário de seus pares, Bruno Mazzeo exclui de suas ambições fazer comédia stand-up. "Não me atrai nem como artista, nem como público", diz. "Porque na minha cabeça eu teria feito stand-up há 20 anos. Hoje em dia eu tenho mais o que fazer. Fazer stand-up seria um retrocesso." No Brasil, a comédia em pé sofreu um boom com a presença de nomes desse formato na TV. Nos últimos anos, o país parece ter formado mais comediante de stand-up do que médicos ou engenheiros. "Stand-up ganhou um valor no Brasil que só aqui ele tem. No mundo inteiro é uma coisa para iniciante. O cara não tem onde mostrar o trabalho dele, aí ele vai no bar, mostra o trabalho, vira um seriado de TV e larga o stand-up", explica Mazzeo, ao se referir aos astros de Hollywood e da TV que começaram a

carreira se apresentando em pequenos palcos, como Woody Allen, Eddie Murphy, Jerry Seinfeld - e a fila nunca termina. Seinfeld documentou no filme Bastidores da Comédia a volta dele aos palcos para fazer stand-up após o fim da série de TV que levou seu nome. O longa mostra comediantes como se fossem neurocirurgiões ou cientistas da Nasa. Encarar uma hora contando causos engraçados não é fácil. Juntar um material inédito, exclusivo e cheio de risos exige tempo, experiência e grande perspicácia. Ao lembrarmos do filme, Mazzeo então recua. Talvez tenha sido duro demais com os colegas. Ou simplesmente percebe que suas palavras podem adquirir uma importância que ele não enxerga. "Ao mesmo tempo acho uma puta coragem o cara chegar ali na primeira pessoa e mandar ver. Não é que eu acho ruim, nem desvalorizo. E muita gente boa faz. Um que eu adoro é o Oscar Filho... eu vi uma vez. Marcelo Mansfield... Uma coisa quase inglesa", ele completa, baixando o tom.

Bruno Mazzeo perde a piada, mas não perde o amigo. "Se um grande amigo meu se envolver num escândalo que prejudique o casamento dele, eu não vou fazer piada. Finjo que não vi." Outros temas também são tabus. "Tenho problema para fazer humor com alguns fatos. Essa tragédia na região serrana [do Rio] foi uma coisa que comoveu o país. Não cabia uma piada ali. Pra mim. Mas não critico quem faça." A conversa naturalmente se dirige ao tema do politicamente correto. "Isso é muito chato. Não é uma censura. Mas tem que aturar a encheção de saco", acredita. Para ele, não apenas a produção ou as emissoras, mas os próprios artistas também carregam alguma culpa por a TV brasileira estar um tanto careta quando o assunto é comédia. Há quem ria de si mesmo e acabe ganhando uma exposição - ainda que meio torta - gratuita na mídia. O cantor e compositor Jorge Vercilo foi alvo de chacota em quase 50% dos episódios da série Cilada. Mesmo assim, não ficou ofendido e topou participar do programa. Mas nem todo mundo vê graça em ser objeto de piada.

"Eu convidei o Daniel Azulay para fazer uma participação no Cilada", Mazzeo conta. "Ele não aceitou e ficou realmente ofendido. E chamar ele era só uma chance de nego falar 'caralho, o Daniel Azulay!'" Azulay é desenhista e populava o imaginário das crianças nos anos 80 como agora fazem Ben 10 ou Hannah Montana. "Era um papel para ser animador de uma festa infantil", conta Mazzeo. "Eu liguei, fiz o convite e ele falou 'Isso é uma coisa contra a qual luto sempre. Não sou animador de festa infantil!' Ele se leva a sério!"

No teto do banheiro do restaurante há uma foto de Larry David, criador de Curb Your Enthusiasm e cocriador de Seinfeld e um dos ídolos de Bruno Mazzeo. Quando lhe transmito essa informação, ele parece espantado - é assíduo frequentador do lugar e nunca havia reparado nisso. Minutos depois, quando retorna do sanitário, faz questão de avisar que percebeu a imagem. Além de não deixar escapar nenhuma observação, ele parece sempre atento à janela, verificando o movimento do lado de fora. Ele chama a atenção quando vê alguém conhecido na rua, pede para voltarmos a determinado assunto e gosta de estar bem informado. Apesar de mencionar que não tem o hábito de ver TV ("Mais por falta de tempo... tô solteiro, desço pra beber um chope"), ele cita com desenvoltura os shows de humor e filmes contemporâneos internacionais. Na seara nacional, elogia A Grande Família e, sempre que menciona o nome de Pedro Cardoso (o Agostinho do seriado), percebe-se um olhar de idolatria quase infantil. Também derrama bons adjetivos sobre a hoje finada série Aline. Na época da entrevista, o programa ainda frequentava as noites de quinta da Globo e ganhou cumprimentos justamente por ser uma ousada mistura de texto e formato. Colunistas de TV afirmaram depois que o cancelamento da série aconteceu por causa de cenas consideradas imorais (a protagonista dividia a cama com dois homens); outros mencionaram que foi apenas mais um defunto da guerra pela audiência.

"Dar audiência com programa sensacionalista é triste para o país", lamenta Mazzeo. "O Junto & Misturado perdeu duas vezes para A Fazenda. Sinto muito. Não tem o que fazer. O cara preferiu ver o Sérgio Mallandro brigando com a Mulher Melancia. Se você preferir ver o outro, vai ver o outro." Mazzeo confessa que quase abandonou a carreira por causa da popularidade do programa de Carlos Massa, o Ratinho, em 1997. "Eu já pensei em desistir. Crise braba. Na época em que o Ratinho estourou, tudo o que eu apresentava, [diretores da Globo] barravam. Porque eles não podiam correr riscos. Então pensei em largar tudo e foda-se. Imaginava ir para Nova York estudar cinema." Ele lembra os talentos que ficaram por aí, vitimados por outros Ratinhos. "Um dos meus atores preferidos é o Kiko Mascarenhas. É um gênio, e um cara que ninguém conhece. E quantos são assim? É uma profissão que exige sorte, talento, estrela", enumera. A sua porção roteirista não ganha melhor sorte. Para ele, o autor é pouco valorizado no Brasil ("tirando o de novela"), o que faz o futuro sempre parecer ameaçador. "Eu tenho uma segurança porque sou contratado da Globo. Mas a maioria não tem. E se eu sair da Globo? Vou trabalhar onde? Não temos um mercado. Vou ser um legendário? Ou [fazer] o programa do Tom [Cavalcante]? Ou ter um quadro no Pânico?"

Mas, se nada der certo para Bruno Mazzeo e sua carreira artística, ainda resta a presidência do Vasco da Gama. "Quando eu tiver cinquentão, se tiver numa condição de não precisar trabalhar, vou ser presidente do Vasco." Finalmente, surge o único momento em que Bruno se exalta, feito torcedor que vê o campeonato escapar no último segundo por um erro grotesco do juiz. "Eu me desencantei um pouco com o futebol, com os ídolos", ele fala, com desgosto. Sua paixão pelo time de São Januário é tamanha que empresta sua imagem para as campanhas dos sócios do clube. Mas a gota d'água de sua desilusão aconteceu por um episódio envolvendo um brinquedo. "Olha por que eu fiquei puto..." O filho de Mazzeo, também vascaíno, pediu um boneco de brinquedo do jogador Carlos Alberto no último Natal. O paizão foi atrás do presente e o departamento de marke ting do clube conseguiu a miniatura. Felicidade com tempo determinado. No início de 2011, Carlos Alberto foi acusado de fazer corpo mole em jogos importantes apenas para cavar sua transferência para o Grêmio. "Ele é o herói de uma criança. Isso me tirou do sério. Que babaca!" Mazzeo acredita que o futebol se mercantilizou. "Serve para todos eles. Ronaldinho, Kaká... Tão cagando. Futebol me irritou um pouco com isso. Peguei bode." Se Mazzeo não conseguiu livrar o filho dos pontapés morais de Carlos Alberto, ele foi capaz de poupá-lo dos versos sertanejos de sua "vítima" do Twitter. "Meu filho pediu um DVD do Luan Santana", ele relembra a cilada, revelando como se saiu dela: "Falei que não achei e dei um do Tim Maia." Sem drama ou angústias, tomou uma decisão importante: "Eu menti, porra! Tô formando um ser humano".

Cerca de um mês depois daquele primeiro encontro, Bruno Mazzeo ainda quer entender melhor o que está acontecendo. Na cobertura de um prédio antigo, no centro de São Paulo, se prepara para a sessão de fotos em que encarnará um palhaço triste. O céu nublado e o clima frio conspiram para que ele incorpore e fale sobre seu momento introspectivo. Na primeira quinzena de março, seu nome apareceu envolvido em supostas brigas com diversos humoristas e um paparazzo. Além disso, fotos tentaram comprovar que ele se divertiu muito no Carnaval. Sua vida foi escancarada de uma maneira que nunca imaginou ("Quando eu vejo essas matérias, eu não me enxergo ali; é um outro cara"). Todo esse turbilhão fez com que tomasse mais uma providência - talvez a mais radical até aqui - e puxasse o freio.

"Eu comecei a perceber que estava levando a vida meio atropelando, e resolvi dar uma respirada. Tô voltando para a terapia. Entrei nesse momento graças ao Carnaval, às coisas que aconteceram, essas exposições desnecessárias, volume de trabalho, meu filho, ufa...", suspira, já dentro de um táxi a caminho do aeroporto. Em uma das orelhas, ainda carrega a maquiagem branca de seu mais recente personagem.

"Eu estou discutindo relação comigo mesmo", ele olha pela janela e não encontra conhecidos, apenas carros. Hoje, procura compreender qual caminho seguir. Está com uma expressão grave, mas parece aliviado por ter encontrado algumas respostas. "Sabe aquela brincadeira de casar ou comprar uma bicicleta? Então... Eu comprei uma bicicleta." Ele ainda não sabe como será esse novo Mazzeo, mas crê que tudo acabará bem. E, no final da história, para não cair na amargura, o homem sério pode se refugiar no humor. "Ainda bem que boto minhas crises, minhas neuroses, em humor. Em algum momento, vou transformar tudo em humor. Porque se fosse transformar em música, seria um bolero de quinta." Bruno Mazzeo agora está gargalhando.

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